Diversidade religiosa, flecha de Oxóssi nas olimpíadas e Educação

Sander Palmer Batista Marques

No último dia 22 de Julho de 2021, a seleção brasileira de futebol venceu a equipe da Alemanha em jogo válido pelas olimpíadas de Tokyo. Na ocasião, o jogador Paulinho ao fazer o quarto gol pela seleção brasileira, comemorou o feito homenageando o orixá caçador Oxóssi. Este feito repercutiu em vários espaços midiáticos, além de outros espaços de discussão, tal fato abriu dezenas de debates, inclusive a respeito da diversidade religiosa e o combate à intolerância religiosa no Brasil. 

Para falar um pouco deste tema é preciso compreender a conjuntura social do nosso país, além disso é preciso também reconhecer que estamos vivendo um projeto de nação que vem sendo constituído desde 1500. É assustador como os aspectos religiosos conservadores que vemos hoje no Brasil fazem parte de um projeto de nação que é mobilizado por grande parte das elites brasileiras.   

O fato de monopolizar os aspectos religiosos, e determinar que exista uma norma de que é ou não religioso, pode ser perigoso e até mesmo cruel diante a diversidade religiosa em nosso país. O projeto de nação estabelecido por essas elites têm no seu corpo constitucional aspectos religiosos e traz consigo o éthos do conservadorismo europeu. Por mais que este grupo insista em empurrar “goela a baixo” as ideias de uma religiosidade única, as coisas não foram tão fáceis assim, tendo em vista a diversidade do povo brasileiro que firmava ainda mais as suas raízes neste solo.    

Paulinho, em sua atitude, trouxe para o debate a importância de discutir a diversidade religiosa e a importância da religião na constituição do sujeito. A escola, por sua vez,  é um espaço fundamental onde estas discussões devem chegar, e para além disso em outros lugares educacionais, como o próprio currículo, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), projeto político pedagógico (PPP) e na própria formação docente. 

No livro “Educação nos Terreiros” da Stela Guedes Caputo, a autora conversa muito a respeito da participação da escola e das funções pedagógicas na construção social da criança, além de auxiliar nos processos de ensino e aprendizagem. Crianças vindas desta realidade chegam ao ensino normal, e muitas vezes em escolas tradicionais, e tem as vivências arrancadas dos seus corpos a partir de práticas conservadoras que ainda permeiam as nossas escolas.    

É importante compreender que a escola é marcada por estes discursos conservadores, escondidos em práticas pedagógicas ou expressadas de forma explícita, sem preocupações. As aulas de religião, que são aulas predominantemente evangélicas e/ou católicas, constituem os primeiros movimentos para reafirmar as práticas intolerantes no imaginário da criança. 

É notório que as nossas instituições legitimam alguns o preconceito, dentre estes preconceitos está o religioso. Porém, ao mesmo tempo em que estamos sujeitos ao conservadorismo religioso, cruel e assassino, existem forças religiosas que crescem e estão tomando conta de espaços de representação, como: Teologia Queer, Teologia da Libertação, Teologia da Missão integral, as Teologias Marginais etc. Essas forças se tornam resistência às práticas conservadoras  e autoritárias que desejam a extinção de certos corpos (anormais) à custa de sublimar as almas. 


Imagem de destaque: Wikimedia Commons

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