A importância do diálogo fraterno

Eugênio Magno

Fraternidade, Amor, Paz, Unidade – ainda que na diversidade – são pressupostos básicos do cristianismo. Num país como o nosso em que, algo em torno de 80% da população se declara cristã, porque é necessário que mesmo as verdadeiras Igrejas Cristãs tenham que fazer campanha para estimular e promover, justamente a fraternidade? Será porque não sabemos o que é ser cristão e é fundamental que sejamos lembrados permanentemente? 

Existe todo um ensinamento dado pelo próprio Cristo e pelos verdadeiros cristãos, ao longo da história do cristianismo por meio dos Evangelhos, segundo vários apóstolos. Cada um dos batizados que se dizem cristãos, também já deveriam estar cientes do que é ser cristão. Sendo simplista, diria que ser cristão é seguir o Cristo, é ter a intenção e o desejo de, ao menos, aprender a segui-lo. E para segui-lo é fundamental que tenhamos, ainda que somente como horizonte, o compromisso com seu principal mandamento: “Amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo”.

Se assim comportassem aqueles que dizem ser cristãos qual seria o problema? Porque seitas exploradoras da credulidade popular fazem tanto escarcéu contra a Campanha da Fraternidade de 2021. E, mais grave ainda, porque setores conservadores da Igreja Católica e de outras Igrejas pertencentes ao Conselho Nacional das Igrejas Cristãs insistem em dividir ainda mais o que deveria estar unido e incentivam boicotes e fazem críticas à campanha?

Na quarta-feira de cinzas, 17 de fevereiro, foi lançada a Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021 com o tema “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e o lema: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”. Neste ano, a campanha é ecumênica e, portanto, organizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pelo Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (CONIC). A Campanha da Fraternidade acontece no Brasil desde 1964 e, a partir do ano 2000, assumiu o compromisso de ter caráter ecumênico a cada cinco anos. Os principais objetivos da Igreja Católica, representada em nosso país pela CNBB, em criar, manter e promover, anualmente, as Campanhas da Fraternidade são: educar para a vida em fraternidade, com base na justiça e no amor, exigências centrais do Evangelho e renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja Católica na evangelização e na promoção humana, tendo em vista uma sociedade justa e solidária.

A campanha deste ano está voltada para a superação das polarizações e das violências que marcam o mundo atual, em especial no contexto da política e da pandemia da covid-19. A CNBB chama a atenção para o fato do vírus que já é letal em si mesmo, ter encontrado aliados na indiferença, no negacionismo, no obscurantismo e no desprezo pela vida. Na ocasião do lançamento virtual da campanha, a entidade conclamou os cristãos a serem aliados na responsabilidade, na lucidez e na fraternidade. A proposta da CNBB que encontrou plena ressonância no Conselho Nacional das Igrejas Cristãs foi dar continuidade à campanha do ano passado, sobre a necessidade do cuidado mútuo entre as pessoas, independentemente de sua cor, raça, etnia, gênero, cultura e condição social e econômica. 

Os organizadores da campanha ressaltam que essa proposta ecumênica não é de imposição, no sentido de que todos pensem e ajam da mesma maneira e sim de sensibilização sobre a importância do diálogo, especialmente frente às diferenças. CNBB e CONIC identificaram nesse tema a mensagem pela qual o nosso tempo clama. É voz corrente entre os cristãos que verdadeiramente abraçam o Evangelho de Jesus Cristo saberem-se conscientes de como é triste ver o que vem acontecendo em nossa sociedade, marcada pela radicalização, polarizações e desrespeito às pessoas, especialmente as mais simples e as vulnerabilizadas, sem fazer nada a respeito. 

As campanhas da fraternidade são formas concretas de expressão da dimensão social e porque não dizer política da fé. E isso não tem nada a ver com simpatias ou antipatias partidárias. Muito embora haja muitos partidos políticos e partidários negacionistas que, mais preocupados em dividir ou se afirmarem equivocadamente, negam o amor e a fraternidade entre os humanos. 

Os agentes educacionais, independentemente da fé que professam, também podem contribuir para o sucesso da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2021, sensibilizando estudantes e familiares no sentido de receber bem esta proposta dialógica de unidade e paz.


Imagem de destaque: Cartaz da Campanha da Fraternidade 2021 (Arte: Ana Beatriz)

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