Uma metáfora para refletir sobre o momento em que vivemos.
Estamos vivendo de uma forma diferente há mais de um ano e meio… e… bem diferente… não é mesmo?
Trabalho home office, aulas remotas, reuniões on-line, tudo dentro de casa e como diz a linguagem popular “tudo junto e misturado”. E misturamos tudo mesmo, vida profissional com vida pessoal, o lugar do trabalho e da escola tomou conta de nossas casas, horários de labuta muito mais do que imaginávamos, lives para além do que dias de 24 horas podem dar conta, uma correria frenética que ganhou espaço em nosso dia a dia…
Antes da pandemia, muitos buscavam qualidade de vida e queriam ter mais tempo para si e para a família… E de repente, nos disseram que isso seria possível durante a chamada quarentena, uma vez que trabalhando e/ou estudando em casa, teríamos mais tempo para nos dedicarmos aos aspectos, “digamos”, mais pessoais, como: a ampliação da convivência familiar e do cuidado com a nossa própria saúde mental.
E, até mesmo para aqueles que continuaram trabalhando durante todo esse período, ou seja, os que se dedicam aos serviços essenciais e, não ficaram em casa, também observaram e vivenciaram as consequências de uma pandemia que, de uma hora para outra, acelerou por completo e, sem pedir licença, as nossas vidas…
Já repararam como parece que os dias e as horas passam muito mais rápido que antes? Ontem estávamos no início de 2021, e agora, já caminhamos para o final do ano… Teríamos nós entrado então em uma máquina de gerar loucos?
Quem assistiu ao filme: “De volta para o futuro” do ano de 1985 cujo enredo traz o ator Michael J. Fox vivendo um jovem que acidentalmente viaja em uma máquina do tempo construída por um cientista “maluco”, conseguirá entender muito bem do que estou falando.
Pois é, às vezes, me pergunto se o mundo entrou em uma máquina semelhante a essa, mas que ao invés de nos transportar pelo tempo, nos acelerou de tal forma que entramos em uma máquina de gerar loucos. Loucos?
Não uso aqui a palavra louco com o significado de alguém cujo raciocínio e /ou comportamento sofre alterações patológicas, mas sim como sinônimo de atitudes de teor intenso, que nos levam a uma correria constante, absurda e até mesmo descontrolada.
Talvez sim, estejamos desde o início da pandemia dentro de uma máquina de fazer loucos, sem sequer nos darmos conta disso! Observem que todos falam de saúde mental, mas poucos se habilitam realmente a cuidar da sua, pois simplesmente a “máquina” nos suga.
O que fazer então? Continuar na correria frenética ou parar e desistir?
Esse parar e desistir agrega atitudes de alguns, que ainda não falei aqui, que vivem se utilizando da desculpa: “tudo é culpa da pandemia”. Quem de nós já não está cansado de ouvir que as coisas não andam por conta da pandemia? Sabemos que algumas atividades realmente não são possíveis de serem realizadas da forma como eram feitas antes. Mas, se tudo virar justificativa para o estagnar e não fazer, onde iremos chegar?
Pois bem, diante disso, a analogia aqui atribuída como a “máquina de gerar loucos” parece trazer dois caminhos: o primeiro da correria alucinante e o segundo da inércia que traz consigo desculpas como:
depois da pandemia eu vejo isso;
quando passar a pandemia eu faço;
se o mundo não acabar, termino isso…
Penso que o bom senso pode ser a palavra-chave, isto é, o comportamento que abrirá as portas para a mudança, porque nos mostrará o caminho para sairmos de dentro dessa engenhoca, haja vista que o ser humano não é uma máquina e, por isso, não precisa estar ou entrar dentro dela.
A escolha parece ser de cada um de nós. Afinal, se estivermos realmente preocupados com nossa saúde mental, bem como se tivermos esperança de que o futuro nos abraçará com um mundo melhor, nos recusaremos a entrar nessa máquina de gerar loucos e entenderemos que o verdadeiro sentido da vida não está em cultivar em nosso pomar interno os sofrimentos e as consequências de uma pandemia, mas de selecionar as experiências que tivemos a partir dela, para que possamos nos melhorar enquanto seres humanos. E como dizia o grande escritor Guimarães Rosa: “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”.
Pois bem, o que a vida quer de nós é que tenhamos coragem… coragem de continuar caminhando e acreditando que somente percorrendo as estradas e vencendo as “máquinas”, ora da correria, ora da inércia, que encontraremos o caminho certo para vencer as dificuldades com as quais nos deparamos, a cada momento, durante a jornada…
Para saber mais
Plantão Crítico. Crítica – De volta para o futuro. Acesse aqui.
ROSA, J.G. – Grande sertão: veredas. 13. ed. Rio de Janeiro, J. Olympio, 1979.
Imagem de destaque: Mohamed Hassam