A reunião com o Ministro e o movimento “Fica MCTI”
Há uma clara insatisfação da comunidade acadêmica com o governo Provisório hoje, apesar de boa parte dela não ter se pronunciado antes do impedimento da Presidente Dilma Rousseff, embora naquele momento já estivesse muito claro o descalabro que seria um governo chefiado pelo Vice-Presidente. Um dos pontos de maior atrito é justamente a con-fusão do Ministério da Ciência, da Tecnologia e da Inovação com o Ministério das Comunicações.
Animados pelo sucesso dos artistas, ativistas e profissionais da área da cultura na reversão da anexação do MinC ao MEC, os cientistas e um conjunto expressivo de organizações acadêmico-científicas se mobilizaram nas últimas semanas em torno do slogan “Fica MCTI” objetivando a volta do Ministério da Ciência da Tecnologia e da Inovação, órgão também extinto na investida inicial do governo Provisório liderado por Temer de desconstrução das políticas públicas nacionais.
Havia, por isso, grande expectativa quanto aos resultados de uma reunião com o Ministro, marcada para São Paulo no dia 08 de junho. Passada a reunião, o que se pode avaliar é que a perspectiva de que o MCTI retornará ficou mais distante. Isso porque, como se pode ver no vídeo disponibilizado nas redes sociais, a reunião acabou por se transformar em mais num ato de múltiplas reivindicações específicas e de todo tipo ao Ministro do governo Provisório do que um ato contundente pela volta do Ministério. Foram poucas as vezes em que os (as) pesquisadores (as) presentes colocaram efetivamente o interlocutor contra a parede e chegou-se até mesmo a elogiar o ministro pela sua gestão em São Paulo.
Por sua vez, o Ministro Interino, como tem feito sistematicamente, se comprometeu com o óbvio e enviou para um futuro, próximo ou distante, as questões mais fundamentais. Mas dele não se pode dizer que não tenha sido, pelo menos em alguns momentos, bastante sincero. Apresentou-se afirmando ter planos para permanecer no governo por dois anos e meio e afirmou que a con-fusão dos ministérios não teve como objetivo a economia de recursos financeiros, mas a maior eficiência dos órgãos.
Não explicou, obviamente, como dará maior eficiência ao funcionamento do novo Ministério surgido com a con-fusão, já que os órgãos reunidos apresentavam missões e ações absolutamente distintas. E, como todos sabíamos, reafirmou a convicção de que a volta do MCTI depende de uma decisão política do próprio presidente Provisório Michel Temer.
Ressalte-se, também, que a reunião foi marcada pela ausência de pesquisadores e instituições de representação de cientistas que se recusaram a participar de uma conversa com um ministro interino e ilegítimo.
No balanço final, a impressão que se tem é, como já se disse, que um MCTI independente das negociatas políticas do Ministério das Comunicações ficou mais distante, e o que restará à comunidade científica é esperar que ao regulamentar os órgãos e o funcionamento do novo Ministério haja alguma sensibilidade política e científica para não destruir mais do que já foi destruído. A considerar o que temos visto nos primeiros dias do governo Provisório, é uma temeridade a comunidade científica e tecnológica acreditar que tal sensibilidade exista. Outra saída seria radicalizar a luta. Mas estarão os cientistas dispostos a isso? Pelo que vimos na reunião a impressão é que não.