Está em cartaz nos cinemas o filme “Mãe!”, sob direção de Darren Aronofsky e estrelado por Ed Harris, Michelle Pfeiffer, Javier Bardem e, sobretudo, a atriz Jennifer Lawrence. A controversa película tem gerado reações distintas diante do público. Por um lado, grande parte das pessoas tem deixado as salas de cinema progressivamente antes do fim; por outro, a medida que o enredo se desenrola, tem prendido os espectadores em suas poltronas. Nesse sentido, além de procurar adentrar pela estrutura que provocou as reações de amor e ódio do filme, pretendo, de modo breve, destacar o viés ambiental como proposição “hermenêutica” do filme. Portanto, se o leitor tem aversão a spoilers, recomendo que assista o filme e, depois, corra pra cá e continue sua leitura.
Muito provavelmente, os que encaram a ida ao cinema como um momento de descontração e entretenimento, como um parque de diversões, em que as sensações vivenciadas estejam presas ao momento vivido e, além disso, não exijam um esforço para desvendar as “entrelinhas” presentes na obra, devem ter aproveitado o fim do saco de pipocas do lado de fora do cinema. Diferentemente da proposta de mercado e entretenimento dos filmes da Marvel, “Mãe!” é uma obra de arte. A maneira com que o longa-metragem se desenvolve produz um diálogo com o espectador e proporciona a sensação de estar desvendando um enigma, um quebra-cabeça. Mas é mais que um filme de suspense óbvio. A história desenvolvida, se tomada como uma narrativa linear e literal, pode não fazer sentido algum; é necessário interpretar o filme como uma grande alegoria, ou melhor, um grande bricoleur alegórico da cultura ocidental e, acima de tudo, como uma crítica à relação humanidade versus natureza.
Saber de onde o autor fala, o porquê e para quem é endereçada a mensagem da película é fundamental para a compreensão do seu conteúdo. Aronofsky, diretor do filme, é também conhecido por sua militância ambientalista. Assim, o diretor se apropria da cultura ocidental e enfatiza elementos dessa mesma cultura de modo que a critique. Não é uma crítica externa. Trata-se de uma autocrítica baseada na mudança interpretativa dos personagens centrais da mesma “narrativa ocidental”. Essa abordagem não é inédita por entre os ambientalistas e algumas vertentes teológicas (apenas a cargo ilustrativo, no Brasil, temos a figura de Leonardo Boff como um dos que atuam nessa área). Contudo, é pouco explorada no cinema e tem se tornado marca registrada de Aronofsky, sobretudo, após o filme Noé (2014), em que trata o personagem bíblico como um salvador dos animais, diante da humanidade perversa e inconsequente.
Dentre as várias representações sociais dadas a problemática socioambiental, o longa-metragem é um exemplo típico do ambientalismo “gaianista”. Tal representação pretende conscientizar pelo viés emocional, ao invés do racional, bebendo do idealismo alemão, o pensamento romântico de entre os séculos XVIII e XIX. O autoconhecimento da humanidade em contato com a natureza, valorizando-a como parte de um ideário e produzindo laços afetivos, típico da estratégia de Educação Ambiental gaianista, é latente em cada cena. O filme busca “dar voz” à passividade com que comumente é representada a Mãe-Terra e, embora toda a fotografia seja centrada na protagonista, o objetivo é colocar o espectador como o invasor da Casa, o agressor, e, diante disso, também estar diante das reações interpretadas pela Mãe. Afinal, Mãe e Casa são, na verdade, um só personagem!
Aliado a isso, é fundamental compreender a obra diante da concepção panteísta de mundo que conversa com as Escrituras Sagradas, sobretudo os capítulos iniciais de Gênesis. A queda da humanidade, segundo notória tendência do filme, parece ter afetado mais a relação humanidade versus Mãe-Natureza, do que humanidade versus Deus-Pai como costumeiramente é a ênfase teológica cristã (fato que o filme não deixa de trabalhar). O diagnóstico pessimista (ou realista?) da ação humana e do desinteresse “divino” com a tão esquecida e rejeitada “Mãe” culmina na possibilidade de um recomeço pós-apocalíptico, pressupondo uma história cíclica.
É o tipo de filme que, como dito no início do texto, não acaba com os créditos subindo. Você leva pra casa as reflexões e vai digerindo as metáforas com o tempo. Consciente dos propósitos do filme e, até mesmo do viés new age de uma parcela do gaianismo, é um filme que levanta inúmeras discussões, faz diversas críticas e que cada uma de suas falas e expressões devem ser analisadas como referências alegóricas. Penso que tenha faltado uma crítica econômica à exploração das riquezas naturais, ou, talvez, eu tenha que assistir novamente para detectar tais críticas. No fim das contas, ao meu ver, é um filme que merece ser assistido mais de uma vez. Acima da aclamação ou da vaia, é uma obra de arte para ser analisada.
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