Pensar o Planeta. Repensar a Educação Ambiental – Aleluia Heringer Lisboa

Pensar o Planeta. Repensar a Educação Ambiental

Aleluia Heringer Lisboa

O documento intitulado Acordo de Paris, ratificado pelas 195 partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) e pela União Europeia, durante a 21ª Conferência das Partes (COP21), tiveram como meta manter o aquecimento global “muito abaixo de 2°C”. De fato, o limite ideal seria 1,5°, patamar menos ameaçador contra os impactos negativos das mudanças climáticas. Esta Convenção, que é universal, reconhece que as mudanças climáticas têm causas antropogênicas, ou seja, de origem humana.

Além da ONU, a academia está se mexendo. Destaco duas relevantes e recentes pesquisas. A primeira, com o título “Análise e avaliação dos cobenefícios para a saúde e mudanças climáticas por uma mudança na dieta”, saiu em março 2016, na Revista PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences), publicação oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. Os pesquisadores da Universidade de Oxford (Inglaterra) analisaram quatro cenários projetando 2050. Segundo o Dr. Marco Springmann, que coordenou o estudo, “o sistema de alimentação é responsável por mais de ¼ de todas as emissões de gases de efeito estufa e, portanto, um dos principais motores da mudança climática”. Em um dos cenários, os pesquisadores respondem: o que aconteceria se o mundo inteiro consumisse apenas alimentos de origem vegetal? As emissões de gases do efeito estufa cairiam 70%; 8,1 milhões de pessoas deixariam de morrer por doenças relacionadas à alimentação todos os anos; e a economia com dias perdidos no trabalho e de saúde pública giraria em torno de US$1,4 trilhão por ano. Segundo este estudo, esta é de longe a melhor opção para o meio ambiente, para a saúde e também para a economia global.

A outra pesquisa saiu no dia 19 de abril de 2016, na Nature Communications, um dos mais respeitados periódicos de Ciências Naturais. O estudo aborda várias possibilidades de medidas a serem tomadas no cenário hipotético de um mundo sem desflorestamento para produção de alimento. Utilizam como base a população esperada para 2050. As medidas analisadas foram a otimização da produção agrícola, da pecuária, a mudança na demanda da dieta, e uma combinação entre cada cenário. Cada uma das opções é possível dependendo das outras condições que estão sendo cruzadas. Por exemplo, uma dieta “onívora” típica do ocidente, rica em proteína animal, é possível em 15% dos cenários, ou seja, apenas se outras condições restritivas também são aplicadas (e.g. expansão do desflorestamento, otimização da produção etc.). A dieta vegetariana é possível em 94% dos cenários e a vegana, em 100% dos casos.

Chamo atenção para o fato de estas pesquisas não serem destaque em nenhum grande veículo de comunicação. Tímidas matérias, encontradas apenas para aqueles que se interessam pelo assunto. Contudo, este é o horizonte e nós ainda não nos demos conta da empreitada que temos pela frente. Você, meu caro leitor, muito provavelmente estará vivo em 2050, sendo um dos 9,6 bilhões de habitantes, segundo previsão da ONU. Basta acrescentar 34 anos a sua idade. Aproveite e faça as contas da idade do seu filho ou neto. Bem-vindos ao futuro! Vocês não estão em uma ficção científica. A pergunta posta é como será alimentar, fornecer água, disponibilizar energia e meios de transporte para tanta gente?

Partindo para um otimismo prático, considero a educação como parte da solução do problema e precisa urgentemente, dentro do seu escopo, colocar-se ao lado daqueles que estão pensando e propondo mudanças. Podemos favorecer a criação de condições mentais e culturais para que elas aconteçam. Talvez fazer algumas perguntas iniciais, tais como, quais as implicações deste novo cenário nos cursos de formação de professores, nas aulas de ecologia, de biologia, filosofia e, principalmente, da ética necessária a este novo momento?

Nenhuma das duas pesquisas tiveram como objetivo mensurar as implicações de uma mudança na dieta para a vida dos animais criados para abate. Entretanto, esta é a razão primeira daqueles que fizeram da dieta, segundo definição grega “Díaita”, “um modo de viver”. Nessa perspectiva, comer é bem mais que ingerir comida. Os modos de produção e a manipulação e intervenção no corpo do animal e a sua vida importam sim e não mais temos o direito de considerar o ato de comer como algo à parte da moralidade humana. O animal não humano é sujeito de uma vida, portanto, com direito `a ela, à integridade física e à liberdade. Garantir esses direitos não significa generosidade ou favor de nossa parte, mas é questão de justiça, conforme nos alerta Tom Regan, em seu livro Jaulas Vazias.

Enquanto a educação ambiental se dá por satisfeita com as lixeirinhas coloridas da reciclagem, nossas florestas e o cerrado se tornaram o pasto do mundo. Na contramão daquilo que as pesquisas estão indicando, o que temos é o Programa Mais Pecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, publicado em 2014, que incentiva, dentre outras coisas, o aumento do consumo de leite em 23% e a produção de carne em 40%. Para isto, apostam no confinamento do animal, incentivam o marketing e a criação de novos produtos, sempre visando o aumento da “produtividade”, ou seja, mais interferência na vida e no corpo do animal, que até que se prove o contrário, não é pedra e nem aço, mas um ser senciente, conforme Manifesto de Cambridge sobre Consciência. Publicado em 2012 e assinado por 25 pesquisadores, afirmam que há evidências científicas suficientes que confirmam que os animais têm estruturas neurológicas que geram consciência.

Mesmo que a indústria, apoiada na tecnociência, consiga mitigar e resolver todos os problemas ambientais ou de saúde provenientes de uma dieta pautada em cima de produtos de origem animal (o que é bem provável que aconteça), o problema ético em relação àquilo que imputamos aos corpos dos animais ainda irá permanecer. Não tenho dúvida de que rever este estado de coisas é a mudança mais rápida, eficaz, justa e ética em relação às pessoas, ao planeta e aos animais.

FONTES:

PNAS. Analysis and valuation of the health and climate change cobenefits of dietary change: Disponível em: Nature Communications. Exploring the biophysical option space for feeding the world without deforestation: Disponível em:

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