Cultura e formação de professores: a escola normal de Piracicaba – Ana Nery e Tony Honorato

Cultura e formação de professores: a escola normal de Piracicaba

Ana Clara Bortoleto Nery

Tony Honorato

As escolas de formação de professores criadas após a Proclamação da República, no estado de São Paulo, foram palco não só de formação de professores, mas também de uma forte possibilidade de formação de novos intelectuais. Tomando como objeto a Escola Normal de Piracicaba podemos evidenciar tal afirmação.

A Escola Normal Primária de Piracicaba foi fruto da transformação, em 1911, da Escola Complementar de Piracicaba – criada em março de 1896, instalada em 21 de abril de 1897 sob a direção de Antonio Alves Aranha (ANUÁRIO DO ENSINO, 1907-1908). Piracicaba naquele período representava uma síntese do processo histórico de relações entre imperialistas, republicanos, abolicionistas, fazendeiros, comerciantes, católicos, protestantes, maçons, imigrantes e populares que configuravam uma urbanidade com o desejo de atingir certo padrão de civilizatório de destaque na província paulista e de certa maneira no Brasil. Para tanto, tornava-se necessário a ampliação da esfera pública por meio do avanço da institucionalização da instrução e da potencialização da cultura urbana, o que pode ser constatado na existência de várias organizações públicas e privadas de grande monta: a Escola Agrícola “Luiz de Queiroz” (atual ESALQ/USP), a Universidade Popular de Piracicaba (U.P.P.), Grupo Escolar “Barão do Rio Branco”, Grupo Escolar “Moraes Barros”, Colégio Piracicabano (Metodista), Orquestra Sinfônica, Clube Piracicabano e várias agremiações de ordem social e cultural.

Nesta conjuntura sociocultural, a Escola Normal atraia de diferentes regiões do estado não só jovens interessados na carreira do magistério, como também aqueles que viam nela a possibilidade de uma ampliada formação. Pela Escola Complementar haviam se formado os irmãos Alípio e João Dutra que foram mestres em belas artes e desenhos escolares, Sud Mennucci que se transformara em uma liderança da educação paulista, Léo Vaz renomado jornalista e literato, Thales Castanho de Andrade reconhecido por seus livros de literatura infanto-juvenil (dentre eles Saudade, publicado pela Companhia Editora Nacional, dentro da Coleção de Leitura Escolar: série Thales de Andrade) e pela defesa do ruralismo pedagógico, Fabiano Lozano músico nascido na Espanha e radicado no Brasil, e que ao lado de seu irmão Lázaro Lozano podem ser considerados uns dos precursores do ensino orfeônico no estado.

O diretor desde 1904 era Honorato Faustino de Oliveira – que ficara como tal até 1928, quando foi se dedicar a direção da Normal da Capital. Ao longo de sua vida profissional na Escola de Piracicaba, formou-se em Medicina em 1920 pela Universidade de Curitiba e deu uma importante contribuição musical, sendo regente da orquestra da U.P.P. (Cf. Jornal de Piracicaba, 04/09/1912) e autor de obras como o Repertório escolar (1915), Cantos escolares para orfeão a 3 e 4 vozes (1928), Cantos escolares para orfeão a 2, 3 e 4 vozes (1929). Foi sob sua orientação que a escola ganhou prédio próprio, inaugurado em 1917.

Imagem: Escola Normal de Piracicaba, 1917. Rua São João. n. 1121, Bairro Alto, Esquina com a R. XV de novembro. Piracicaba/SP.

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Descrição: 1 Fachada do Prédio 1917.jpg. Fonte: Acervo Permanente da Escola Estadual “Sud Mennucci”.

Em 1920, com a Reforma “Sampaio Doria”, as escolas normais primárias e as secundárias foram consideradas de tipo único deixando de existir dois modelos de formação de professores. A Normal de Piracicaba em 1921 foi fortalecida com a presença de destacados professores, entre eles Manoel Bergström Lourenço Filho na cadeira de Psicologia e Pedagogia e na da Prática Pedagógica. No pouco tempo em que permaneceu nesta instituição, pois dela foi se dedicar a Reforma do Ensino no Ceará (1922), Lourenço Filho dedicou-se ao desenvolvimento dos testes escolares, tendo como fonte de estudo e ensino aos alunos da Escola Normal e de seus estabelecimentos primários anexos. Em Piracicaba Lourenço Filho entrou em contato com os professores norte-americanos e com a biblioteca do Colégio Piracicabano (HILSDORF, 1998), e também compartilhou a criação do periódico Revista de Educação – órgão da Escola Normal de Piracicaba (1921-1923) que teve o papel de difusão da Reforma “Sampaio Doria”.

Em Piracicaba, a partir e em torno da Escola Normal, configurou-se um círculo de intelectuais potencializador da cultura e da formação de professores. Entre seus membros, o professor Sud Mennucci, em 01 de março de 1945, foi escolhido para patrono da Escola, então denominada Escola Normal “Sud Mennucci” pelo decreto 14.575. No ano de 1953, no dia 7 de agosto, foi assinado decreto transformando a Escola Normal “Sud Mennucci” de Piracicaba em Instituto de Educação “Sud Mennucci” de Piracicaba. Atualmente a instituição é denominada como Escola Estadual “Sud Mennucci”, ou, ainda, no imaginário social piracicabano, como “Sud”.

 

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