O papel do coordenador pedagógico no contexto escolar: implicações da sobrecarga de trabalho e dos desvios de função
No contexto atual, um dos entraves para o desempenho qualitativo das atividades realizadas pelo coordenador pedagógico no âmbito escolar está diretamente relacionado à sobrecarga de trabalho e desvios de função que levam a uma atuação desordenada, ansiosa, imediatista e desfocada da real atribuição que lhe cabe.
Compreende-se que o papel do coordenador pedagógico, na rotina escolar e nos processos de ensino-aprendizagem, tem como foco a mediação na construção de ações coletivas, seja na busca da aplicação prática do Projeto Político Pedagógico (PPP), seja na reflexão de ações que visem à superação de situações problemas do contexto da escola e, sobretudo, na construção de ações integradoras da equipe escolar. Ele também desempenha o papel de articulador, oferecendo condições para que os professores trabalhem coletivamente as propostas curriculares e auxiliando no planejamento de estratégias mais adequadas à realidade específica dos alunos, de modo que o processo ensino-aprendizagem seja favorecido.
O trabalho do pedagogo se dá na interlocução com as demais pessoas e setores, cabendo-lhe envolver-se com a elaboração e/ou reestruturação permanente de documentos que registrem e organizem o fazer pedagógico, pois a garantia de trabalho mais qualificado ocorre, também, por meio de um bom planejamento. Nesse sentido, o coordenador é agente de transformação no cotidiano escolar, responsável pela mediação de um trabalho planejado e colaborativo, onde os membros de um grupo, ao trabalharem juntos, se apoiando, têm como meta principal atingir objetivos comuns negociados pelo coletivo.
Contudo, é comum encontrar o coordenador pedagógico exercendo atividades que não lhe cabem, pois vem sendo visto como a pessoa designada para “apagar incêndios” de toda espécie, fiscalizando professores, repreendendo comportamentos indisciplinados, recolhendo alunos pelos corredores, controlando a merenda, tapando buracos de professores ausentes, funcionando como quebra-galhos do diretor, entre outros. Essas atividades geram desconforto, desgaste e queixas que estão muito presentes nos relatos dos professores das escolas públicas da Grande Vitória/ES. Os sentimentos de indignação e frustração permeiam os discursos desses profissionais que veem, nessas práticas, a desvalorização de seu trabalho e a impossibilidade de dedicarem tempo e esforços ao acompanhamento de todas as questões educacionais, visando direcionar e qualificar os processos de ensino-aprendizagem.
Os pedagogos em exercício de coordenação pedagógica relatam que, atualmente, envolvem-se com questões operacionais de toda ordem, decidindo e colocando em prática soluções que impactam e desafiam de forma pontual o andamento do trabalho escolar durante o seu turno. A pouca clareza do próprio coordenador sobre suas responsabilidades, as condições precárias de trabalho e a falta de formação específica para o cargo também contribuem para acentuar o desvio desse profissional das atividades que são de sua responsabilidade.
O cargo de coordenador pedagógico foi criado, originalmente, para ser ocupado por um professor, um par, próximo aos colegas professores, escolhido por eles e pela comunidade escolar, com a função executiva, articuladora e mobilizadora dos sujeitos em torno do PPP e suas propostas pedagógicas. No entanto, viu-se, ao longo dos anos, no Espírito Santo, o coordenador ser destituído de algumas importantes funções. Um cargo que era eletivo (recebendo inclusive adicionais salariais) passou a ser visto, gradualmente, pela secretaria de educação, como de importância secundária. Em razão disso, atualmente, o provimento do cargo pode ocorrer por meio de designação temporária onde não há mais a exigência de que o coordenador já seja um professor atuante, efetivo na escola escolhida. Não há necessidade de legitimidade e liderança de um profissional que já conheça a realidade da escola, sua problemática, seu contexto social e seus profissionais.
Desse modo, o coordenador torna-se um síndico para os assuntos mais diversos que impactam o cotidiano e o andamento do trabalho do turno, um gerenciador para resolver questões burocráticas, disciplinares (registradas no livro de ocorrências), administrativas (o controle do ponto de docentes e de pessoal administrativo por meio dos livros de ponto), de segurança, limpeza, etc. Não há uma preocupação em estabelecer comunicação efetiva, direta, frequente entre a secretaria e esses professores. Não há contato maior com esses profissionais ou interesse em discutir os planos estaduais com os coordenadores escolares porque, aparentemente, a secretaria não os vê como mobilizadores e articuladores dessas propostas. Raramente ocorrem encontros, discussões ou capacitações direcionadas a esses sujeitos.
Há o entendimento, entre esses profissionais, de que a secretaria de educação, em suas articulações, em torno dos planos estaduais de educação, poderia estabelecer maior aproximação com os coordenadores pedagógicos das escolas, buscando compreender suas demandas, seu âmbito de ação, suas potencialidades nas iniciativas e nas ações promotoras do sucesso escolar. Compreende-se que o coordenador pedagógico precisa resgatar o espaço que lhe foi suprimido no processo de ensino-aprendizagem, mobilizando a equipe pedagógica em prol da realização de um trabalho colaborativo e que envolva os diferentes sujeitos escolares, fazendo da educação um processo dialógico.
Em algumas escolas, a reorganização dos tempos e das funções tem possibilitado aos coordenadores estarem mais próximos dos alunos, pais, professores, direção e funcionários, tornando o espaço escolar, que é tão complexo e permeado por conflitos, mais dinâmico e reflexivo, contribuindo para a construção coletiva e favorecendo ações inclusivas.
Se a função de pedagogo passou por um processo de desvalorização no Espírito Santo, esses profissionais vêm buscando reverter essa situação, preocupados em se aperfeiçoar, em pesquisar, reivindicando mais espaços e formação para si mesmos. Apesar do desgaste a que esses profissionais têm sido submetidos, os coordenadores pedagógicos vêm buscando o reconhecimento de suas funções e o fortalecimento da identidade profissional, acumulando, nas últimas três décadas, conquistas nas lutas por uma escola mais democrática e por uma educação de qualidade.
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