Enquanto escrevia este texto, o apresentador do jornal matinal que eu assisto chorou a perda de um colega. Eu já não contenho minhas lágrimas. Choro junto. Eu não conhecia esse jornalista morto. Mas eu chorei. Todos os dias eu choro quando vejo postagens dos amigos nas redes sociais, com homenagens às pessoas que partiram cedo demais, vítimas de uma doença negligenciada por falta de vacina. Hoje eu entendo que desde 2020, vivo enlutada. E foi esse sentimento que me levou à leitura do livro Notas sobre o luto, de Chimamanda Adichie. O que dizer para pessoas enlutadas? Existe palavra certa que possa diminuir a dor aquelas que perderam amigos, filhos, pais, maridos?
Que fácil fazer um sermão sobre o caráter definitivo da morte quando na verdade é justamente o caráter definitivo da morte que é a fonte de toda aflição. (ADICHIE, 2021).
A escritora nigeriana escreveu sobre a perda do pai e como a pandemia de COVID-19 mudou a maneira como nos despedimos daqueles que morreram. Ela se despediu do pai pela tela do computador, numa chamada de Zoom. Mas existe uma boa maneira de dizer adeus?
Dizer adeus não é um caminho fácil, não é. Respeitar o tempo de luto é parte da vida. Mas ele pesa, e muito.
O luto não é etéreo; ele é denso, opressivo, uma coisa opaca. O peso é maior de manhã, logo depois de acordar: um coração de chumbo, uma realidade obstinada que se recusa a ir embora. (ADICHIE, 2021).
Mas também só vive o luto quem amou, pois a dor é a celebração do amor, “aqueles que sentiam dor verdadeira tinham sorte de ter amado”. Por isso, sentimos a necessidade de honrar a memória das pessoas que perdemos:
“Finalmente entendo por que as pessoas fazem tatuagens daqueles que perderam. A necessidade de expor não só a perda, mas o amor, a continuidade”. Naquela semana em que o Brasil atingiu a marca de 500 mil mortos por covid, eu também aprendi que luto é verbo.
Para saber mais:
ADICHIE, Chimamanda. Notas sobre o luto. São Paulo: Cia das Letras, 2021.
Imagem de destaque: Companhia das Letras