Educação em vertigem, um Brasil mutilado

Eudásio Cavalcante Melo*

Se você leitor, está atento aos acontecimentos mais recentes que envolvem o nosso País, com certeza o título deste artigo faça com que passe um filme na sua cabeça, levando-se em conta a preocupante situação sócio, política, econômica e cultural que inunda a vida da população, não só brasileira, mas grande parte dos países mundo afora, afogando, assim, sonhos e desejos de uma vida social melhor.

Quando se fala em vertigem, somos levados a pensar no desequilíbrio do corpo como consequência. E este é um problema de saúde que aflige um número considerável de pessoas. É necessário diagnosticar a causa geradora do problema, oferecer o medicamento correto, e assim criar a possibilidade do caminhar de forma equilibrada e segura.

Pensar no estado de saúde de um País, é pensar nas reais condições de vida da sua população, se esta não está bem, temos que buscar as causas deste mal-estar. É necessário fazer um check-up para que possamos identificar as razões que possam estar gerando este estado de insatisfação.

Posso ousar em afirmar que a grande causa deste estado de vertigem e desequilíbrio que adoece o nosso País, seja a baixa consciência da nossa população em relação aos problemas que geram este estado de debilidade e instabilidade social, portanto, a preocupação gira em torno de uma epidemia causada por um vírus que se prolifera em função da baixa imunidade política que toma conta do nosso povo.

Qual deve ser a solução? Qual a vacina que deve ser oferecida a todos no combate e erradicação de tal epidemia? Quem deve tomar a iniciativa para resolver tal situação?

São muitas as perguntas, mas o problema maior e preocupante, é a falta de iniciativas para fazê-las. Temos que mudar a nossa cultura do silêncio, e estabelecermos uma cultura do perguntar inteligente. Este hábito do perguntar nos faz sair da nossa zona de conforto, da nossa individualidade, e irmos de encontro à coletividade na qual somos reconhecidos como um ser existente, portanto, quem pergunta quer resposta. E como resultado deste processo dialógico, é que se constitui em nós uma consciência do que significa pertencer a um corpo sadio e equilibrado que nós chamamos de País, de Nação, de Brasil.

Aqui reside toda a minha preocupação. Afirmo isso porque a consciência é a coroação, é o resultado do trabalho num sistema educacional forte e consistente, e quando se fala de um sistema educacional forte e consistente, estamos falando de uma Nação com um grau de consciência coletiva que sabe o que quer, como quer e onde quer chegar.

A educação no século XXI tem enfrentado desafios em função de novas demandas, que é resultado de mudanças significativas nos diversos setores que compõe a sociedade moderna contemporânea. Contudo, dentro deste processo de mudanças, historicamente ventilado, a Educação no Brasil, perde o seu status, a sua centralidade, o seu principado, a sua majestade. Uma inversão de valores. Colocaram a Educação à margem, mais ainda, de uma posição central e vital, assume uma posição periférica e decadente.

O Brasil se tornou um Pais mutilado quando passou a dar a Educação um tratamento de baixo escalão. Agora são outros interesses, e o pior, são interesses de poucos. Enquanto estes poucos se fortalecem, a maioria da população clama por justiça e vida digna.

Negar uma educação de qualidade para esta maioria, é tirar o direito desta de caminhar com suas próprias pernas, é tirar o direito de todos de usufruir do que se tem de mais essencial da sua condição humana, qual seja, a sua capacidade de pensar de forma independente e almejar um futuro que garanta uma bem-estar para todos.

O ensinar hoje exige novas habilidades, que exige uma formação contínua dos profissionais que estão envolvidos no processo educacional, que exige um apoio daqueles que estão no comando administrativo do sistema, que exige um incentivo extra para os seus protagonistas, no sentido de estar buscando metodologias e instrumentos que resgate a importância que é a Educação, como única esperança que venha livrar o povo de uma escravidão que hoje só proporciona bem-estar e regalias para uma minoria fechada nos seus interesses.

Educação em 360 graus. O que isto significa? Significa que o trabalho formativo deve buscar o todo, não parte do todo como se praticava antes. Significa assumir a ideia de que a educação é digital e não analógica, o que caracteriza sua evolução, como também significa oferecer aos estudantes instrumentos que facilitem a sua caminhada rumo ao sucesso, rumo ao topo, rumo a dignidade.

Diante deste quadro deprimente em que passa a Educação brasileira, podemos afirmar, com todas as letras, que o nosso professorado merece o prêmio do OSCAR da educação, como reconhecimento de sua luta por uma Nação mais esclarecida e esclarecedora, sobretudo, em relação ao papel que cada um deve desempenhar, e que gere a esperança de que o nosso País venha sair desta depressão intelectual.

O professorado pertence a uma categoria que deseja ser reconhecida como atores que desempenham papeis principais, e não secundários, em palcos e cenários para uma grande plateia que esteja disposta a ouvir aquilo que está no roteiro a eles confiado. Ser ator principal nos palcos da educação, num País que não dá o real valor a cultura e ao conhecimento, como é o nosso caso, é remar contra a maré, aproveitando uma expressão popular.

Hoje, se faz necessário reconhecer o valor do trabalho de cada professor, de cada professora, que são considerados verdadeiros mártires pelo ensino, que resistem a este tempo tão sombrio por que passa a nossa educação. Mesmo tendo que buscar alternativas de sobrevivência, continuam emprenhados na realização do que se propuseram a fazer, educar.

O Brasil continuará mutilado, caso continue tratando aqueles que buscam o engrandecimento do nosso País através do conhecimento, como atores coadjuvantes. Aqueles que governam o Brasil precisam tomar consciência de que existe uma distância considerável entre a realidade e a ficção. É preciso sair da ficção. Governar num cenário de ficção, é governar em vista de defender interesses de grupos seletivos e minoritários, cujos interesses giram num campo magnético que potencializa uma atração de si para si, enquanto que àqueles que estão fora deste campo magnético, estão condenados a carregar fardos de pedras sobre às costas que os impedem de olhar a realidade no seu em torno.

A democracia, em qualquer Nação, é um instrumento de garantias dos diretos adquiridos ao longo da história. Quando estes direitos são negados, abre-se uma cratera à nossa frente, que gera em nós uma sensação de vertigem, de queda, e que nos impede de irmos adiante na busca pela realização dos nossos ideais e convicções.

Por fim, um sistema educacional que abre espaço para a prática da democracia, esta vista como direito de oportunidade para todos, está concedendo o direito à toda Nação de sonhar, de ser o ator principal diante das oportunidades que a vida lhes proporciona, de poder subir ao pódio e receber todas as estatuetas que o Oscar da vida possa lhes oferecer como resultado de suas lutas e conquistas. Educação em Vertigem,  nunca mais.


*Graduado em filosofia e mestrando em Educação Tecnológica / Cefet-MG

Imagem de destaque: Yolanda Assunção

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