Golpes e mais golpes, contra a diversidade, contra a vida

Tiago Tristão Artero

O pensamento colonizante avança, assim como o enfrentamento institucional ao pensamento decolonial. A resistência também se reorganiza.

O maior golpe dessas terras de Abya Yala veio desde antes de 1500, quando a futura denominada América Latina foi considerada terra inabitada, própria para ser ocupada, cristianizada, explorada, em toda suas formas de vida e em toda sua diversidade. O relato é que os chamados índios podiam ser (covardemente) cortados a golpes de facão tão facilmente quanto se corta um caule de bananeira.

Apesar do que se constituiu ser dito como algo em que a capacidade de escolha e de manifestação seja plural, o fato é que o avanço da colonização e do capitalismo só padroniza, hegemoniza ideias e práticas e, também por isso, combate a diversidade.

As monoculturas mostram isso, as monoculturas da mente também (Vandana Shiva), a alimentação, moradias, remédios, relações sociais, avaliações em larga escala, práticas corporais, etc… tudo “devidamente” padronizado e controlado institucionalmente pelas leis. Mas a diversidade resiste.

A proibição de religiões afrobrasileiras, a proibição da capoeira, da existência dos quilombos após a chamada “abolição da escravidão” (e da soberania alimentar que já possuíam), a proibição das(os) indígenas permanecerem em suas terras ancestrais… tudo isso foi golpe.

O Macarthismo, ou seja, a perseguição aos que representavam uma “ameaça vermelha”, fortaleceu o Golpe Militar no Brasil… Tudo golpe.

Já nos anos 2000, a Reforma do Ensino Médio, a BNCC, o programa do Temer “Uma Ponte para o Futuro”, o Relatório do Banco Mundial (“Um Ajuste Justo: uma análise da eficiência e equidade do gasto público no Brasil), a Lava Jato, o Marco Temporal (que impede comunidades indígenas de permanecerem ou reocuparem seus territórios, mesmo em terras que estavam em processo de demarcação), a prisão do Lula, o impeachment da Dilma, tudo isso fez parte do contexto do golpe.

Justifica-se que o Brasil não pode ampliar os mecanismos de participação popular porque o sistema empresarial em que vivemos é soberano e que “precisamos muuuito” de responsabilidade fiscal para sermos um país desenvolvido. Mentira. Nunca seremos na geopolítica (mundial), da forma como está organizada… nossas commodities só ampliam e até a água virou commodity, ou seja, também virou mercadoria.

A falta de diversidade é tão grande que mesmo dentro da romantização da tecnologia, da implantação mentirosa nas mentes das pessoas de que soluções tecnológicas irão resolver problemas biológicos, ainda assim, os países chamados subdesenvolvidos e os em desenvolvimento precisam ficar exatamente onde estão e todo poder econômico, político e militar mundial irão garantir que assim permaneçam.

Enquanto isso, o Antropoceno avança, uma nova era em que os efeitos da devastação da natureza se tornam irreversíveis e irão tornar inóspito o ambiente para a continuidade da vida humana na Terra. Mas quem dá golpes não se preocupa com isso, nem com a natureza, muito menos com as próximas gerações.


Imagem de destaque: Amazonia Real / Flickr

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