Nuances sobre o Colégio Santa Terezinha, suas Normalistas e a Comitiva do Governador Araújo Lima pelo Vale do Guaporé

Paulo Sérgio Dutra¹

 “[…] e quem garante que a história é uma carroça abandonada numa beira de estrada ou numa estação inglória? A história é um carro alegre, cheio de um povo contente que atropela indiferente todo aquele que o negue”. (CHICO BUARQUE e PABLO MILANEZ, 1977 apud ROCHA, 2000, p. 33)

No Giro do Bicentenário por Rondônia, a partir de uma entrevista e de edições do jornal o Alto Madeira, trazemos passagens sobre a instrução pública neste espaço geográfico entre 1930 e 1951. Desse modo, numa tarde do mês de julho de 2008 na cidade de Guajará-Mirim, a Professora Isabel de Oliveira Assunção relatou que, em janeiro de 1932, Dom Rey saiu de Vila Bela da Santíssima Trindade/MT e desceu o rio Guaporé, rumando até a cidade de Guajará-Mirim/MT(1), oportunidade em conheceu os ribeirinhos, notando o alto índice de analfabetismo na região. Chegando a Guajará-Mirim, ele sondou um terreno para a construção de uma escola para formar professoras. De volta ao Guaporé, conforme a Professora Isabel:

[…] ele já foi escolhendo aquelas meninas que ele achava em idade escolar, aí ele conversando com os pais, ele contou o porquê desse colégio. Ele tinha o desejo de fundar um internato, justamente pra abastecer [grifo meu] os filhos dos ribeirinhos, para alfabetizá-los [estas meninas] cursavam o primário e poderiam voltar para seu lugar de origem e poderiam alfabetizar as outras crianças que estavam lá […] (Professora Isabel, jul. 2008)

Segundo Dutra (2010, p. 69), anos mais tarde, Dom Rey fundou 18 escolas na região do Guaporé e para cada uma delas ele enviou uma normalista. Sendo que em Pedras Negras atuaram duas professoras por conta do grande contingente de crianças residentes na região. Para Vila Beta da Santíssima Trindade foram destinadas Verena Leite Riberio e Belmira Farias. 

A este respeito, encontrou-se no Arquivo Público de Mato Grosso dois processos, sob os números: 1.092 e 1.097, datados, respectivamente, de 23 de junho de1941, que evidenciavam que as professoras contratadas pelo governo do Estado e Mato Grosso, Paula Gomes de Oliveira e Eremita Cordeiro, egressas do Santa Terezinha, requisitavam à Diretoria Geral da Instrução Pública daquele Estado a contratação de professoras auxiliares (sugerindo as normalistas Maria de Jesus Evangelista e Sebastiana Diniz) sobre o argumento do excesso de alunos que frequentavam as escolas localizadas nas povoações de Limoeiro e Pedras Negras.

Em 1949, já em jurisdição do Território Federal do Guaporé, estas professoras formadas na escola de Dom Rey continuavam atuando nas escolas guaporeanas. Dessa forma, em abril de 1949, uma comitiva dirigida pelo Governador Araújo Lima visitou algumas povoações localizadas na região do Guaporé (2).

Sobre o fato, o jornal Alto Madeira noticiou que era a primeira vez que uma comitiva visitava a região, o que nos apontam sinais dos diferentes olhares e atenções dados às políticas públicas educacionais em diferentes territórios brasileiros. 

No dia 16 de abril de 1949, foram saudados pelos alunos da escola do Forte Príncipe da Beira. No dia 17, foram recepcionados pelos alunos da Professora Leonilda Saldias. Na segunda-feira, dia 18, os alunos da professora Maria de Jesus Evangelista, recitaram poesias, em seguida, o Governador dirigiu-lhes a palavra. No dia 19, aportaram em Limoeiro, onde foram recebidos pela Professora Paula Gomes de Oliveira, sendo oferecido à comitiva um programa de arte pelos alunos.

Entre 23 e 24 retornaram a Guajará-Mirim com promessas de construção de duas escolas rurais e um posto de saúde. Em 25 de abril, tomaram o trem da Estrada de Ferro Madeira Mamoré e, às 8h45 do mesmo dia, chegaram em Porto Velho.

Em agosto de 1949 (3), as professoras Angelina dos Anjos, Lídia dos Anjos, Albertina Coelho, Antônia Quintão, Maria de Jesus Evangelista foram nomeadas “interinamente” como professoras, de modo que tais nomeações se deram em virtude das vagas existentes, devido a promoção de titulares das escolas localizadas na região do Guaporé. Em 1950, através da Portaria de 6 de fevereiro, Isabel Gomes de Oliveira, ocupante do cargo de “Auxiliar de Ensino”, foi transferida da Escola Rural Monte Castelo da povoação de Santa Rosa no Rio Guaporé para Escola Rural Tiradentes localizada na Povoação de Santo Antônio do mesmo rio (4). Em 1951, a professora de ensino primário Antônia Quintão foi removida da Escola General Carneiro, localizada em Costa Marques para Escola Ana Nery, localizada na Povoação de Rolim de Moura do Guaporé. 

Mas, o que tais apontamentos sugerem? Neste pequeno inserto, as nuances de um processo de organização da escolarização e da profissionalização docente a partir de uma experiência específica, tratou de dar luz à fundação do Colégio Santa Terezinha na cidade Guarajá-Mirim, em 1933, bem como da atuação de egressas desta escola, em diversas localidades na região do vale do Guaporé, apontando aspectos em que estas ombreavam com aqueles que dirigiam a burocracia administrativa do Território Federal do Guaporé. Neste Giro do Bicentenário por Rondônia, trouxemos uma experiência educacional entre as várias possíveis de serem investigadas. Assim sendo, convidamos todos e todas a seguirem acompanhando outras narrativas pelo nosso estado, conhecendo um pouco mais da nossa história.

 

1 – Professor Adjunto da Fundação Universidade Federal de Rondônia, líder do GEPRAM – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Migração.

 

Notas
(1) Até o ano de 1943, o espaço geográfico correspondente ao Estado de Rondônia pertencia ao Estado de Mato Grosso, que através do Decreto-Lei 5 812 de 13 de setembro de 1943 criou o Território Federal do Guaporé.

(2)  Nesse sentido ver o jornal Alto Madeira, ano XXXII, Nº 3404, p. 01-04, 03 de agosto de 1949.

(3)  Ver o jornal Alto Madeira, ano XXXII, Nº 3406, p. 03, 07 de agosto de 1949.

(4)  Conforme o Alto Madeira, ano XXXII, Nº 3499, p. 03, 11 de fevereiro de 1950.


Imagem de Destaque: Arquivo do GEPRAM – Grupo de Estudos e Pesquisas Sobre Relaçoes Racicias e Migração – UNIR. A imagem acima conforme o relato da Professora Isabel de Oliveria Assunção mostra as alunas do Colégio Santa Terezinha e Dom Rey em diligência para a realização de uma atividades extra classe no final da década de 1930 em Guajará-Mirim.

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