Há pouco mais de um ano – e que ano! – uma das primeiras providências do governo golpista foi a de tentar entregar o comando do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação para um pastor fundamentalista. Não deu certo. Então, ele (con)fundiu o Ministério com o das Comunicações, historicamente um balcão de negócios das grandes empresas de comunicação no Brasil. Naquele momento já se anunciava que o financiamento da ciência e tecnologia, definitivamente, não seria uma coisa importante na ponte para o passado que vinha se pavimentando com o golpe.
O grande golpe nas políticas públicas, as de C&T aí incluídas, veio com a chamada PEC da Morte, que congela o financiamento das políticas públicas por arrasadores 20 anos. Mas, antecipando-se à vigência da própria PEC, o governo anunciou no início do ano um corte de 43% do orçamento do MCTIC, que passou a operar com um orçamento de praticamente ¼ dos recursos de 2102/2013.
Agora, baldados os esforços dos cientistas que aceitaram participar da gestão dos órgãos de fomento e avaliação no MEC e no MCTIC(!), e a tomada de consciência de parte da comunidade acadêmica que apoiou o golpe, os resultados das políticas implementadas se mostram em todo o seu esplendor: não são poucos os avaliadores que afirmam que estamos chegando a um nível de desastre em ciência e tecnologia parecido com os tempos mais difíceis impostos pelo governo FHC ao sistema de ciência e tecnologia do país.
Uma a uma, as universidades anunciam a dificuldade de continuarem funcionando e ameaçam paralisar as atividades por falta de recursos. Vários prestadores de serviços já não recebem. O financiamento dos projetos, inclusive aqueles considerados estratégicos para o país segundo a avaliação do próprio governo, com os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, não recebem seus recursos. Órgãos ligados ao MCTIC estão à míngua.
Não bastasse todo esse cenário, nas últimas semanas o próprio Presidente do CNPq anunciou a dificuldade do órgão em pagar as bolsas de estudo e pesquisa sob sua responsabilidade. Quem conhece o funcionamento dos órgãos de fomento sabe que quando se anuncia a dificuldade de pagar as bolsas é porque tudo o mais já está comprometido, já que deixar de pagar bolsas é mexer muito diretamente com a vida de milhares de pessoas e de suas famílias.
Felizmente, um número muito expressivo de instituições científicas, isoladas ou coletivamente, tem vindo a público se manifestar sobre os tempos sombrios que vivemos. Felizmente, é cada vez maior o número de alunos, professores e acadêmicos que está se dispondo a aderir à luta no combate aos cortes de recursos para a C&T no país. Oxalá toda essa luta se desdobre, também, numa cada vez mais forte articulação pelo retorno ao Estado de Direito e à vida democrática e pela revogação da PEC do Fim do Mundo! E, melhor ainda seria se essa articulação retomasse com fôlego e força o grito de FOOOORRRRAA TEEEMMMMERR que unificou a luta democrática nesse curto e desastrado governo golpista!