Meu caminho na educação

Vanda Maria Vital Barroso

Meu nome é Vanda Maria Vital Barroso, tenho 49 anos, sou natural de Parintins, cidade localizada no Amazonas. Cidade pequena, com cem mil habitantes, mas conhecida mundialmente: primeiro pela floresta Amazônica e segundo pela festa folclórica dos bois-bumbás, Caprichoso e Garantido. A festa ocorre no mês de junho, a cidade fica dividida entre azul e vermelho. São três dias de festas oficiais, transmitidas pela TV Cultura.

Sou filha do meu saudoso e finado pai que se chamava Leopoldo Barroso Cordeiro, e da minha mãe, que se chama Edna Vital Cordeiro. Meus pais são evangélicos, e eu também sou. A vida era mais difícil e minha família era composta por dez membros: meu pai, minha mãe, três irmãos e cinco irmãs; eu sou a mais nova das mulheres.

Na cidade só existia um hospital. Não tinha posto de saúde, então minha mãe teve seus filhos em casa, com ajuda de uma parteira. As parteiras faziam os partos da maioria das mulheres, pelo fato de o único hospital estar sempre lotado; ficava mais difícil para as mães se locomoverem para lá, por falta de condução, na cidade também não tinha ônibus. Minha mãe teve todos os filhos dela em casa com o auxílio de uma parteira que era conhecida como ‘Dona Nega’, cujo nome era Maria de Souza Rodrigues Lisboa.

Eu nasci no dia 08 de novembro de 1972, às 21h45 e a partir deste momento eu iria ser gradativamente preparada para enfrentar os desafios da vida. Vim de uma família humilde, de origem cristã. Nós morávamos em um bairro um pouco afastado do centro, chamado Júlio Belém; as ruas não eram pavimentadas e também não tinha saneamento básico. A energia elétrica funcionava com um esquema de revezamento, quando nos bairros havia luz, no centro não tinha. Mesmo com as dificuldades relacionadas à renda, saúde pública e saneamento básico, não poderia ter tido outra infância que me recordasse de tantas lembranças boas.

Fui para a escola aos sete anos de idade, porque na época não havia creche. Estudei da primeira à quarta série na Escola Ryota Oyama, cuja professora tinha a mesma postura todos  os dias antes de começar a aula: recitar com a turma o Pai Nosso e agradecer a Deus pelo pão de cada dia. Mariana era uma excelente professora, de compromisso e muito atenciosa com todos os alunos. Da quinta até a oitava série senti dificuldade no aprendizado da disciplina de matemática; cheguei a fazer algumas aulas de reforço, e consegui obter resultado satisfatório.

Quando chegou o momento de ingressar no ensino médio, eu abandonei a escola, pois havia conhecido uma pessoa pela qual me apaixonei e me casei. Logo engravidei da minha primeira filha em 1993, uma menina linda e com muita saúde, que se chama Brenna Vital Nunes. Optei por cuidar dela e trabalhar, deixando de lado os estudos nessa nova fase da minha vida. Atualmente me arrependo por isso, mas naquele contexto, não pude continuar estudando, pois tinha que ajudar o meu marido com as despesas. Nós tínhamos um microempreendimento no terreno de casa, uma locadora de motocicletas. Eu tomava conta do comércio e cuidava da minha filha e ele saia para trabalhar. E assim o tempo foi passando. Tive o segundo filho, que se chama Helton Simões de Oliveira, que nasceu em 1997, ano em que resolvi voltar aos estudos. Ingressei na Escola Estadual Senador João Bosco, para fazer meu ensino médio. Também tive muitas dificuldades que me fizeram pensar em desistir, porque tinha que estudar, trabalhar e cuidar de dois filhos. Foi uma pressão enorme, mas a vontade de concluir esta etapa era muito grande e finalmente consegui terminar o ensino médio.

No dia da formatura de nossa turma, todas estávamos felizes e gratas por concluir mais uma fase das nossas vidas e minha paraninfa foi minha filha, pois nessa etapa da minha vida havia acabado de me separar. Foi muito linda nossa festa de formatura, mas seria complicado ingressar em uma faculdade naquela época, pois precisava trabalhar para manter o sustento da minha casa. Passei por inúmeras dificuldades naquela época e não consegui ingressar no ensino superior que tanto almejava. A Pedagogia era um sonho que estava no horizonte, mas nunca é tarde quando não se perde as esperanças na vida.

Nos dias atuais, boa parte da minha família mora em Camboriú, Santa Catarina. Recuperei o aconchego familiar que tanto amava na infância, e que com o passar dos anos e a dureza da vida, fui perdendo. Atualmente com os filhos na fase adulta, finalmente consegui entrar em uma instituição de Ensino Superior pública que tem transparência, estudos de qualidade e reconhecimento em todo lugar. Conheci o Instituto Federal Catarinense quando fui realizar a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Conseguindo uma vaga com a nota deste exame, escolhi o curso de Licenciatura em Pedagogia, porque é a formação com a qual me identifico: gosto do ambiente escolar e me inspiro em um dia proporcionar educação de qualidade para os alunos. Devido a Covid-19, ingressei na faculdade estudando por meio do ensino remoto, e tive dificuldades no início, por ser algo novo e complexo pra mim. Com a ajuda dos meus filhos e família, familiarizei-me e fico feliz pelos feedbacks que recebo dos meus trabalhos, aos quais me dedico muito para entregar da melhor forma. Buscarei concluir esta nova fase com bravura e esperança. Como metas futuras, almejo fazer meu mestrado e trabalhar na área da educação, mas no momento busco conciliar o trabalho com os estudos.

Neste ano, cursando o ensino superior, tive uma outra perspectiva de educação; quero alcançar meus objetivos profissionais e desenvolvimento pessoal. Resta muito aprendizado até a concretização do projeto do diploma universitário. O IFC apoia e dá oportunidades, proporcionando esta realização a muitos estudantes. Quero agradecer, em primeiro lugar, a Deus, ao Instituto Federal Catarinense e aos professores, que são excelentes profissionais e que dão apoio nas dúvidas, esclarecendo e orientando da melhor forma possível, para construir com os alunos um bom aprendizado.

Sobre a autora
Estudante do curso de Licenciatura em Pedagogia do Instituto Federal Catarinense – campus Camboriú. Uma versão preliminar deste texto foi escrita como atividade avaliativa da disciplina História da Educação, do citado curso, ministrada pela Profa. Dra. Marilândes Mól Ribeiro de Melo.


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