Ao longo do semestre que passou foram vários os episódios que demonstraram que a agenda da educação brasileira está carregada de perspectivas negativas. O Editorial da semana passada pretendeu explicitar alguns desses episódios e perguntava se podemos considerar o primeiro semestre de 2015 um semestre perdido.
É evidente que os tempos não são fáceis e que os horizontes estão bastante obscuros. No entanto, os tempos difíceis da política e da economia não podem nos fazer confundir a dinâmica das políticas estatais com a dinâmica do conjunto da sociedade brasileira. Num país como o Brasil, em que temos muita dificuldade de fazer com que o Estado seja público, nunca é salutar confundir o estatal com o público e, do mesmo modo, confundir a dinâmica social com a dinâmica das diversas esferas e poderes que constituem o Estado brasileiro.
Assim, ao mesmo tempo em que vimos, nos episódios do dia 29 de abril, as barbaridades cometidas pelas forças estatais de segurança contra os professores do Paraná, pudemos acompanhar também todo o investimento dos profissionais da educação paranaenses para transformar o luto em memória por meio da produção de vídeos, livros, depoimentos, aulas públicas e muito mais. Os atos educativos mais impactantes às vezes nascem das entranhas da barbárie!
Do mesmo modo, enquanto uma infinidade de órgãos públicos da educação, e não apenas da educação, como sabemos, batem cabeça para definir quais são as prioridades nacionais em torno da educação, centenas de milhares de pessoas em todo o Brasil acreditaram que era preciso fazer um “PNE pra valer” e se mobilizaram para produzir os Planos Estaduais e Municipais de Educação, conforme determina a lei que instituiu o Plano Nacional de Educação. Mais uma vez a educação ocupou o espaço público de discussão e este, não raramente, ultrapassou a própria dimensão estatal da lei e constituiu-se em arena de educação dos próprios educadores – professores, pais, gestores públicos ou ativistas sociais.
O semestre que passou foi, também, a ocasião em que uma das mais atuantes pesquisadoras e militantes pela educação pública, a professora Magda Soares, foi merecidamente agraciada com o Prêmio Comandante Álvaro Alberto, o mais importante prêmio outorgado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O reconhecimento à trajetória e à contribuição científico-acadêmica de Magda Soares foi, também, o reconhecimento público de que a comunidade científica nacional pode fazer muito mais pela educação pública no país, fato, aliás, ressaltado por vários oradores na ocasião da entrega do prêmio.
Os tempos sombrios não podem apagar, também, as lutas e as conquistas dos professores da escola básica que, de norte a sul, buscam garantir as condições para que as escolas continuem funcionando e eles continuem educando. O semestre foi marcado por inúmeros movimentos em defesa da escola pública e por conquistas importantes, como a dos professores mineiros que conseguiram, depois de anos de denúncias e propostas, que o Estado de Minas Gerais se comprometesse a cumprir a lei do Piso Nacional, a nomear professores concursados e a realizar novos concursos. Num estado em que os governos anteriores se negaram, durante anos, a pagar o Piso Salarial Nacional e em que 60% dos professores mantêm vínculos precários com o Estado, assinar o acordo foi uma expressiva conquista!
Sim, a educação continuou e continua, apesar e, às vezes, contra a política institucionalizada ou o ajuste econômico proposto pelo governo. E dela continuaremos a tratar aqui no Pensar a Educação em Pauta e em todas as iniciativas do Pensar a Educação Pensar o Brasil!