O racismo estrutural e as faces do fascismo

No último dia 23, o ex-Deputado e ex-Coordenador da Campanha do atual Presidente da República, Roberto Jefferson, disparou 50 tiros de fuzil e lançou duas granadas contra policiais federais que o foram reconduzir à prisão em regime fechado porque ele quebrou o acordo judicial que o permitia cumprir a prisão em casa em razão de adoecimento. No episódio, uma policial foi ferida a bala e outra pessoa por estilhaços de vidro. Apesar disso, não apenas a polícia federal não disparou uma única bala contra o meliante terrorista, como recuou e foi preciso a intervenção do próprio Ministro da Justiça, a mando o Presidente da República, quem intermediou a volta do bandido à prisão.

Ao atentar contra a vida dos policiais e ao oferecer como mártir dos fascistas, o terrorista brasileiro buscava, imediatamente, deslocar a atenção das ações que estão sendo preparadas pela equipe do atual governo para acabar com a correção do Salário Mínimo e das Aposentadorias. Mas não era apenas isso. Ele inaugurava um novo patamar na violência fascista e de suas narrativas. Convocava a população a seguir o seu exemplo e pegar em armas para exterminar seus adversários, fossem eles as forças policiais ou militantes dos partidos de oposição.

O episódio, além de demonstrar claramente a extrema violência a que os apoiadores do atual Presidente, insuflados pelo próprio chefe da Executivo, estão submetendo diuturnamente a população brasileira, chamou a atenção por expor, também de forma muito clara, o racismo estrutural e, logo, institucional que impera no Brasil. Não foram poucos aqueles e aquelas que, logo após o episódio, colocaram o dedo na ferida e perguntaram: “já imaginaram o que teria feito a polícia se o Roberto Jefferson fosse um homem negro, da periferia, sobre o qual recaísse a mínima suspeita de manter um arsenal em casa?”

A história recente de extermínio da população negra pelos aparatos de segurança e pelas milícias privadas é eloquente em demonstrar quais sãos os alvos da violência no Brasil. Sabemos que isso não acontece apenas na atualidade. Pelos menos desde 1500, a ocupação destes territórios pelos brancos europeus têm significado, sistematicamente, o extermínio do outro, extermínio este que, como sabemos, virou política de Estado em muitos momentos de nossa história e, infelizmente, nos últimos 4 anos.

No entanto, há outros elementos nesse episódio que precisam mobilizar nossa atenção. Um deles é o fato de Roberto Jefferson, reconhecidamente um membro do aparato miliciano do Presidente da República, invocar a posição de mártir cristão, patriota e das famílias de bem em sua defesa de atos terroristas. Estamos aqui, pois, muito próximos de outros fundamentalistas que, ao redor do mundo, invocam a Deus, a família e a pátria como justificativas para impor o terror a seus próprios compatriotas e àqueles que, no resto do mundo, não concordam com suas ideias.

Na história da República, nunca estivemos tão perto do perigo de nos transformarmos numa teocracia cristão governada pelos senhores da morte. Estes estão utilizando, como sempre utilizaram, todos os subterfúgios para ganhar o apoio da população para seus projetos de destruição de nossos melhores sonhos, de nossas esperanças, de nossas vidas, enfim. Muito mais do que uma eleição, o que está em jogo é a própria possibilidade de termos ou não novas eleições.

O fascismo escancarou sua forma e sua fome. E ele tem a forma monstruosa das piores características do ser humano e alimenta de nossas liberdades, de nossos anseios por igualdade e de tudo o mais de belo, de bom e de justo produzido pela humanidade. Evitar a sua vitória é imperativo, e para isso somos convocados!


Imagem de destaque: Brasil de Fato

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