O Bom Combate de Educadores e Educadoras Freireanos

Ruan Debian¹

O que seria da educação popular sem as contribuições do pensamento de nosso querido Paulo Freire? Apesar da morte de seu corpo, em 2 de maio de 1997, suas ideias continuam vivas nas práticas pedagógicas de incontáveis educadores e educadoras espalhados não somente no Brasil, mas em vários outros países.

A vida de Freire resume e transcende o artigo 26º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em que, em uma de suas premissas, afirma que a educação é um direito de todos. Ora, por meio de uma educação emancipatória, Freire não somente alfabetizou incontáveis pessoas, mas proporcionou condições para que homens e mulheres, através da leitura do mundo, escrevessem suas próprias histórias.

Não por acaso, Paulo Freire foi exilado após o golpe que instaurou a Ditadura Militar brasileira (período marcado por intensa violação dos Direitos Humanos), em 1964. Educar para liberdade nunca foi bem visto pelos tiranos. Não é coincidência que, atualmente, em terras tupiniquins, as propostas do nordestino patrono da educação sofrem constantes ataques de certos governantes que exaltam, em rede nacional, torturadores.

A biografia de Freire nos ensina que assumir a postura de professorar para emancipação dos sujeitos requer coragem. Ninguém é neutro neste mundo, aqueles que pensam assim, alguns sem saberem, já escolheram o lado dos opressores. Seria tola inocência, regada por uma exacerbada incoerência, conceber que existe neutralidade na educação.

Enquanto docentes, como não nos posicionarmos diante de um aluno que teve seus direitos violados? Todavia, a luta não deve somente ser direcionada à violação em si, mas, sim, contra toda lógica que permite a ocorrência da violação.

Vejamos, poderia existir uma sociedade no porvir sem injustiça, homofobia, desigualdade socioeconômica, machismo, onde os Direitos Humanos seriam plenamente respeitados, sem antes travar árduas lutas no presente? Pois bem, não lutar e esperar o mundo se transformar num suposto paraíso equivale o mesmo que acreditar em contos de fadas.

Queiramos ou não, a luta, neste exato momento, está acontecendo. E precisamos, minimamente, entender suas dinâmicas. 

A reprodução do pensamento dominante distorce consideravelmente a compreensão da realidade social. Muitos acreditam plenamente que, garantido o acesso à educação, automaticamente, garantido estaria o sucesso do sujeito. Grave erro. Não quer dizer que não sejam importantes os acessos, pelo contrário. Contudo, não são suficientes. 

François Dubet, no livro “O Que é Uma Escola Justa?”, demonstra brilhantemente como a universalização da educação contribuiu para um discurso de legitimação da desigualdade social. Afinal, se todos frequentam as escolas, não conseguirão vencer na vida somente aqueles que não se esforçaram. Será mesmo? De qual escola estamos falando? Será que tantas pessoas não se esforçam assim?

Provocando um pouco mais: quem poderia denunciar certas contradições? Obviamente não seriam aqueles professores que estão de acordo com a lógica do sistema. Mas, certamente, os educadores progressistas, implicados com práticas educativas que possibilitam as transformações sociais.

Espero que este simples texto seja um fôlego esperançoso a mais, para continuemos professorando em prol de uma educação emancipatória.

 

1Educador popular e graduando em pedagogia pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG).

 

Para saber mais: 

DUBET, François. O que é uma escola justa? A escola das oportunidades. São Paulo: Cortez, 2008.


Imagem de destaque: Evening_tao / Freepik  

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