Em tempos de “MP da Liberdade Econômica”, as questões bizarras parecem naturalizadas em prol de um falso desenvolvimento. É o mesmo princípio que deteriorou as reservas de pau-brasil, as aldeias indígenas e, nesta semana, a vida nativa da Amazônia e do Pantanal com as queimadas. Significa destruição da vida (sim. Não somente da vida dos animais e das plantas, mas da vida, como um todo) e cheira hipocrisia defender um capitalismo sustentável ou um socialismo desvinculado da proteção ao meio ambiente. A defesa teria que se dar, também, com temas que orbitam as discussões sobre os direitos humanos, como o feminismo, proteção às minorias, defesa da ciência, etc.
O capitalismo não pode ser sustentável em sua plenitude, pois suas bases estão calcadas no aumento do consumo e/ou na dependência da vida humana em relação ao mercado financeiro. No primeiro caso, o fetiche do desenvolvimentismo gera depredação das condições humanas de existência na Terra, no segundo caso, o capital improdutivo nega as condições básicas de recursos que, diga-se de passagem, a vida humana ainda carece.
Uma educação não pode ser considerada emancipadora se estiver condicionada somente a reflexão sobre o controle dos meios de produção e a busca de igualdade, pois, igualmente, em pouco tempo, tornar-se-á insustentável. Alinhar nosso padrão de vida e de consumo ao dos países que mais consomem significa negar a ciência quanto a capacidade de resposta do planeta à nossa depredação. É a glamourização do antropocentrismo, com o ser humano em notável supremacia em relação ao planeta e as outras formas de vida. Em verdade, é uma maneira ignorante de notar as relações e interdependência da vida humana com a Terra e sua diversidade.
A educação que queremos é a que emancipa e humaniza. A humanização verifica-se no aumento do número de vegan@s no mundo, no crescimento do número de vilas que colocam a permacultura como condição de existência no mundo. Paralelamente a isso, as discussões sobre meio ambiente alongam o tempo de vida na Terra, com os limites que o capitalismo coloca, ou seja, continuamos a caminhar para o precipício, no entanto, com passos mais lentos. Emancipar as trabalhadoras e os trabalhadores, permitindo que os meios de produção sejam socializados não é condição de valorização da vida humana, por isso o socialismo deve ser ecológico, deve ser feminista, deve ser de todas as culturas e etnias, em coexistência.
A ética, pouco ouvida em tempos atuais, deve pautar-se não somente no respeito ao ser humano, mas no respeito à vida, em todas as suas formas. Se por um lado nosso cérebro permitiu que nos relacionássemos com o mundo de maneira complexa e sofisticada, por outro, nos dá a capacidade de escolhermos o que comer, o que consumir e de que forma as relações sociais se darão. Significa pensar nas próximas gerações, conceito presente no marxismo, mas ainda carente de estar nas pautas das lutas de muitos grupos de esquerda (mesmo que não marxistas).
Dessa forma, uma educação que se diz emancipadora precisa de bases calcadas na continuidade da vida na Terra, de forma que a abundância não esteja fundada no fetiche da mercadoria, mas na sustentabilidade imediata, em uma crescente de tal forma que, quando atingir os limites do que o capitalismo pode proporcionar, a própria organização social culmine na comunhão de todas e todos, em suma, oposta ao capitalismo.
A educação humanizadora urge, assim como a superação do desenvolvimentismo e a noção de que chegamos ao limite do controle da vida na Terra pelo capital. A MP da Liberdade Econômica traduz essa urgência, as queimadas desta semana também. Está na hora de entendermos que uma educação que busca libertar as trabalhadoras e trabalhadores e fazer com que a propriedade privada cumpra sua função social precisa estar condicionada à preservação da vida.
Por fim, a educação não pode ser chamada de humanizadora e o socialismo não pode ter um cunho social se estiverem afastados de uma relação intrínseca, em suas bases teóricas, com os elementos da ecologia. Por isso, em todas as suas formas, ecoeducação e ecossocialismo são os pilares da vida humana na Terra, pois, se a vida humana não mais existir, a vida ainda existirá.
Imagem de destaque: Vinícius Mendonça/Ibama