Passadas as eleições, iniciou-se uma intensa onda de análises, e não poucas especulações, sobre as prioridades a serem assumidas pelos novos governos estaduais e pela presidente reeleita. É notável o quanto a campanha, como já dissemos aqui, foi bastante improdutiva no sentido de aprofundar os diagnósticos e as saídas para os nossos grandes problemas sociais e políticos.
No entanto, há, sem dúvida, um saldo bastante positivo que fica destas eleições: as mobilizações em torno das candidaturas e de seus diferentes projetos para o Brasil. Se as campanhas oficiais foram capturadas pelo marketing, paralelamente às mesmas desenvolveu-se uma intensa discussão sobre as candidaturas, os partidos, as prioridades de cada um para o país. Apesar de, algumas vezes, as discussões nas redes sociais, nas ruas e, mesmo, nos grandes meios de comunicação atualizarem os mais abomináveis preconceitos, a intensidade das discussões mostrou um engajamento raramente percebido em nossa história política recente.
Essa é, parece-nos, uma das dimensões educativas das eleições: a possibilidade de explicitação das diferentes posições, a necessidade de tomar partido, de escolher entre projetos nem sempre claramente explicitados pelos seus defensores. Isto é, ao fim e ao cabo, um dos grandes méritos da democracia!
Não são poucos os analistas que viram na opção tomada pela população em relação a projetos de governo, uma divisão prejudicial ao país. É como se a campanha e as eleições tivessem inventado as desigualdades sociais e regionais, os conflitos de classe ou entre ricos e pobres, os preconceitos raciais e regionais etc. Não acostumadas com o aumento dos conflitos inerentes à vida democrática, no limite, implicariam no fim da própria democracia. Somente a democracia permite a explicitação e negociação pelo diálogo dos conflitos de interesses que fundam e estruturam a vida social. Quanto mais democracia, mais conflito; este é um aprendizado fundamental da e para a vida democrática.
Não sendo salutar nem possível suspender os conflitos, é preciso, evidentemente, regrar as formas de sua explicitação para que as mesmas não atentem justamente contra a vida democrática. Recorrer à liberdade de imprensa, por exemplo, para mobilizar, produzir e atualizar preconceitos regionais, raciais ou, simplesmente, contra qualquer “outro” é condenável subterfúgio e não contribui em nada para garantir ou fazer avançar a nossa experiência democrática.
Àqueles que arduamente têm se empenhado para a garantia das liberdades e das práticas democráticas, inclusive para aqueles que nem tanto acreditam nelas, é colocado o desafio de aprofundamento do debate nos vários espaços sociais sobre a democracia substantiva que queremos. Para construir tais espaços e para garantir que os mesmos tenham impacto político junto à população, é preciso a continuidade da mobilização que tão bem se expressou no momento das eleições.
Acompanhar o desdobramento das opções eleitorais em políticas e em ações do governo e dos diferentes atores que participam do jogo democrático é fundamental. Isso implica no aprendizado da importância da esfera pública e da luta pelo seu alargamento. Para isso é necessário, inclusive, o controle da ação estatal e privada no âmbito dos negócios públicos. Neste âmbito, não nos esqueçamos, entre vencidos e vencedores do pleito eleitoral, nem sempre as distâncias são muito grandes e nem sempre ganha a população, como já mostraram as reações dos “aliados” da Presidente Eleita em relação à questão dos Conselhos Populares e à idéia do plebiscito sobre a reforma política! É aqui, mais do que em qualquer outro âmbito da nossa vida social e política, que se revela que o educador também precisa ser educado. Seremos capazes disso?