Esperançar é preciso

[vc_row][vc_column][vc_column_text]Pôster/thumbnail do filme Reverberações Freireanas. O pôster é feito no estilo de colagem digital, representando a característica de cinema de arquivo do filme.

 

“(…) nós nos tornamos capazes de conhecer-nos como inacabados (…) mais do que o puro  inacabamento, nós somos conscientes do inacabamento. Ora, a minha tese é a seguinte: um ser que inacabado se sabe porém inacabado, ele necessariamente se insere num permanente processo de procura. A educação é esse processo! E agora a minha pergunta é a seguinte: será possível procurar sem esperança?” (Paulo Freire)

“Reverberações Freireanas” se inicia com essa fala/indagação de Paulo Freire. Quem procura quer mesmo encontrar? E como procurar? E mais, como buscar algo que não se espera encontrar?

Em mim, há um constante questionamento sobre como algumas pessoas poderiam  buscar a educação sem acesso, sequer, à informação de que é possível. Não sou uma conhecedora dos processos de pensamento e viabilização da educação no nosso país, mas sou capaz de falar de mim e por mim. Durante toda a minha educação, nunca tive acesso à informação de que era possível que eu, uma pessoa de origem periférica, pudesse ter acesso à uma Universidade Pública. A distância que me separava da Universidade Federal era, principalmente, a falta de informação. Pra mim, sempre foi impossível. Mas o possível pra mim era, no máximo, acessar uma Universidade Privada através de programas como ProUni e o Financiamento Estudantil. Foi o que fiz: me formei em 2014. Minhas prestações do Fies terminam em 2029.

Sabe quando, lá em cima, você leu uma citação onde Paulo Freire questiona sobre a esperança? Eu questiono agora, como ter esperança quando não se sabe que é possível? E, para além disso, me questiono: é realmente possível? Se sim, pra quem?

Na pandemia de Covid-19 os questionamentos aumentaram em mim: é realmente possível ter acesso aos lugares de educação? O Governo disse que sim e fez uma propaganda dizendo que os jovens deveriam estudar para o Enem da forma que fosse possível. Paralelo a isso, a taxa de abandono de estudantes do ensino médio cresceu de 2.3% em 2020 para mais de 5% em 2021. Nas regiões mais pobres do país, essa taxa ultrapassou 10%, mais que o dobro da média nacional. Questiono novamente: há esperança? Pra quem?

Em um teste aplicado pelo Ministério da Educação para medir o impacto da pandemia na educação, 3.2 milhões de alunos do ensino médio acertaram 27% das questões básicas de português e matemática.

Há esperança?

Em todo o tempo enquanto assisto ao “Reverberações Freireanas” penso na esperança da busca e do encontro, conforme a fala de Paulo Freire. E ao mesmo tempo em que essa esperança é alimentada quando vejo estudantes se ajudando e se apoiando ou ainda protestando por uma educação melhor, essa esperança é posta à prova quando esses mesmos estudantes, que buscam melhorias, são espancados pela polícia que, em teoria, estava ali para “manter a ordem”. Qual a diferença entre essa PM e àquela que assassinou Edson Luis e tantos outros estudantes durante a ditadura?

Ao mesmo tempo em que a esperança aumenta ao pensar no quanto nossos jovens são determinados em busca de uma educação melhor e o quanto são empenhados em buscar seu espaço em lugares que sempre lhes foram negados, como Universidades Públicas, esta esperança se esvai quando, na mesma semana que escrevo este texto, há um corte de verbas e um verdadeiro desmonte dessas mesmas Universidades.

Ao mesmo tempo que uma propaganda do governo tenta nos convencer de que TODOS os estudantes estão em plenas condições de realizar o Exame Nacional do Ensino Médio, dados como os que citei acima mostram os impactos da pandemia no ensino, principalmente dos mais pobres. Nesse caso, o Enem reduz ou aumenta o abismo entre jovens ricos e pobres?

Enquanto assistia ao filme e enquanto escrevo esse texto, sigo com o mesmo questionamento: Há esperança? Pra quem?

E, pra finalizar, como o filme foi finalizado, questiono (como talvez esteja claro, questionar é uma das minhas coisas preferidas. rs): a responsabilidade está nas mãos de quem?

“Estão me colocando dentro de uma sala de aula com UM GIZ e UM QUADRO pra salvar o Brasil? (…) Sou eu a redentora do país?” (Professora Amanda Gurgel na Assembleia Legislativa do RN)

 


 

 

Ariane Lazário é fotógrafa, atriz, formada em Ciências Contábeis e curiosa. Buscando sempre novos caminhos ou novas formas de trilhar caminhos já traçados, Ariane vive misturando as coisas: coloca fotografia em cena, faz direção fotográfica, usa aprendizados da contabilidade em produção… E assim segue, aprendendo, se desafiando, escrevendo, errando e aprendendo mais.

 

 

 

 

 

Reverberações Freireanas é um filme para todos os espaços, mas especialmente para a sala de aula. Com tempo de exibição de 15 minutos, o curta foi pensado para caber em uma hora-aula.

 

Assista ao filme no YouTube ou baixe ele na íntegra para exibir como preferir.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *