Flavia Renata Guimarães Moreira
Rebeca Cristina Nunes Lloyd Gonçalves
Ser mulher, idosa e educanda da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no Brasil: por mais que políticas públicas voltadas para a população idosa tenham cada vez mais recebido atenção, é sabido que a garantia da educação, como direito, como condição emancipatória e libertadora, nos moldes freirianos, ainda é um desafio.
Ora estas mulheres são responsabilizadas pelo cuidado e pela educação dos(as) filhos(as) e netos(as), ora veem em seus esposos, ou em algum outro membro significativo de seu convívio, os primeiros sujeitos a negar-lhes o direito. Na rotina diária da escola, os planejamentos e/ou a didática não as assistem plenamente. Muitas chegam a passar anos em turmas de alfabetização, sem que tenham sido de fato alfabetizadas e/ou letradas. Outras chegam a certificar-se, mas não raras são aquelas que abandonam o espaço escolar. No dia a dia na escola, nem sempre encontram apoio entre seus pares. Torna-se importante que gestores(as) de escolas que ofereçam a EJA como modalidade de ensino estejam atentos(as) para que ocorra o pleno atendimento e a garantia do direito à aprendizagem.
No contexto brasileiro, é perceptível a produção social disciplinada em construções hegemônicas e heteronormativas. As desigualdades enfrentadas pelas mulheres da EJA nos levam a caracterizar: “[…] a opressão não é contra uma parte da pessoa que é subalternizada; ao contrário, a opressão é contra o sujeito inteiro, como um todo” (FERREIRA, 2014, p.3). Assim, sobrepõem-se a opressão de gênero, a exclusão de classe e o racismo estrutural.
Urge que ouçamos as vozes femininas na escola: suas demandas; seus anseios; as dificuldades; os desafios; e os enfrentamentos. Também que as idosas encontrem amparo e acolhimento para que se tornem autônomas em seus processos de ensino e de aprendizagem, pois trazem para o contexto escolar lições de vida e experiências singulares, as quais devem ser consideradas e valorizadas.
Compreendemos que a educação deve promover ações formativas de equidade de gênero, a fim de que aconteça o reconhecimento das diferenças assimétricas existentes na formação humana de mulheres e homens. É preciso dar passagem aos modos de ser/viver/agir que inaugurem o novo absoluto, a inventividade, acolhendo novos modos de se fazer uma EJA essencialmente inclusiva.
Contribuir para emancipar, libertar, abrir caminhos e horizontes, garantindo o direito de que elas optem por novos rumos na rotina diária. Isto inclui terem elas o tempo escolar respeitado, suas vozes ouvidas, sem silenciamentos, sem medos, sem receios, gozando do direito à educação de qualidade social, pública e gratuita, sem menos é papel fundamental de quem assume a docência na Educação de pessoas jovens, adultas e, também, das idosas.
Sobre as autoras
Flávia Moreira é professora na Rede Municipal de Educação de BH e mestra em Educação pela FaE/UFMG.
Rebeca Gonçalves é professora na Rede Municipal de Educação de BH, doutoranda em Educação pela FaE/UFOP.
Para saber mais
FERREIRA, Guilherme Gomes. Interseccionalidades e marcadores sociais da diferença na experiência de travestis privadas de liberdade. II Seminário Regional de Políticas Públicas, Intersetorialidade e Família: formação e intervenção profissional. 2014. ISBN: 978853970584-02. Acesse aqui.
Imagem de destaque: Galeria de Imagem