Eliane de Oliveira Aranha Ribeiro1
Falar de Independência exige um questionamento constante sobre os seus desdobramentos na vida de toda a população brasileira. No Giro do Bicentenário pelo Amazonas, temos que falar sobre inclusão, políticas públicas e garantia dos direitos constitucionais. Historicamente, as pessoas com deficiência (PcD), em sua maioria, foram mantidas segregadas, afastadas, escondidas e, muitas vezes, marginalizadas no que tange ao direito à educação e à promoção de saúde. A concepção da relação entre a educação e a saúde, como política pública, na atenção integral às PcD é necessária, no sentido de proporcionar melhoria da qualidade de vida, inclusão, educação e promoção da saúde destas pessoas.
De fato, a ligação deste elo não é algo simples e se torna primordial uma investigação histórica e contemporânea para compreensão do mesmo. Como poderia a educação beneficiar a área da saúde? É possível unificar as duas objetivando incrementar mudanças na cultura de uma sociedade? Como seria a melhor metodologia para conectar as duas áreas? A resposta, apesar de simples, é complexa: é educar para a saúde, é capacitar pessoas para multiplicar saberes.
A educação em saúde deve almejar e proporcionar uma vida melhor ao ser humano através da instituição de programas e projetos eficientes. As transformações sociais ocorridas evidenciam a responsabilidade da odontologia no processo de inclusão das PcD, apesar de um número ainda pequeno de profissionais que se disponham a cuidar dessa parcela da população.
As políticas públicas de saúde têm sido trabalhadas para facilitar o acesso a programas preventivos de motivação e educação em saúde bucal à população. Todavia, ainda existe uma lacuna quando se trata das PcD. A odontologia para pessoas com deficiência é muito mais que o simples desenvolvimento de técnicas, é necessário, além do conhecimento das mais diversas patologias, um lado humanista. A interação com a família, o estabelecimento do vínculo, a sensibilidade na arte do cuidar e do educar é essencial para o êxito do processo preventivo, curativo e educativo.
Especificamente em 2015, no Brasil, houve um aumento no número de pessoas nascidas com microcefalia e este crescimento foi associado ao Zika vírus (ZIKV). No Amazonas, de acordo com Registro de Eventos em Saúde Pública (RESP-Microcefalia, 2019) existem cerca de 166 crianças com ZIKV. Essas crianças necessitarão de cuidados diferenciados pelo resto de suas vidas por apresentarem diferentes peculiaridades. A inclusão dessas crianças na escola, na sociedade e nos sistemas de saúde são questionamentos importantes e que devem ser solucionados e também resolutivos.
Ressalta-se que o envolvimento e/ou empoderamento das famílias quando se trata de ações educativas a essas crianças têm uma relevância significante. Principalmente, quando se fala de saúde bucal, uma área muitas vezes colocada em segundo plano e muitas vezes esquecida. É sabido que existe uma dependência dessas crianças para realização de sua higiene bucal e geral em decorrência do nível do comprometimento do seu sistema neuromotor. Porém, elas têm direito à saúde bucal, uma vez que estas possuem atributos que podem ser equiparados a qualquer qualidade inerente à diversidade humana.
A criação e implementação de uma proposta para orientação e promoção de educação em saúde bucal direcionada para este grupo, visando estabelecer um programa educativo de prevenção e cuidados às crianças com microcefalia pelo ZIKV do Amazonas foi o objetivo desta pesquisadora.
Apesar de todas as políticas públicas existentes nesta área, é fundamental a existência de programas de educação em saúde bucal voltados a essa parte da população amazonense, agregando ações que integrem os campos da educação e saúde. Pois a crescente demanda desta população exigirá condutas e diálogos convergentes entre as duas áreas, visando o benefício e a melhoria da qualidade de vidas dessas crianças.
Imagem de Destaque: Arquivo pessoal da autora.