E a extensão nas universidades?

Monica Abranches

A extensão universitária é uma ação antiga nas universidades, mas ainda é conhecida parcialmente pela comunidade de estudantes e professores. Com o advento da exigência da curricularização da extensão nas universidades até o ano de 2022, a comunidade acadêmica evidencia, novamente, essa ação como importante atividade na formação dos alunos. 

As primeiras experiências de extensão universitária no Brasil datam de 1911 e 1917, na Universidade Livre de São Paulo, quando os responsáveis pelas cátedras ministravam cursos gratuitos abertos à população. Vários autores mencionam o “Estatuto da Universidade Brasileira”, de 1931, como evidência legal do início das aõçes extensionistas, onde estas aparecem como estratégia de soluções para os compromissos sociais e a propagação de ideias e princípios de interesse nacional. Essa concepção prevaleceu até a década de 1960 quando as universidades brasileiras buscaram uma aproximação com os movimentos sociais através de ações de educação de base iniciando um novo ciclo para as práticas de extensão. Nessa época, destaca-se a atuação do movimento estudantil no atendimento de demandas sociais de comunidades em situação de vulnerabilidade.

Nesse processo, percebe-se que a prática extensionista transitou do enfoque da mera difusão do conhecimento para o de inserção na realidade social e política do país contribuindo com discurso e ações destinadas à transformação social.

Em 1968, após a Reforma Universitária e com o advento do Regime Militar no governo, a extensão universitária perde sua força de expansão e de interação com a sociedade, mas não o seu caráter crítico, ainda que a extensão universitária estivesse, nas décadas de 1970 e 1980, voltada para a execução de muitas políticas sociais do governo.

O final da década de 1980 e início da década de 1990 marcaram um novo processo de resgate da extensão universitária que tramitou muitos anos entre a ação comunitária de cunho assistencialista e as ações de caráter emancipador. O advento da criação dos Fóruns Nacionais de Extensão das IES Públicas (1987) marcou uma década de discussões sobre a identidade da extensão universitária e a função social das instituições de ensino superior. E, em 1988, a Constituição Federal consolidou a existência da extensão universitária como um dos pilares das funções das universidades junto com ensino e a pesquisa. 

Outro reforço nessas discussões foi a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei nº 9394/96, que no capítulo da Educação Superior, ao estabelecer a finalidade das IES, evidencia a extensão como parte das funções da universidade. 

A extensão é, portanto, uma atividade de formação da comunidade acadêmica e de contribuição do saber científico nas demandas por soluções dos problemas sociais, culturais, políticos e ambientais da sociedade. De outra forma, também é influenciada por saberes das comunidades externas que instigam as ações investigativas e a produção de conhecimento. 

O documento que orienta as ações das universidades em relação a extensão é o Plano Nacional de Extensão Universitária (2012) e serve de parâmetro para toda a rede de instituições de ensino superior no país que tenha a extensão como parte de suas atividades, além de servir de referência ao Ministério da Educação que baliza a avaliação das IES. 

Importante contribuição desse documento é a discussão teórico-metodológica na apresentação das cinco diretrizes que devem orientar a formulação e implementação das diversas ações de Extensão Universitária, que são: Interação Dialógica, Interdisciplinaridade, Indissociabilidade Ensino/Pesquisa/Extensão, Impacto na Formação do Estudante e Transformação Social.

A adoção dessas diretrizes pelas políticas das instituições de ensino superior e sua efetivação através de sólida estrutura de gestão da extensão universitária pode elevar as IES brasileiras a um novo patamar de sua função acadêmica – formação de profissionais em diversas áreas de conhecimento e desenvolvimento de conhecimento científico e tecnologia – em consonância com as demandas sociais, políticas, econômicas e culturais da sociedade. 

A Instituição de Ensino Superior como parte da sociedade deve vivenciar e pensar sobre os desafios presentes e futuros para a manutenção de um mundo adequado, sustentável, justo e democrático. As respostas e contribuições científicas a esses desafios devem fazer parte da função social da universidade.

Assim, a extensão universitária traz para alunos, professores e técnicos a oportunidade da convivência e o envolvimento com realidades sociais diferentes e outras culturas, o que instiga a formulação de novas interrogações sobre a dinâmica das relações sociais, sobre os problemas socioeconômicos do país, sobre a diversidade, a solidariedade, impacto das políticas públicas, questões estas que poderão ser concretizadas em discussões ampliadas na universidade (pesquisas e sala de aula).

Nesse sentido, a extensão é uma ação pedagógica que contribui para a formação de profissionais cidadãos e que promove a integração entre ensino, pesquisa e extensão, equação indispensável na qualificação da formação desses cidadãos.

A articulação da pesquisa, ensino e extensão é necessária para produzir uma prática acadêmica coerente com as mudanças da sociedade e do mercado. Nesse tripé, a pesquisa está presente nas ações de extensão para permitir conhecer, analisar e intervir na realidade, pois a pesquisa garante a oxigenação do ensino e da extensão. O ensino deve se articular com a pesquisa e a extensão para não se reduzir à reprodução de conteúdos e a extensão deve se articular a pesquisa e ensino para não se reduzir ao ativismo.

A adoção definitiva da extensão aos currículos dos cursos pode transformar o perfil dos egressos da universidade e, consequentemente, formar cidadãos tecnicamente competentes e eticamente comprometidos com uma sociedade mais justa.

 

Para saber mais: 

Estatuto da Universidade Brasileira. Decreto no 19.851, de 11 de abril de 1931.


Imagem de Destaque: Yolanda Assunção

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