José de Alencar, o mestre romântico 

Alexandre Azevedo

José Martiniano de Alencar Júnior nasceu em Mecejana, Ceará, no dia primeiro de maio de 1829. Primogênito dos sete filhos de um padre que largou a batina, após conhecer uma prima, para se casar. Este seu pai, também de nome José Martiniano de Alencar, foi importante político, tendo sido senador e presidente da província do Ceará.

José de Alencar estudou direito na faculdade do Largo do São Francisco, em São Paulo, onde travou amizade com os poetas do mal do século Álvares de Azevedo e Aureliano Lessa e com o futuro romancista de A escrava Isaura e O seminarista, Bernardo Guimarães, que juntos fundaram a famosa Epicureia, uma sociedade “etílico-literária-charutesca”, que marcou época naquela faculdade.

Formado em direito, exerceu a advocacia, seguindo também uma promissora carreira política, sendo ministro da justiça de Pedro II, deputado por vários mandatos. Entretanto, teve o seu nome vetado pelo próprio imperador a uma cadeira no senado, por ocasião de uma desavença literária, envolvendo o poeta Gonçalves de Magalhães, que havia publicado o seu poema épico-indianista, Confederação dos Tamoios, sob as expensas do Pedro II. Ao declarar que sua obra se tornaria o símbolo da poesia brasileira (assim como Os Lusíadas, de Camões, simbolizavam a poesia de Portugal), recebeu críticas negativas de Alencar em artigos assinados sob o pseudônimo de Ig. Pedro II saiu em defesa do amigo poeta e introdutor do Romantismo brasileiro, com o artigo Um Outro Amigo do Poeta. Não satisfeito, proibiu Alencar de sentar-se no senado, alegando que ainda era jovem para tal cargo. Inconformado, Alencar retrucou, dizendo ao imperador como alguém de 14 anos poderia, então, ter assumido o império.

Decepcionado com a política, passou a dedicar-se com mais frequência à carreira literária (e também à jornalística), explorando o romance, a crônica, o teatro, a poesia, a crítica literária e a polêmica, tornando-se o mais completo escritor do Romantismo brasileiro.

Como jornalista, José de Alencar soube como ninguém explorar o espaço que lhe era concedido nas folhas da época. Criou colunas para suas crônicas, publicou seus romances de folhetim, já que era muito difícil conseguir quem os editasse em livros – vale a pena lembrarmos que uma editora nacional só surgiu no começo do século XX, fundada pelo pré-modernista de Urupês, Cidades mortas e Negrinha, a Monteiro Lobato e Cia. Também não se deixou intimidar, escrevendo críticas e criando polêmicas, que fizeram dele um dos nomes mais respeitados, admirados e temidos no meio jornalístico da época.

Alguns de seus romances, como Senhora e Lucíola, já deixavam transparecer, devido aos temas tratados, características realistas; já outros como O Guarani e Iracema fizeram de Alencar o maior romancista romântico de nossa literatura. O primeiro, quando publicado no Diário do Rio de Janeiro, sob forma de folhetim, causou tanto impacto, furor e frenesi na época, que era comum pessoas em círculo escutando um leitor de boa voz contar o capítulo do dia. Já Iracema, uma das obras-primas de nossa literatura, é considerado um verdadeiro poema em prosa (ou uma prosa poética?), devido à beleza e a uma rara sensibilidade com que nos é contada a história de Martim e Iracema. Vale a pena ressaltarmos que José de Alencar deixou incompleta uma obra poética indianista de nome Os Filhos de Tupã.

Conhecedor de nossa cultura indígena – assim como Gonçalves Dias na poesia –, Alencar, como vimos, escreveu três romances indianistas: O Guarani (este também com valor histórico, daí o introdutor do romance histórico na literatura brasileira), Iracema e Ubirajara. O caso é que, se tivesse escrito dois romances, faltaria um; se tivesse escrito quatro, estaria sobrando um. Portanto, três é o número ideal. Por quê? Ora, em O Guarani, temos a figura do índio assimilando a cultura europeia de Ceci e sua família; em Iracema, temos o contrário, isto é, a figura do europeu, no caso Martim, assimilando a cultura indígena de Poti e Iracema. Já em Ubirajara, temos somente a presença do índio, já que, ao contrário das duas anteriores, que se passam por volta de 1600, esta se passa antes de 1500, portanto, sem a presença do elemento branco. Por isso, consideramos Ubirajara, o mais aborígene romance de Alencar. Que outro romance indianista Alencar poderia ter escrito? Nenhum, pois todas as alternativas foram, magnificamente, exploradas por ele.

Mas também encontramos falhas em José de Alencar, como, por exemplo, na obra regionalista O Gaúcho, cujos pampas jamais foram visitados por Alencar, caracterizando a superficialidade do texto. Mas isso não o desmerece nem um pouco, pelo contrário, José de Alencar, quando ministro da justiça do imperador Pedro II, auxiliou-o na unificação do país, já que Pedro II o encontrou totalmente desunido, sendo as suas províncias (hoje, estados) sobrevivendo de maneira autônoma, quase como pequenos países. Daí, a importância de José de Alencar ao escrever romances retratando as diferentes regiões do Brasil, numa clara intenção de mostrar aos brasileiros o que eles não conheciam. Pensando assim, apareceram, além do já citado O gaúcho, romances como O tronco do ipê, cujo cenário é o interior fluminense; O sertanejo, cuja paisagem é nordestina; Til, tendo como espaço o interior paulista. Vale ressaltarmos que não era só a “cor local” que estava sendo retratada, mas as tradições, o folclore, a cultura e o linguajar típicos de cada região.

José de Alencar morreu no Rio de Janeiro, em 12 de dezembro de 1877, acometido pela tuberculose.


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