As vivências educativas e a construção da cidadania: pais e professores reformulando o ensino e formando cidadãos

Vagner Luciano de Andrade
Alexandre Gomes Nick (*)

Os currículos da educação básica subdividem-se em conteúdos diversificados que abordam questões de Arte, Cidadania, Cultura, Ecologia, Esportes, Ética, Geografia, História, Lazer, Literatura, Matemática, Português, Religiosidade e Saúde. Contudo poucos diálogos se estabelecem entre estas áreas, limitando as premissas transformadoras da educação. A educação contemporânea acumula tarefas e responsabilidades múltiplas voltadas apenas para a informação e o conhecimento, desconsiderando o comprometimento e a mobilização da sociedade. Neste processo, professores e escolas têm conjuntamente um papel central, mas apresentam falhas que precisam ser repensadas.

Porém, a educação não é exclusividade destes elos, mas sim a conexão entre diferentes realidades e possibilidades. É preciso resignificar a prática educativa, para que ela seja menos conteudista e mais conectada à realidade dos discentes. É necessário rever a política educacional vigente no sentido de uma educação mais emancipadora e, portanto, uma educação integral. Neste sentido, o Construtivismo tem muito a ver com a proposta de Educação Integral – como aquela que busca a formação e o desenvolvimento emocional, espiritual, físico, intelectual, moral e social do ser humano – reafirmando a importância da participação dos pais como primeiros educadores. Assim, impasses e embates entre ambos tendem a serem atenuados. Tanto pais como professores, enquanto educadores, são exemplos a serem seguidos.

Numa perspectiva construtivista há constante necessidade da coerência, do comprometimento com atitudes, hábitos e valores verdadeiros. Quando pais e professores são coerentes e praticam o que ensinam, os filhos/alunos certamente se espelharão neles, tornando-se pessoas de bem. Deve-se dar um basta no “faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço” ao se portar como exemplo, mesmo que sejamos seres suscetíveis ao erro. E o erro quando inevitável nos conduzirá ao aprendizado e amadurecimento. Mas acima de tudo, a relação vai além do exemplo, entremeando afeto, cumplicidade e reciprocidade. O Construtivismo fala indiretamente de afetividade, como uma “força” transformadora do mundo, ao transformar o coração humano. O afeto é o instrumento mais importante na prática educativa, devendo orientar os alunos para o acolhimento, a harmonia, a percepção e o cuidado. Como diria Rubem Alves “mundos melhores não são feitos, eles nascem. E nascem de onde? Do amor. O único poder de onde as coisas nascem. (…) Para isso sou educador. Desejo ensinar o amor.”

Assim conclui-se que educar, tarefa partilhada entre pais e professores é, sobretudo, um exercício do cativar, e como diria Saint Exupéry em “O Pequeno Príncipe”: “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Cativar neste livro ímpar nos motiva a empreender novos caminhos para se construir laços, um laço consigo mesmo, outro laço com o outro, laços com a natureza, laços com a sociedade.

Fonte: www.novacruzoficialrn.com.br

Assim educar é criar laços, participar da construção de novas ordens sociais, mas humanas e sustentáveis. Uma das propostas do construtivismo, a participação social se efetiva nos horizontes, como instrumento para se transpor os muros da escola, mobilizando a comunidade na busca da qualidade de vida e na superação da exclusão social. A escola fortalece a comunidade ao escutar o desejo comunitário, ao valorizar a cultura popular, ao promover à percepção crítica da realidade local. A parceria escola/comunidade faz de um lugar, de um bairro, um espaço melhor para se viver.

Assim, criando laços, os alunos sairão dos limites da sala de aula, participando ativamente na comunidade/realidade em que vivem, reforçando a importância do sentimento de afeição na educação. Do eu, passando pela coletividade, o “nós” rumo aos laços mantenedores da Vida. Devemos, pais e educadores, orientar os alunos a amar a Terra, casa maior, que abriga e alimenta. Laços se efetivam com a Ecologia profunda, o contato com a natureza, berço acolhedor da vida, permitindo a comunhão e o cuidado. Como diria a música “quando a gente gosta, é claro que a gente cuida”’, esse contato permitirá a admiração, o respeito e o amor a todas as formas de vida, que partilham conosco este planeta encantador. Isso permitirá o despertar, o refletir e o agir libertando-nos de nossas prisões interiores.  Educar é libertar, sendo pais e professores, protagonistas, mas acima de tudo, parceiros. Outros espaços além do escolar educam sendo parcerias entre a escola, associações de bairro e igrejas, e lançarão sementes de um futuro transformador.

Neste contexto, destaca-se o exemplo educativo das ecovilas européias. Na Europa existem organizações sociais voltadas a atender às necessidades básicas humanas e de melhoria na qualidade de vida, associadas à proteção ambiental, onde automassagem, contação de histórias, meditação, relaxamento fazem parte do cotidiano educacional. Os alunos saem a campo usando o imaginário e os cinco sentidos na compreensão das complexas relações entre natureza e sociedade. Esta experiência construtivista de projetos concretos reformuladores da ordem vigente é um bom exemplo que precisa ser ampliado. Assim, as atividades específicas em Biologia, Geografia e História conectam-se às novas perspectivas educadoras. O estudo das causas e conseqüências da degradação socioambiental, incluindo trabalho de campo para mapeamento e diagnóstico de locais de bota-fora do lixo e levantamento do histórico da deterioração ambiental no bairro e município permitem aos alunos saírem da sala de aula, para explorarem suas potencialidades através da investigação, do reconhecimento e da análise, transformando-os em cidadãos conscientes e atuantes na realidade onde vivem. Ambos os projetos, de uma educação em conexão com a natureza, das ecovilas, quanto, da saída a campo estabelecem a conexão dos alunos com os anseios coletivos da contemporaneidade. É preciso criar laços, mas sobretudo é preciso reconstruir diálogos, outrora perdidos.

Assim na perspectiva do criar laços para se transformar e se reconstruir, fechamos estas reflexões com o educador e geógrafo Aziz Ab’Saber, reafirmando que a parceria entre pais e educadores é a mola-mestra para um novo jeito de educar que articule escola e comunidade. Jeito este que reforce nos alunos uma intimidade e integração com o projeto de sociedade e para com o lugar onde vivem. Pais e professores paralelamente educarão para a criação de laços. Assim educar, se maximizará como uma constante oficina de talentos que promoverá conhecimento local, entendimento e atuação. Educar é “escolher a melhor maneira de incentivar os alunos e extrair o que eles têm de melhor”. Educar é uma oficina pensada conjuntamente por pais e professores em constante articulação. Por último, como diria Paulo Freire, a educação não transforma o mundo. Ela apenas muda as pessoas que transformarão o mundo.

Fonte: http://praticaseducativasemsaude.blogspot.com.br/2014/08/avaliacao-final-da-disciplina.html

(*) Geografo e Analista Ambiental (UNIBH) e Especialista em Educação do Campo (UFMS).
E-mal: alexandre nick1@yahoo.com.br

Imagem Destaque: professoramagna.blogspot.com.br

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