Paulo Hallack
Doutor!
Eu sou um poeta, doutor.
Roubei, mas roubei para compor.
Roubei para escrever neste saco de pão.
Neste saco
em que havia um pão que acordei
para maltratar minha fome de então.
Pois, não foi que, a pequena porção
me abriu, de repente, o apetite.
E lá fui eu cozinhar,
rabiscar um poema.
Mas qual foi meu dilema
quando reparei…
Faltava-me a pena.
No entanto lembrei
que na loteria,
vizinha da marquise em que durmo,
ficava, para o povo marcar sua sorte,
uma caneta amarrada,
dependurada,
tal qual minhoca no anzol.
Foi assim que peguei.
Assumo, de cara, roubei.
Sou ladrão.
O que não notei, enquanto escrevia,
foi que a dona da loja, de lá, saía
e chamava o senhor, meu doutor.
E como admito, sem mais ardis,
te provo e te mostro
aquilo que eu fiz.
Aqui está o saco de pão
que guarda,
ainda,
o farelo dormido.
Ali está
a linha de pesca,
partida,
a qual me fisgou.
E mostro, por fim, o poema.
O grande culpado
que vai me imputar
algum tipo de pena.
Está aqui, autoridade,
pode ler…
Mas se está difícil de entender
minha letra enferrujada,
não se preocupe, doutor,
eu recito para você:
_ Dela…Por causa dela…
Doutor, não me deixe, me leve com o senhor!
Eu sou um poeta e eu sou um ladrão.
E quem sabe, se ela souber,
vai me visitar na prisão…
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