Extensão e pesquisa: duas ou três notas para pensar a Universidade
Desde que ingressei na UFSC como professor efetivo, formalmente em 1998, mas, de fato no ano seguinte, promovo e envolvo-me com atividades de extensão. Cursos pontuais, organização de eventos, mas, em especial, programas de formação continuada, fazem parte de minha história na instituição, já havendo estado presente, inclusive, quando eu cursava o mestrado lá mesmo e quando exerci o cargo, durante pouco mais de um ano, de professor substituto. Suponho não ter passado mais de um semestre, desde meu ingresso como professor de ensino superior, sem que haja atuado em algum projeto ou programa de formação de professores.
Como ilustração, menciono dois exemplos desse envolvimento com a extensão. Mais um pouco e completará uma década que coordeno um projeto de apoio à formação continuada, que é gerido pelos próprios participantes, de professores de Educação Física, minha área de origem e com a qual mantenho uma relação que não é tão intensa quanto já foi, mas que segue sendo para mim importante (http://efinfantil.blogspot.de/). Desde maio de 2014 sou editor adjunto da Extensio: revista eletrônica de extensão, da própria UFSC, trabalhando com uma equipe liderada por Luciane Maria Schlindwein. A propósito, a Extensio publicou em seu último número um artigo sobre o Projeto Pensar a educação, pensar o Brasil.
Não sei exatamente o motivo, mas, apesar disso tudo, nunca me senti extensionista, como me sinto, malgrado minhas notórias insuficiências, pesquisador e professor. Pelo menos, nunca me senti suficiente extensionista, a ponto de reivindicar essa condição. No entanto, me parece que a extensão é assunto dos mais importantes, mas, de certa forma, secundarizado no debate universitário. Nas campanhas eleitorais para Reitor tem sido tema menor, incomparavelmente menos presente que pesquisa e ensino nas propostas e debates. Um outro exemplo é o relativamente baixo valor que as experiências de extensão têm na análise de currículo em concursos públicos para o cargo de professor universitário. A tríade universitária parece que só alcança sua realização plena, e apenas na forma de aparência, ao ser pronunciada.
Penso que deveríamos dedicar mais atenção à extensão universitária. Suponho que sua problemática, e talvez este seja um motivo de haver tantas dificuldades na reflexão sobre ela, seja da ordem da relação entre Universidade e sociedade. Sem desconsiderar que esta relação deva ser observada também no ensino e na pesquisa, ela ganha uma centralidade especial na pauta da extensão.
A pós-graduação organiza, de forma geral, a pesquisa na Universidade brasileira, como todos sabemos, e como já foi várias vezes objeto neste Boletim, inclusive em algumas de minhas contribuições. Os órgãos de fomento à pesquisa oferecem moldura e pauta para a pós-graduação, ou seja, há um organismo que centraliza as diretrizes da pesquisa que são, em última análise, objeto de decisão dos próprios pesquisadores. Mas isso não é de todo verdade, ou pelo menos não é a única face da questão. Uma parte grande da pesquisa universitária é determinada, em seus fins, pelos interesses intrínsecos da ciência, mas, também, pelos que são, por assim dizer, da sociedade. Em princípio, uma coisa não se incompatibiliza com a outra, embora às vezes sim, já que a sociedade é uma arena de conflitos.
Não tem sido incomum que editais de fomento sejam direcionados para questões galvanizadas pelos órgãos estatais, como é o caso de temas como gênero, Jogos Olímpicos, clima, questões étnico-raciais, incubadoras tecnológicas no contexto da economia solidária, entre tantos outros. Da mesma forma, mas com montante muito mais expressivo, há um forte incentivo para o desenvolvimento de tecnologia industrial, em suas diversas faces. Em pelo menos alguns casos, a capacidade de geração de um “produto” (não propriamente acadêmico) não é nada menosprezada quando se decide pelo fomento à pesquisa. Se muitas vezes o interesse da sociedade se mescla com o de grandes grupos industriais (ou seja, com uma pequena parcela dela, que em grande parte a domina), é algo que merece uma análise mais cuidadosa, mas, de qualquer forma, é função da Universidade operar para que prevaleça o interesse público no uso de seus esforços na pesquisa, o que inclui o tempo de trabalho e a formação de seus pesquisadores e técnicos, o uso de seus materiais, os recursos financeiros de que dispõe ou capta. O “mercado”, esse fetiche que parece ter vida própria, não pode ser o ordenador das condutas, ainda que deva, numa sociedade capitalista minimamente regulada, ser um dos vetores da economia. Precisamos de desenvolvimento tecnológico, mas isso tem que estar vinculado a um projeto de desenvolvimento social.
O mesmo deve acontecer com a extensão universitária. Os organismos de fomento à extensão nem de perto têm a mesma força que os da pesquisa, de maneira que a prática extensionista não encontra a mesma organicidade, estando muito a cargo de empreendimentos individuais, frequentemente esporádicas e deslocadas de um programa mais permanente. Sem perder a singularidade das iniciativas, a extensão precisa ser mais programática nos termos das funções sociais da Universidade. Não pode ser apenas esforço individual, tampouco mera prestação de serviços, mas ação estratégica que expresse o compromisso com o que é público. Compromisso que, reafirme-se, não é só da extensão.
Berlim, novembro de 2015.
https://zp-pdl.com/emergency-payday-loans.php https://www.zp-pdl.com http://www.otc-certified-store.com/neurological-disorders-medicine-usa.html