Esmeralda Rocha Bunazar e a construção da identidade do "Grupo Escolar Minas Gerais" em Uberaba/MG– 1944 a 1962 – Maria Aparecida Alberto Assis Souza

Esmeralda Rocha Bunazar e a construção da identidade do “Grupo Escolar Minas Gerais” em Uberaba/MG– 1944 a 1962

Marilsa Aparecida Alberto Assis Souza

No ano de 1944 foi inaugurado em Uberaba, cidade do interior de Minas Gerais, o segundo grupo escolar do município, que teve como denominação “Grupo Escolar Minas Gerais”. Uma peculiaridade desta instituição é que tanto o decreto de criação quanto a construção de seu prédio ocorreu no final da década de 1920. Entretanto, o espaço físico da escola foi emprestado para o Batalhão da Polícia Militar, que lá permaneceu até a década de 1940.Sendo assim, após permanecer por aproximadamente dezessete anos sem atender às finalidades educativas para as quais fora planejado, em 1º de julho de 1944 o grupo escolar foi inaugurado e, no espaço pelo qual transitaram cabos, soldados, comandantes e coronéis, passaram a transitar alunos, professoras, diretora, serventes, pais, mães e inspetores técnicos de ensino.

Outra peculiaridade desta escola é que sua primeira diretora, chamada Esmeralda Rocha Bunazar, permaneceu à frente da organização escolar por dezoito anos consecutivos, conferindo assim uma identidade própria à instituição. Em seu discurso de posse, ela fez um apelo às professoras para que trabalhassem com entusiasmo e dedicação, para que assim o grupo escolar pudesse produzir todos os benefícios a que se destinava.

Sabe-se que o diretor era uma figura essencial na organização dos grupos escolares, pois além de ser o responsável pela escola perante o Estado, a ele cabia organizar, coordenar, fiscalizar e dirigir as atividades desenvolvidas na instituição. O diretor, portanto, era visto como o responsável pelo êxito ou pelo fracasso do grupo escolar. No caso do Grupo Escolar Minas Gerais, a diretora Esmeralda dedicou-se com afinco à sua função, chegando a afirmar, em uma entrevista concedida em 1993, quando recordava seu trabalho na escola, que “não tinha horário para sair, morava no grupo, era a primeira a chegar”.

Esmeralda Rocha Bunazar nasceu em 4 de julho de 1909, ou seja, começou a dirigir o grupo escolar com 35 anos de idade, lá permanecendo até os 53 anos. Porém, sua carreira no magistério público iniciou-se em 29 de abril de 1927, aos 18 anos de idade, quando assumiu o cargo de professora efetiva no primeiro grupo escolar de Uberaba, denominado “Grupo Escolar Brasil”. Em dezembro do mesmo ano foi transferida, a pedido, para o Grupo Escolar Bueno Brandão, em Uberlândia, onde permaneceu até julho de 1929, quando retornou a Uberaba. Em dezembro de 1934 foi designada técnica e em dezembro de 1940 foi posta à disposição da Interventoria Federal do Estado do Mato Grosso.  Quatro anos mais tarde, sua nomeação para a direção do Grupo Escolar Minas Gerais deu-se em virtude da indicação da professora Corina de Oliveira, ex-diretora do Grupo Escolar Brasil.

O fato de ter se mantido no cargo de diretora do grupo escolar por dezoito anos consecutivos fez com que Esmeralda Rocha Bunazar desempenhasse um papel de extrema importância na formação da identidade institucional. Sua atuação não se limitou a questões administrativas, burocráticas e disciplinares, uma vez que ela transitava, com desenvoltura, no âmbito pedagógico. Tal atuação é comprovada nas atas das reuniões docentes que ocorriam, periodicamente, na instituição. Ao todo, foram localizados no acervo da escola seis cadernos de atas que trazem relatos de 210 reuniões ocorridas entre 1944 a 1962, sendo que Esmeralda Rocha Bunazar conduziu mais de 180 delas.

Também chama a atenção a religiosidade da diretora, que se refletia no dia-a-dia da instituição, seja nos símbolos religiosos dispostos na entrada da escola; nas orações que precediam as reuniões pedagógicas; nos constantes apelos para que as professoras ensinassem religião aos alunos; nos votos de louvor, lavrados em ata, sempre que algum acontecimento especial marcava a vida escolar e na preparação dos alunos para a Primeira Comunhão. O poema a seguir, escrito por Esmeralda Bunazar e publicado na imprensa local na década de 1940, expressa a importância atribuída às aulas de catecismo e à celebração da Primeira Comunhão:

 

O Milagre

A igreja vai se enchendo aos poucos, de mansinho

As mulheres andam em silêncio, como se pisassem em arminho

Mas a criançada em bando num estranho alarido

Enche a igreja de repente, numa invasão colorida

Que encanta a alma da gente

Reparo uma por uma, e descubro você, Antoninho

Num terno todo alinhado… Você me parece mudado…

Não olha para ninguém

Tem um livrinho aberto, e de certo

Lê suas orações, sem ligar às distrações

Que se passou? Quem assim o transformou?

Entrei para o catecismo e a mestra me ensinou o que devia fazer

Agora sou outro! Amo a Deus muito e muito

E ao próximo a não mais poder…

Deixei em paz os passarinhos e as vidraças dos vizinhos

Quero sempre a Jesus imitar

E a Maria, tão pura, jamais deixarei de amar

Quem quiser ser bom menino ao CATECISMO não deve faltar.

– Tudo isso você me diria se eu fosse lhe perguntar

E eu sentiria então um desejo muito grande

De estreitar sua mestra ao coração

Que, em boa hora lhe indicou, a Escola da Redenção.

Assim, é possível inferir que a diretora Esmeralda Rocha Bunazar contribuiu, sobremaneira, para a construção da identidade escolar no período em apreço. De forma geral, os diretores dos grupos escolares, mesmo tendo como parâmetro a seguir a legislação em vigor, acabavam por produzir representações acerca da escola e redefinir suas próprias funções, imprimindo uma identidade própria ao estabelecimento que dirigiam.

Mesmo tendo deixado a direção em 1962, sua aposentadoria aconteceu em 1964. Deixou, entretanto, um importante legado para a instituição, tendo sido, na escola, a diretora que ocupou esse cargo por mais tempo, sempre ativa e envolvida nos assuntos educacionais.

Marilsa Aparecida Alberto Assis Souza é Doutoranda em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia.

 

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