O intelectual Ironides Rodrigues – Gilca Ribeiro dos Santos

O intelectual Ironides Rodrigues

Gilca Ribeiro Dos Santos

Preto, pobre e filho de mãe solteira. Assim foi Ironides Rodrigues, nascido em Uberlândia na década de 1920, em um tempo quando não era fácil estar nestas condições em uma cidade conhecida pela segregação.

Em 1944 mudou-se para o Rio de Janeiro com o objetivo de prestar o exame para ingressar na Faculdade Nacional de Direito. Formou-se em Direito, em 1974. Sua preocupação básica era afirmar o valor intelectual e artístico dos negros, assim como estabelecer em bases científicas a existência de cultura na África.

Leitor do francês, Ironides será um dos principais responsáveis pela divulgação no meio negro brasileiro, do pensamento da negritude francesa, assim como dos escritores da Harlem Renaissance. Já em 1946, apoiando-se na autoridade de Frobenius (que, provavelmente, conheceu por meio da leitura de Arthur Ramos) afirmava a existência de civilizações africanas, refutando, nominalmente, a opinião de Sílvio Romero.

Sempre preocupado em contrapor-se àqueles que julgavam os negros intelectuais afro-brasileiros de sua geração inferiores, fazia questão de citar: Raimundo Souza Dantas, Aguinaldo Camargo, Abdias do Nascimento, Lino Guedes e Solano Trindade.

Escritor, crítico e ativista negro, foi um dos colaboradores do Teatro Experimental do Negro desde sua fundação. Ministrou aulas de alfabetização e de cultura geral nos cursos de preparação de elenco. Contribuiu ainda para diversas atividades da companhia apresentando palestra, e elaborando textos.

A educação sempre teve lugar na trajetória do nosso intelectual, principalmente como professor de alfabetização de adultos no Teatro Experimental do Negro.

Em 1948, fundou com os amigos Abdias do Nascimento, Sebastião Rodrigues Alves e Aguinaldo Camargo o jornal O Quilombo, cuja missão era atrair cada vez mais a comunidade negra na produção. A publicação funcionou como um canal de expressão de grupos sociais que não tinham voz nas fontes tradicionais de informações. (2º Prêmio Nacional Jornalista Abdias do Nascimento – Edição 2012)

Como jornalista, tornou-se especialista em crítica cinematográfica e publicava seus trabalhos em diversos jornais, como o Correio da Manhã e Vanguarda. Dotado de uma cultura vasta, lecionou Latim, Francês, Português e Literatura. Atuou como teatrólogo, escrevendo várias peças cujo tema relacionava-se às questões do negro brasileiro. Sua primeira peça levada ao palco foi Agonia do Sol, produzida por Washington Guilherme.

Foi secretário geral da Convenção Nacional do Negro Brasileiro e, no Primeiro Congresso do Negro Brasileiro, realizado no Rio de Janeiro em 1950, apresentou a tese “Estética da Negritude”, obra que provocou grande repercussão.

Mostrava-se cético em relação ao alinhamento político dos negros, preferindo construir um movimento puramente cultural. Faleceu em 1980, deixando duas séries de cadernos sob os títulos de Estética da Negritude e Diários de um Negro Atuante: Cadernos de Bento Ribeiro.

Gilca Ribeiro Dos Santos é Mestre em educação pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU – Professora da Rede Municipal de São Bernardo do Campo e Santo André – SP

 

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