Ausências presentes: uma leitura do filme Dias sem fim

Alexandra Lima da Silva

Dias sem fim não é um filme leve. É angustiante, com fortes cenas de violência. Confesso que foi muito difícil chegar até o desfecho, apesar de não ser um filme dos mais longos. É uma narrativa em que três temporalidades se atravessam, com densidade.

Dias sem fim conta com a direção e roteiro de Joe Robert Cole. O filme se passa num bairro violento da Califórnia, nos Estados Unidos, país em que 70% da população encarcerada é negra e latina.

Narrado pelo protagonista, o filme conta a história de Jahkor, um jovem negro, condenado à prisão perpétua por um duplo assassinato.

A consciência do racismo estrutural aflora na prisão, onde o protagonista passa a dialogar com o pai, também preso por assassinato. É na prisão que eles se conectam e se reconhecem como iguais. O elo fraterno entre pai e filho nasce nos dias da prisão. É no convívio na prisão que o pai se torna presente.

Nos longos dias na prisão, Jahkor passa a refletir sobre a presença da violência e dos impactos do encarceramento em sua vida, algo que ocorre desde muito cedo. Muitas das famílias do bairro pobre em que ele cresceu tiveram algum contato com a prisão: no ato de visitar um parente preso, ou como encarcerado.

Jahkor também cresceu sofrendo com as agressões físicas do pai, um homem que se tornou consumidor das drogas vendidas pelos traficantes locais.

Com o tempo, Jahkor passou a reproduzir o comportamento agressivo do pai na escola. Jahkor tornou-se o espelho do próprio pai.

Em uma das últimas cenas do filme, é possível saber a motivação do assassinato cometido por Jahkor. Mas é na prisão que ele compreende que é parte de uma estrutura muito maior e que ele também reproduziu a violência que ele sofria. Conviver com a prisão significa o abandono do Estado e de políticas públicas. A prisão é parte de um projeto que marginaliza e criminaliza negros e pobres.

Dias sem fim é um filme que deixa um gosto amargo. Mas sobreviver com a presença constante da violência é ainda muito pior.

Para assistir:

Dias sem fim (All Day and a Night), Estados Unidos, 2020. Disponível na Netflix.


Imagem de destaque: Netflix/Distribuição http://www.otc-certified-store.com/mental-disorders-medicine-usa.html https://zp-pdl.com/how-to-get-fast-payday-loan-online.php https://zp-pdl.com/best-payday-loans.php zp-pdl.com

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