Memórias de um marco educacional: o Polivalente de Ituiutaba-MG (1974-1985) – Genis Alves Pereira de Lima

Memórias de um marco educacional: o Polivalente de Ituiutaba-MG (1974-1985)

Genis Alves Pereira de Lima

Ao procurar o entendimento e a compreensão sobre a criação de uma instituição escolar, é imprescindível buscar o aprofundamento dos processos históricos que abrangem o contexto político, econômico, cultural e social de um determinado período da história, especificamente se tratando do período ao qual se apresenta o presente trabalho: a Ditadura Civil-Militar, ocorrida entre os anos de 1964 a 1985.

Podemos destacar as interferências oriundas do contexto da Segunda Guerra mundial entre os anos de 1939 a 1945, como marcantes às determinações econômicas, políticas, sociais e consequentemente educacionais; uma vez que a partir de então, os países considerados economicamente prejudicados passaram a ter a “ajuda” de financiamentos dos Estados Unidos, bem como passaram também ao endividamento e controle político até mesmo na educação, estando o Brasil à mercê dessas questões.

Desta forma, o modelo de educação desenvolvido ganha um projeto a ser implantado no Brasil através também da criação das Escolas Polivalentes; houve assim transformações nas etapas do ensino, unificando-se o primário com o ginásio, e profissionalizando-se o colegial, o que resultou na mudança da Lei básica de normalização do ensino; a Lei 5.692/71, a qual norteou toda a educação básica neste período.

Em meio a este contexto histórico, a cidade de Ituiutaba recebe assim, através do PREMEM (Programa de Expansão e Melhoria do Ensino Médio) em convênio com o Estado, a implantação da Escola Estadual Polivalente “Antônio Souza Martins”, situada em área central desta cidade. No entanto, esta Escola trazia um diferencial que a distinguia das demais escolas também implantadas neste período: a proposta de ensino curricular, bem como as metodologias aplicadas no processo de ensino e de aprendizagem aos alunos.

Neste sentido, essa Escola se mostrou à população tijucana como uma nova expectativa de instituição pública que viria ser instalada na cidade, sendo já considerada uma Escola Modelo, pois apesar de toda a excelência de seu prédio, ofereceria aos futuros alunos uma formação Técnica integrada ao Ensino Regular e assim um novo modelo de proposta educativa pedagógica. A futura implantação desta instituição, como constatado em acervo histórico, foi consideravelmente anunciada em jornal da cidade quando ainda se encontrava em processo de construção: “O Ginásio Polivalente será sem sombra de dúvidas, uma nova arrencada de Ituiutaba no setor educacional e haverá de contribuir muito para com o nosso desenvolvimento sociocultural e econômico. (sic)” (Jornal de Ituiutaba, 4 de novembro de 1973).

É possível identificar a partir de sua arquitetura a ampla construção destinada a suas atividades, bem como ao espaço de sua área física. Neste sentido, a construção dessa Escola se constitui em um avanço de modernidade educacional da época, uma vez que esta, apesar de contar com todas essas especificidades, era pública e visava atender aos anseios da comunidade tijucana por mais oportunidades de escolarização, especialmente na esfera pública.

O Colégio Polivalente, deste modo, iniciou suas atividades no ano de 1974 sendo o ensino ofertado aos estudantes da 5ª à 8ª séries do 1º Grau, sendo a partir do ano de 1984 implantado também o ensino de 2º Grau – 1º, 2º e 3º anos. O ensino assim decorria de um currículo desenvolvido sob planejamento específico, visando à formação integral do aluno com disciplinas regulares, bem como à formação profissional técnica a partir de conteúdos diversificados e aulas práticas que seriam realizadas em espaços adequadamente organizados, em salas e laboratórios que abrangessem o aparato necessário à aprendizagem, como os mobiliários e recursos de materiais usados por alunos e professores.

Tendo em vista a implantação do ensino técnico profissionalizante nesta instituição, referente ao seu Cronograma Curricular, podemos vê-lo como constatado, organizado em seus conteúdos específicos em Núcleo Comum e a Parte Diversificada; estando as atividades de Preparação para o Trabalho integradas a estas dentro de uma carga horária prevista e sob a forma de aprimoramento ao trabalho.

A cidade de Ituiutaba recebera assim uma nova forma de modelo educativo, ou seja, uma escola projetada para um ensino diferenciado dos demais Currículos, já que a prática pedagógica seria integrada ao ensino profissionalizante vinculada às demais disciplinas da Grade Curricular do ensino regular.

Como constatado no livro de “Posse e Exercício” do Acervo da Escola Polivalente no qual se encontra o registro datado da entrada dos profissionais a partir do ano de 1976, restringindo-se ao ano de 1985, considera-se que houve um bom número no quadro dos profissionais que estiveram inseridos no interior dessa instituição, como professor(a), supervisor pedagógico, orientador educacional, inspetor de alunos, servente, serviçal, auxiliar de secretaria e auxiliar de biblioteca.

É visto mediante o recorte temporal do referido documento, especificadamente ao quadro de professores, a existência de um significativo percentual em relação a questão do gênero, ou seja, a maioria dos(as) docentes que atuaram no Polivalente neste período determinado, constituía-se por professoras; uma vez que sob o total de 71 contratados, havia 47 professoras e 24 professores.

A Escola Polivalente, desde o início de suas atividades, em sua singularidade, contou com professores que demonstraram ter se dedicado intensamente ao processo de consolidação do ensino na instituição. No período aqui delineado, os professores que tiveram participação nesta pesquisa partilharam de lembranças e vivências compreendidas através de suas práticas desenvolvidas no âmbito educacional junto aos que coletivamente construíram parte dessa história no tempo em que atuaram no Polivalente.

Mediante os depoimentos dos docentes, para o ingresso como professores no Polivalente era necessário antes fazer concurso, os candidatos aprovados tinham como requisito fazer o Curso Superior de Curta Duração na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); quanto ao processo de seleção para a contratação na escola, após a graduação do curso, esta seleção era feita por concurso CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), os aprovados eram admitidos e tinham a carteira assinada.

Ao fazer considerações sobre a relação estabelecida entre os docentes quanto à organização do trabalho pedagógico realizado no Polivalente na época, o ex-diretor relatou que não enfrentou dificuldades, já que eles sabiam sobre sua visão pedagógica, bem como da sua intenção de ação educativa naquela escola, a sua postura e a forma de atuação como educador. Assim, o ex-diretor colocou que aprendeu muito nos estudos que realizou sobre o pensamento de Paulo Freire, como também na qualidade de ter sido aluno deste autor, tendo assim se identificado com a educação proposta por este educador, sob a qual pensou em uma escola aberta para todos, alunos, professores, funcionários e comunidade.

Contudo, na escola pesquisada, foi perceptível a intenção da equipe gestora e docente na proposta de promover um ensino voltado para uma formação integrada e não apenas focada na profissionalização, fato observado pelas atividades desenvolvidas no interior da instituição, fomentando a participação de alunos, pais, funcionários e comunidade nos eventos como festas comemorativas, dias de convívio na escola, reuniões, desfiles, torneios esportivos, dentre outros.

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