evoluções para a percepção da escola pública
“O papel da escola não é o de mostrar a face visível da lua, isto é, reiterar o cotidiano, mas mostrar a face oculta, ou seja, revelar os aspectos das relações sociais que se ocultam sob os fenômenos que se mostram à nossa percepção imediata.” (Demerval Saviani)
Se, dos quartos da lua, cobrássemos o testemunho das evoluções, talvez coubesse às metáforas o assento móvel nas escalas criativas da vida social e, aos índices, se outorgasse o status de consequências. Quanto aos ícones… ah! que os memes falem deles. Uma vez que falar tem se mostrado um duvidoso e canhestro processo de strip-tease inacabado. Seria a fala a desmobilização das falas? Silêncios podem ser perigosos, pois fora do zodíaco, os signos mobilizam e são mobilizados. “A linguagem está a serviço da cultura.” (EVERETT,2019, p.13), e o resto, como o tudo, não alcança o teto das interpretações.
2020 parece ter chegado com cifose. Não! São apenas indícios de leituras maltratadas: manipulação dos símbolos inventados para não instalar a palavra de/do fato. Mas as palavras existem. Elas foram/são criadas/criam, instituídas/instituem, constituídas/constituem, e têm foro privilegiado, junto às suas instâncias e implicações: semânticas, discursivas, ideológicas, temporais, holísticas, sociais, e por aí vai. Eita, terreno fértil! Tão fértil quanto a face oculta da lua, ou da Terra esférica. Pois, plana é a encruzilhada traçada para manipular os índices. Cruz credo!
Essas considerações fazem parte de um enredo: são redes de pescar ideias que tentam pensar uma interpretação do fato (com ou sem ejó): a escola pública é a escola de direito e por direito (adquirido à custa histórica de muitos movimentos sociais) para a educação do povo. É justa? Não! Ainda não! Mas será: 1) quando a precarização da educação deixar de ser um projeto político de desmonte da escola; 2) quando a sociedade assumir que está perdendo por não dizer do trabalho cognitivo, social, cultural de construção ininterrupta que engendra o lugar da escola; 3) quando os educandos tomarem para si o ato de conhecer como um voo legal para a liberdade de escolhas… muito além das faces ocultas da lua; 4) quando os professores construírem uma classe postulante integrada à realidade de negação, manipulação e desrespeito profissional. Outro terreno fértil! E valendo-me da recursividade para dizer de novo o que diz sempre um grande colega, professor que se deita e levanta nas filosofias: “…que se façam perguntas, pois provocar é buscar o dizer do outro. É criar um lugar de fala. O consenso ou a dissenção não anula os fatos.” (Com autorização do próprio. Obrigada, professor Laurici Gomes).
Então, qual o papel da escola?
Sem responsabilizar os “astros”, da lua à rua, podemos até cantar:
Ô! Abre alas… (GONZAGA, 1899)
A escola vai vencer,
Tem lugar na história,
Gentes, memória,
Vontade de ser!
Ô! Abre alas… (GONZAGA, 1899)
… o povo vai chegar
Junto! …rosto negro, sangue índio, corpo de mulher… (MÁXIMO, 2020)
Ô! Abre alas… (GONZAGA,1899)
Vamos repensar,
A lida das gentes,
Isso é urgente
Não pode esperar!
Ô! Abre alas… (GONZAGA,1899)
REFERÊNCIAS
EVERETT, Daniel. Linguagem: a história da maior invenção da humanidade. Tradução de Maurício Resende. São Paulo: Editora Contexto, 2019.
GONZAGA, Chiquinha. Ô, abre alas… 1899.
MÁXIMO, L. C. A verdade vos fará livres. Samba-enredo, Mangueira, Carnaval 2020.
SAVIANI, Demerval. Antecedentes, origem e desenvolvimento da pedagogia histórico-crítica. In: A. C. G. MARSIGLIA (Org.), Pedagogia histórico-crítica: 30 anos. Campinas-SP: Autores Associados, 2011, pág. 201.