Marcelo Silva de Souza Ribeiro
Atualmente, nós brasileiros, estamos sendo assolapados por uma série de acontecimentos que, no mínimo, causam perplexidade, temor e tremor. Embora ainda identifique sentido na classificação entre a esquerda e a direita política, os nossos atores nacionais fazem uma lambança. Assim, por exemplo, o PT, que tinha como uma de suas bandeiras a ética, está sendo deveras maculado por causa de inúmeros episódios e denúncias de corrupção. Por outro lado, os partidos de direita e ou de centro se dividem entre apoiar ou não o processo de impeachment da presidenta Dilma, sendo muitos deles, alvos de graves denúncias.
Independentemente dos (des)caminhos que a política venha tomar em breve, o cenário é preocupante, pois mantendo o governo ou não, se recompondo ou não, o que se anuncia (e já em andamento) é um esvaziamento da credibilidade institucional, sobretudo em relação aos poderes executivo e legislativo. Sobra o poder judiciário, que, para muitos, excede em suas ações. Estaríamos no prelúdio de uma ditadura do judiciário?
Um outro fenômeno registrado em manifestações públicas, em redes de TVs e em entrevistas é a ascensão de expressões conservadoras que, em nome de Deus, da família e de valores essencialistas, propõe uma reforma social, muitas vezes por via da força e articulada com os interesses do grande capital, do neoliberalismo. Seria, portanto, uma nova edição do fascismo (não mais apegado aos interesses nacionais, mas de uma elite nacional).
Sobre esse cenário, pelo menos de modo semelhante, Hannah Arendt, filósofa judia alemã, na obra The Origins of Totalitarism, aponta que o isolamento e o desenraizamento seriam terrenos férteis para a emergência de modelos políticos totalitários. Dessa forma, a falta de perspectivas que estamos vivendo e a perda de credibilidade institucional (sobretudo dos poderes executivo e legislativo) aumenta a necessidade da população forjar um sentido social maior. Porém, aí pode estar também um perigo, pois justamente as forças conservadoras (de viés totalitário) têm se aproveitado e capitaneado espaços.
Ainda não instalada e totalmente manifestada, essas forças, aqui consideradas “proto-fascistas do século XXI” parecem avançar (não só de agora), inclusive nos espaços escolares à medida que se constata, só a título de alguns exemplos, a deslaicização das escolas públicas, a militarização escolar como modelo considerado exitoso, a redução da maior idade, a privatização da escolas públicas (via terceirização dos gerenciamentos) a perda de direitos trabalhistas (com o aumento de prestação de serviços contratados) e o esvaziamento sindical das representações coletivas.
O que pode a educação, pelo menos aquela de tradição democrática, aquela dos signatários do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, destacando aí Anísio Teixeira ? Onde está a nossa tradição freiniana? O que pode a educação frente ao possível proto-fascismo do século XXI ?