Hipólita Jacinta Teixeira de Melo: a única inconfidente mineira

Raquel Melilo
Renata Andrade

A história da Inconfidência Mineira e de seus participantes, especialmente Tiradentes, é largamente conhecida pelos brasileiros, afinal temos um feriado, dia 21 de abril, que busca manter viva a memória coletiva sobre tal evento. Porém, a forma como a história é contada esconde outros personagens importantes.

Hipólita Jacinta Teixeira de Melo nasceu em 1748, na cidade de Prados, interior de Minas Gerais, e foi casada com um integrante da sedição chamado Francisco Antônio de Oliveira Lopes. Ela fez parte do grupo dos inconfidentes e poucos de nós a conhecemos. Segundo o  historiador André Figueiredo Rodrigues, no livro  Mulher na Inconfidência Mineira, Hipólita foi  a única mulher a participar da Inconfidência de forma direta. Vale destacar o envolvimento indireto de Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, noiva do inconfidente Tomás Antônio Gonzaga, que foi preso e exilado na África pouco tempo antes do casamento acontecer e Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira, casada com advogado e ouvidor da câmara José da Silveira e Sousa que também foi preso por participar do movimento.

No livro Hipólita: a Mulher Inconfidente do historiador Ronaldo Simões Coelho afirma-se que ela estava envolvida com as comunicações entre os inconfidentes entregando cartas e bilhetes, pois sua fazenda estava perto de uma estrada que facilitava a locomoção, comunicação e se tornou local de encontro dos inconfidentes. Quando os envolvidos foram presos, Hipólita organizou, junto a outros militares participantes, uma revolta armada que tentava salvar a Inconfidência. Ou seja, a ordem para dar início a uma resistência armada na região das minas foi dada por uma mulher!  Além disso, ela impediu que seu marido entregasse ao governador das minas uma carta detalhando o movimento, pois ele desejava a diminuição da pena. Em seu depoimento, Francisco Antônio de Oliveira Lopes, afirmou que sua esposa colocou fogo na carta. Quando a repressão começou Hipólita orientou outros inconfidentes que se escondessem. Antes do julgamento de seu marido, tentou oferecer à rainha de Portugal, Dona Maria I, um cacho de bananas de ouro, em tamanho natural, desejando obter o perdão ao cônjuge.

Apenas os homens foram julgados, porém sua vida sofreu impactos do fracasso da Inconfidência, pois os familiares dos envolvidos também foram penalizados e os bens herdados de seu pai, rico minerador,  foram confiscados e ela passou um bom tempo na busca por reavê-los, inclusive escrevendo para autoridades portuguesas. Alguns deles foram recuperados, tal como uma fazenda e alguns móveis.

Sua participação foi efetiva em todas as etapas da Inconfidência: na organização, na resistência após as denúncias, nas tentativas de ajudar os inconfidentes a se esconderem e na tentativa de absolver seu marido. Além de sua busca, por anos, em  reaver seus pertences, assumindo inclusive, a liderança dos negócios da família após a prisão de seu marido, assim como fez também Bárbara Heliodora. Tudo isso  demonstra que Hipólita e, outras mulheres mineiras, eram corajosas e atuantes politicamente nas minas e nos revela como a participação feminina se dava para além dos afazeres domésticos. Em uma carta ao marido, escondido devido a desarticulação do movimento, Hipólita deixa uma lição atemporal para mulheres e homens: “E quem não é capaz para as coisas, não se meta nelas; mais vale morrer com honra do que viver com desonra. Portanto, também na Inconfidência Mineira, as mulheres estavam lá. E, como tantas outras, foram esquecidas.


Imagem de destaque: Galeria de Imagens

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *