Negacionismo científico, um grande negócio!

Editorial Jornal Pensar a Educação em Pauta, edição 323

O negacionismo científico se tornou, nos últimos anos, mais do que nunca, uma preocupação recorrente da comunidade científica internacional e de parte significativa dos governos do mundo inteiro. Cientistas e autoridades públicas do mundo inteiro denunciam que não se trata mais de pessoas ou grupos localizados que, diante de evidências científicas que contrariam suas crenças, reagem condenando os produtores de tais conhecimentos. Trata-se, cada vez mais, de um amplo e rendoso negócio que precisa ser combatido em escala local e global.

A abundante defesa de que a terra é plana ou de outras teses da mesma envergadura, pode até parecer folclórica, mas não tem nada de inocente ou de inofensiva crença religiosa. Trata-se, conforme amplamente denunciado internacionalmente, de uma prática negacionista das evidências científicas cuja ancoragem se faz pela utilização massiva de conhecimentos e tecnologias amparados cientificamente.

Os grupos negacionistas, cujas teses  vão, como já se disse, da defesa de que a terra é plana até a crítica às vacinas e demais estratégias de combate à pandemia, por exemplo, são os mesmos – ou se articulam com –  grupos que banalizam os alertam sobre o aquecimento global e as evidências científicas sobre o impacto de empreendimentos econômicos sobre as reservas florestais ou de água no planeta.

O negacionismo científico adquire grande repercussão política por meio de sua capilarização nos diversos territórios e grupos sociais. E isto é feito por estratégias econômicas que utilizam fortemente as tecnologias e conhecimentos científicos para manipular crenças religiosas, medo e falta de conhecimento para favorecer o lucro e o enriquecimento de grupos empresariais, muitas vezes travestidos de grupos religiosos, em várias partes do mundo.

Todavia, não devemos esquecer que as teses negacionistas vicejam, também, em ambientes sócio-econômico-culturais que não percebem como a ciências e a própria política beneficiam suas vidas. E tais ambientes não cessam de crescer! O aumento da concentração de renda e da pobreza, por um lado, e do descaso pela democracia, por outro, ocorrem em escala global e são, certamente, problemas muito mais de cunho político, econômico e cultural do que especificamente científico, ainda que as ciências e os cientistas não estejam isentos de responsabilidade em relação a estes fenômenos.

Por tudo isso, é preciso que tomemos consciência que o negacionismo é um fenômenos sócio, político, cultural, econômico e, obviamente, científico de grande complexidade. E, como tal, não pode ser combatido apenas e tão somente por mais e melhores práticas de divulgação ou educação científica da população, a começar por aquela que frequenta as escolas.

Ainda que estas ações sejam importantes, enquanto o negacionismo fizer funcionar a “máquina capitalista” é neste terreno que ele deverá ser combatido. Nunca é demais lembrar que, como já alertava Marx ainda no século XIX, no mundo capitalista “tudo o que era sólido desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado”. Por que não haveria de ser, assim também, com as ciências?


Imagem de destaque: Jornal da USP

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Negacionismo científico, um grande negócio!

O negacionismo científico se tornou, nos últimos anos, mais do que nunca, uma preocupação recorrente da comunidade científica internacional e de parte significativa dos governos do mundo inteiro. Cientistas e autoridades públicas do mundo inteiro denunciam que não se trata mais de pessoas ou grupos localizados que, diante de evidências científicas que contrariam suas crenças, reagem condenando os produtores de tais conhecimentos. Trata-se, cada vez mais, de um amplo e rentável negócio que precisa ser combatido em escala local e global.

A abundante defesa de que a terra é plana ou de outras teses da mesma envergadura, pode até parecer folclórica, mas não tem nada de inocente ou de inofensiva crença religiosa. Trata-se, conforme amplamente denunciado internacionalmente, de uma prática negacionista das evidências científicas cuja ancoragem se faz pela utilização massiva de conhecimentos e tecnologias amparados cientificamente.

Os grupos negacionistas, cujas teses  vão, como já se disse, da defesa de que a terra é plana até a crítica às vacinas e demais estratégias de combate à pandemia, por exemplo, são os mesmos – ou se articulam com –  grupos que banalizam os alertam sobre o aquecimento global e as evidências científicas sobre o impacto de empreendimentos econômicos sobre as reservas florestais ou de água no planeta.

O negacionismo científico adquire grande repercussão política por meio de sua capilarização nos diversos territórios e grupos sociais. E isto é feito por estratégias econômicas que utilizam fortemente as tecnologias e conhecimentos científicos para manipular crenças religiosas, medo e falta de conhecimento para favorecer o lucro e o enriquecimento de grupos empresariais, muitas vezes travestidos de grupos religiosos, em várias partes do mundo.

Todavia, não devemos esquecer que as teses negacionistas vicejam, também, em ambientes sócio-econômico-culturais que não percebem como a ciências e a própria política beneficiam suas vidas. E tais ambientes não cessam de crescer! O aumento da concentração de renda e da pobreza, por um lado, e do descaso pela democracia, por outro, ocorrem em escala global e são, certamente, problemas muito mais de cunho político, econômico e cultural do que especificamente científico, ainda que as ciências e os cientistas não estejam isentos de responsabilidade em relação a estes fenômenos.

Por tudo isso, é preciso que tomemos consciência que o negacionismo é um fenômenos sócio, político, cultural, econômico e, obviamente, científico de grande complexidade. E, como tal, não pode ser combatido apenas e tão somente por mais e melhores práticas de divulgação ou educação científica da população, a começar por aquela que frequenta as escolas.  

Ainda que estas ações sejam importantes, enquanto o negacionismo fizer funcionar a “máquina capitalista” é neste terreno que ele deverá ser combatido. Nunca é demais lembrar que, como já alertava Marx ainda no século XIX, no mundo capitalista “tudo o que era sólido desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado”. Por que não haveria de ser, assim também, com as ciências?


Imagem de destaque:  Freepik

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