Escolas sob ataque!

Nos últimos anos, a partir do explícito incentivo do Governo Federal e vários de seus aliados dentro e fora das estruturas de Estado, as escolas públicas brasileiras vivem sob contínuo ataque motivado pela intolerância e pelo ódio político-religioso. Apenas nas duas últimas semanas, no Espírito Santo e em Minas Gerais, os ataques deixaram quatro pessoas mortas – três professoras e uma aluna –, dezenas de pessoas feridas e prédios vandalizados.

Aos ataques que atingem os espaços escolares e as pessoas que os habitam somam-se aqueles outros, de natureza simbólica, que, por caminhos tortuosos, mas conhecidos, teimam em tornar as instituições públicas de ensino não apenas inseguras e povoadas pelo medo, mas também como inimigas da população e incapazes de cumprir com a elementar, ainda que complexa, tarefa de proteger e de educar as novas gerações.

Como se sabe, ao longo da história, as escolas públicas foram demandadas pela população e disseminadas nos territórios como uma instituição de guarda e formação das novas gerações. Na conjugação de esforços do poder público, das próprias famílias e dos/as profissionais que atuam na área, para garantir o direito à educação, construiu-se uma rede que acolhe, hoje, mais de 50 milhões de estudantes. Boa parte deles, dependentes dos cuidados escolares não apenas para a sua formação intelectual, mas também para os cuidados e proteção enquanto os pais ou responsáveis estão trabalhando fora do ambiente doméstico.

Quando o local de acolhida, cuidado e formação de crianças e adolescentes sofre ataques como os que têm se tornado comuns nos últimos anos, há um sintoma que precisa ser interpretado. Precisamos garantir que as condições que o geram deixem de atuar na mobilização das pessoas para a violência e o crime.

Pode-se dizer, com razão, que a escalada de violência contra as escolas, os(as) profissionais da educação e o alunado, vem em resposta às demandas pela destruição das instituições públicas e dos adversários emanados dos ocupantes dos mais altos cargos da República. Nesta perspectiva, há uma certa legitimidade em perguntar: se a escalada da violência fascista atinge o conjunto dos espaços e instituições sociais, por que deixaria a escola de fora?

De fato, não há recurso material algum que estanque as respostas às demandas por violência disseminadas diuturnamente por todos os nossos territórios, sobretudo naqueles habitados pelas populações pobres, negras e indígenas, quando as próprias instituições públicas são as que demandam e afligem parte significativa dessas violências.

A única forma de combater aqueles e aquelas que têm a escola e as populações escolares com alvo é uma ampla política de combate ao fascismo, ao armamento e de punição aos responsáveis diretos e indiretos pelos atos de violência, sejam eles agentes públicos ou privados. É uma ilusão achar que a escola ficará a salvo da violência, enquanto a polícia, as milícias, os fazendeiros e outros coletivos ceifam as vidas de centenas de pessoas nas ruas, nas periferias, nos morros e nas florestas de todo o Brasil.

Doutra parte, sabendo que ninguém nasce fascista, racista, machista, homofóbico ou partidário/a de qualquer outro tipo de violência, cabe à escola, como a mais capilar e inclusiva de todas as instituições públicas, desenvolver programas que ajudem às novas gerações a elaborar seus ímpetos agressivos, de tal forma que não se transformem em violências, mas também a identificar e a combater o conjunto dos atos violentos que impactam seus/nossos corpos e mentes. Simbolizar, representar, elaborar a agressividade e a violência pelos diversos meios de que dispomos na escola e fora dela são, afinal, algumas das únicas possibilidades de uma ação educativa consciente e comprometida com uma sociedade não violenta, democrática,  igualitária e socialmente justa.


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