Educação pré-moderna, moderna e pós-moderna

Antônio Carlos Will Ludwig

A pré-modernidade, em termos numéricos e de modo aproximado, pode ser concebida como a época que vai do ano mil à mil e quinhentos e é denominada pelos estudiosos do assunto como Idade Média. Eles propuseram três alcunhas sobejamente conhecidos: Alta Idade Média onde predominou a ação reconstrutiva por causa colapso do Império Romano;  Idade Média Central que se caracterizou pelo auge do poder da igreja católica,  pelas cruzadas, pelo desenvolvimento da arte sacra, pelo aparecimento da Universidade, pelo vigor do modo de produção feudal; Baixa Idade Média marcada pela invenção da imprensa, reabertura do Mar Mediterrâneo ao comércio, enfraquecimento do modo de produção feudal e pelo Renascimento que prenunciou a emergência da modernidade.

No que diz respeito à mudança, a lentidão preponderava e geralmente não era observável em uma ou mesmo várias gerações; o conceito de progresso não existia; as comunidades eram geograficamente definidas e fixas; os indivíduos se revelavam como membros de uma sociedade bastante estável, que se transformava muito lentamente; as coletividades dependiam de seus próprios recursos internos e apresentavam uma escassa interação; os privilégios de uma pessoa no âmbito social eram determinados no nascimento; os indivíduos tinham prerrogativas e obrigações com base no status de linhagem; a mão de obra não era adquirida e nem mercantilizada, pois os servos pertenciam ao senhor; o trabalho era recompensado pelo fornecimento ao trabalhador de uma parte daquilo que ele produzia; ideias, normas, valores e crenças dominantes eram aceitos normalmente; predominava a crença em uma ordem natural, imutável e não passível de questionamentos pois independia de qualquer explicação racional.

Neste lapso a educação apresentava aspectos variados. O preparo dos cavaleiros medievais se mostrava o mais importante e começava aos sete anos de idade quando a criança era enviada ao palácio de um clérigo ou ao castelo de um senhor, onde atuava como serviçal, realizava combates pessoais, lutava com armas e praticava equitação. Antes de ser ordenado como cavaleiro combatente tinha que exercer o papel de escudeiro em torneios e campos de batalha no decorrer de vários anos. Em alguns mosteiros e escolas das catedrais as mulheres também se educavam tanto para a vertente religiosa quanto para a laica. Aprendiam a leitura, o grego, o latim, a escrita, o catecismo, a música, a astronomia e os rudimentos de medicina. Crianças e jovens das classes desfavorecidas que prestavam serviços às igrejas também recebiam alguma formação nas denominadas Escolas de Canto, patrocinadas pela aristocracia.

A modernidade teve início a partir do Renascimento e pode ser dito que avançou até meados do século vinte. Em seu desenrolar a substituição do modo de produção feudal pelo modo de produção capitalista e a aparição da burguesia como classe dominante foram demasiadamente relevantes. O valor da terra até então preponderante cedeu lugar às ações comerciais mediadas pelo dinheiro. Tais atividades ocorriam dentro das cidades, entre duas ou mais cidades e, posteriormente, entre países. Os trabalhadores passaram a realizar suas tarefas com base em contratos e recebimento de salários.

Também foi uma época marcada pelas revoluções inglesa, americana, francesa e industrial. Aconteceu o surgimento do capitalismo e do iluminismo apregoador da disseminação do conhecimento e do enaltecimento da razão. Ao seu lado irrompeu o desenvolvimento da ciência e da técnica. Nela as mudanças tecnológicas e sociais, se mostraram rápidas e vistas como progresso. As comunidades se encontravam ligadas por meio de um sistema global e mutuamente dependentes através da comunicação e do transporte. Os indivíduos se revelavam socialmente móveis e podiam subir ou descer a escada dos privilégios sociais e econômicos. As ideias eram vistas como criadas pelo esforço humano, e permaneciam abertas a desafios e alterações contínuas com base no que os indivíduos podiam observar concretamente, pois a evidência resultante da observação empírica era a base fundamental para determinar quais dos muitos conceitos, normas, valores e crenças se mostravam melhores ou mais pertinentes.

A educação neste período apresentou alguns aspectos peculiares relacionados ao processo de industrialização, à urbanização e à instauração dos regimes democráticos. Nos séculos que se seguiram evidenciou-se o empenho em institucionalizar as escolas e a preocupação com a obrigatoriedade, a gratuidade, a laicidade, os níveis de escolaridade, os programas de ensino e a metodologia. A finalidade era formar o homem racional e esclarecido, dominador de conhecimentos, principalmente os oriundos dos diversos ramos científicos. Almejava-se também dotar os aprendizes de saberes e habilidades necessários ao trabalho nas fábricas. O aspecto classista se evidenciou no decorrer do tempo, haja vista a contínua presença de uma formação acadêmica para os setores dominantes e uma formação profissionalizante para os segmentos subalternos.

Na suposta e questionável era pós-moderna surgida na segunda metade do século passado a situação muda radicalmente em muitos setores. De maneira bem sintética é válido dizer que a pós-modernidade assenta-se numa cosmovisão bastante peculiar, a qual indica que a realidade circundante é predominantemente instável, descontínua, efêmera, fragmentada, caótica, incerta e que a história humana caminha em direção a rumos indefinidos. Sua existência não é consensual, haja vista que muitos pensadores de renome asseveram que não se trata de um novo período da história, e sim de uma modernidade diferenciada dotada de características peculiares até então não dominantes.

Uma série de eventos tendem a apoiar sua possível existência. Efetua-se o surgimento e a resiliência da pós-verdade que enfatiza a subjetividade, minimiza a objetividade e ganha sustentação no anarquismo epistemológico desdenhador dos métodos consagrados de investigação e apadrinhador da validade dos conhecimentos alternativos. A razão perde seu status de faculdade intelectual mais relevante. As metanarrativas caminham rumo ao abandono. O princípio da incerteza próprio do mundo microscópico estende-se ao mundo macroscópico. A Teoria do Caos passa a conceder relevância aos minúsculos acontecimentos e o cálculo probabilístico é aplicado nos eventos aleatórios. A emergência do sujeito se torna patente nas formas de ator e autor, como um ser que luta pela sua emancipação e autodeterminação, que afronta a ordem estabelecida e os determinismos sociais. Na busca de seu destino é obrigado a conviver com a angústia da imprevisibilidade e gerenciar os sucessivos momentos de incerteza.

Verifica-se que a educação pós-moderna se assenta inteiramente nesta ideia de sujeito. Com efeito, ela visa estimular o indivíduo a conceder poder a si próprio, a autonomizar-se, a realizar o governo de si mesmo, bem como envolver-se constantemente na vida em sociedade, inclusive na gestão da coisa pública através dos diversos e crescentes movimentos sociais. A progressiva velocidade das mudanças no âmbito da sociedade e o gradual aumento da complexidade das múltiplas e diferentes situações que se alteram rapidamente no decorrer do tempo exigem a pronta intervenção das pessoas na resolução de diversos problemas que as cercam e precisam ser devidamente solucionados. Para tanto, a escola precisa ser capaz de promover o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social dos alunos e, principalmente, levá-los a construírem seus projetos de vida que serão aperfeiçoados ou substituídos no transcorrer do tempo.


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