As origens do romance brasileiro

Alexandre Azevedo

Cronologicamente, o romance brasileiro surgiu em 1843, com a publicação da obra folhetinesca O filho do pescador, de Teixeira e Sousa. Entretanto, sua obra é considerada incipiente no que diz respeito à ficção. Um ano depois, em 1844, foi publicado o romance A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, oficializando, dessa forma, o início da ficção nacional.

Com o surgimento da imprensa em solo brasileiro e, consequentemente, a circulação de jornais e revistas, intensificou-se o interesse pela publicação, não só de romances, mas de outros tipos de textos em prosa, como o conto, o teatro, a crítica literária e a crônica (célebres eram as colunas Ao Correr da Pena e A Semana, respectivamente de José de Alencar e Machado de Assis, dando uma nova roupagem à crônica jornalística). Jornais como o Correio Mercantil e o Diário do Rio de Janeiro publicaram grandes romances da literatura brasileira: o primeiro, Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida; o segundo, O guarani, de José de Alencar, este um sucesso de público, faltando, até mesmo, exemplares do jornal tamanho era o interesse dos leitores pelas aventuras do índio Peri nas matas do Rio de Janeiro. Mas vale ressaltarmos que em fins do século XVIII, Teresa Margarida da Silva e Orta, sob o pseudônimo de Dorothea Engrassia Tavareda Dalmira, publicou aquele que seria o primeiro romance brasileiro: As aventuras de Diófanes. Entretanto, a crítica especializada reluta em considerá-la pioneira. Portanto, coube mesmo ao escritor romântico, Joaquim Manuel de Macedo, com sua A Moreninha, a primazia de ter sido o primeiro romancista brasileiro.

O romance (narrativa em prosa de maior fôlego) passa a ser amplamente difundido por nossos românticos, ou em forma de folhetim ou editados em livros, por editoras portuguesas ou francesas, já que a primeira editora nacional só seria fundada no início do século XX, por Monteiro Lobato. Nessa época romântica (é bom lembrarmos que o Romantismo brasileiro se divide em dois momentos: a poesia, com as três gerações românticas, a primeira, conhecida como nacionalista ou indianista, cujo maior represente é Gonçalves Dias; a segunda, também conhecida como mal do século ou byroniana, tendo como poeta mais significativo, Álvares de Azevedo, e a terceira geração romântica, condoreira ou social, representada pelo grande Castro Alves, e a prosa, especialmente com o romance e o teatro, este representado por Martins Pena e Corpo-Santo).

Assim, vários tipos de romances surgiram durante a estética romântica, como o romance social, também conhecido como urbano, citadino ou de costumes, caracterizando-se por ser uma narrativa que explora os conflitos, as convenções e situações de uma determinada sociedade. No caso específico do Romantismo, a classe social explorada é a burguesia, com exceção das divertidíssimas Memórias de um sargento de milícias, cujo cenário é o subúrbio carioca. Assim, Senhora e Lucíola, de José de Alencar, A Moreninha e O moço loiro, de Joaquim Manuel de Macedo, dentre outros, são classificados como sociais. Já o romance indianista é o tipo de romance em que se exploram os usos, costumes, as tradições e a língua do indígena. Iracema, O guarani e Ubirajara, de José de Alencar, são exemplos máximos desse tipo de narrativa. Ainda temos o romance regionalista, sertanejo ou campesino, tratando de temas como a cultura, as tradições, as lendas folclóricas e o linguajar de uma determinada região. É o caso, por exemplo, de Inocência, de Visconde de Taunay, O gaúcho, de José de Alencar, O Cabeleira, de Franklin Távora e O ermitão de Muquém, de Bernardo Guimarães, este o introdutor do romance regionalista na literatura brasileira. Não podemos nos esquecer do romance histórico, cujos fatos grandiosos ocorridos em nosso passado são transformados em ficção, como a Guerra dos mascates, de José de Alencar, e A retirada da Laguna, de Visconde de Taunay.

Como podemos notar, os principais representantes da prosa romântica brasileira foram Joaquim Manuel de Macedo, José de Alencar, Bernardo Guimarães, Franklin Távora, Visconde de Taunay e Manuel Antônio de Almeida. Também percebemos que José de Alencar explorou todos os tipos de romances, tornando-se o mais completo romancista romântico. E aqui vale a pena ressaltarmos que o autor de Iracema, teve uma participação fundamental nos rumos do Brasil da época, auxiliando o imperador Pedro II na unificação do país, já que ele, o imperador, havia encontrado uma Nação desunida, cujas províncias (hoje estados) eram quase que pequenos países, sem uma ligação efetiva entre elas. A verdade era que o brasileiro não conhecia o Brasil em que vivia. José de Alencar, então, com a sua pena profícua, escreveu romances mostrando o Brasil para esses brasileiros, retratando as várias regiões (de norte a sul), como O gaúcho (os pampas do sul); O sertanejo (a região nordestina); Til (o interior de São Paulo); O tronco do ipê (o interior do Rio de Janeiro) e tantas outras obras.

O certo é que, com o surgimento da prosa nacional, em especial o romance, e pela quantidade de escritores adeptos, assim como pela qualidade de suas narrativas, esse tipo de gênero dividirá, “democraticamente”, espaço com a poesia.


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