Em 02 de setembro do ano passado, o Brasil mostrou ao mundo a incompetência de sua gestão cultural e patrimonial ao perder num incêndio uma das maiores coleções museológicas interdisciplinares do mundo com rico acervo em antropologia biológica, arqueologia, botânica, etnologia, geologia, paleontologia e zoologia. Construído na Quinta da Boa Vista, para ser referência dos monarcas portugueses quando estes se refugiaram no país, trouxe consigo todo um arcabouço artístico, cientifico e cultural que se ampliara pelo Rio de Janeiro, irradiando-se a partir daí. Berço da Ciência Brasileira, sua perda representa duas facetas estruturais, uma vinculada à gestão pública e outra à educação patrimonial no contexto da Brasilidade.
Considera-se, ainda, que tanto o gerir, quanto o educar, são premissas que regem o patrimônio, enquanto legado e memória da coletividade, conforme disposto na Carta Magna, que em seu artigo 216 alega que “constituem patrimônio cultural luso-brasileiro, os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. Assim, os conjuntos urbanos-rurais artísticos e históricos, as criações artísticas, científicas e tecnológicas, os espaços destinados às manifestações artístico-culturais, as formas de expressão e valores, os modos de criar, fazer e viver, os documentos, edificações, objetos e obras, os sítios arqueológicos, científicos, ecológicos, paisagísticos e paleontológicos são preservados conjuntamente por ações articuladas de educação e gestão. São elementos indissociáveis e precisam estar no âmago da sociedade, desde a educação básica que forma o cidadão, ciente de seu patrimônio, orgulhoso de seu povo e de sua cultura. Aberto à diversidade que colore este Brasil, de norte a sul e de leste a oeste, e o enriquece profundamente.
O Instituo do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), criado em 1937, prega que a Educação Patrimonial se constitui socialmente de todos os processos educativos formais e não formais que enfoquem o patrimônio cultural, apropriado como recurso para a compreensão histórica das manifestações e referências culturais. Educar é colaborar para o reconhecimento, a valorização e a preservação do patrimônio cultural e natural. Os processos educativos primam pela construção coletiva e democrática dos conhecimentos e noções patrimoniais, pela participação efetiva das comunidades detentoras e produtoras das referências culturais, onde convivem diversas culturas, com identidades, subjetividades e riquezas de extrema relevância para a coletividade.
Em junho de 2019, chegou à sua décima primeira edição, o Fórum Mestres e Conselheiros, que ocorreu entre os dias 26 e 28, na Faculdade de Direito e Ciências do Estado da Universidade Federal de Minas Gerais. Evento único no Brasil, reúniu agentes militantes e pesquisadores acadêmicos, visando propiciar um espaço de discussão sobre as questões de formulação, implantação e consolidação das políticas de patrimônio em no país. Envolvendo questões teóricas e práticas no campo da educação e gestão para a preservação, dialoga de forma interdisciplinar, multidisciplinar e transdisciplinar com as diversas áreas do conhecimento, articulando diferentes saberes e fazeres. Neste contexto, a educação patrimonial é amplamente reconhecida como referência na discussão da salvaguarda e apropriação do patrimônio de todo o Brasil.
Segundo os organizadores do evento, neste ano, o Fórum apresentou uma visão panorâmica da preservação no Brasil, convidando especialistas e militantes a apresentarem suas reflexões e experiências sobre “as diversas dimensões do patrimônio cultural”. Mantendo o seu caráter plural, o Fórum Mestres e Conselheiros abriu espaço para apresentação de trabalhos científicos, que serão publicados em anais indexados.
A Educação para o Patrimônio requer diferentes suportes didáticos pedagógicos que fomentem práticas de identificação, reconhecimento e preservação. No projeto tecnicista e tradicionalista da Educação básica brasileira esta questão recai, quase que exclusivamente sobre as áreas curriculares de Artes e de História. É preciso reverter esta situação envolvendo as demais disciplinas. Por outro lado, a educação ambiental, alinhada quase que exclusivamente aos conteúdos de Ciências e de Geografia, também é um forte aporte para a percepção e compreensão do patrimônio natural e de sua importância.
Instrumentar os discentes para o entendimento dos diferentes patrimônios naturais brasileiros: arqueológico, científico, ecológico, paisagístico e paleontológico é fomentar uma transformação na desbotada prática de ensino. Porém desfalece na sala de aula e encarcera sujeitos, expropriando-os de seus diretos individuais e coletivos. Vai além disso consolidando a anestesiamento de tantos professores e gestores que ainda não compreenderam o caráter emancipador do ator de educar e de formar cidadãos que transformem o mundo.
A formação profissional para a docência na educação básica ainda deixa a desejar com lacunas na graduação, onde poucas licenciaturas trabalham a questão patrimonial como prioridade pedagógica na formação de sujeitos emancipados, e poucos são os educadores que se enveredam pela área de patrimônio nos programas de pós-graduação disponíveis. As diversas dimensões do patrimônio cultural necessitam de diversificadas metodologias e práticas de ensino no contexto escolar. A educação patrimonial inicia-se na escola para a partir dela tomar os rumos do mundo. Assim uma formação pedagógica para o patrimônio não pode jamais se restringir às Artes, às Ciências Biológicas, à Geografia e à História. Alunos precisam compreender as diferentes nuances do patrimônio cultural, e suas ricas variações, do material ao imaterial. Os ofícios tradicionais, muitos deles em vias de extinção precisam ser explorados. Acima de tudo, a educação deve se comprometer com abordagens que explicitem os instrumentos para a proteção do patrimônio, quais os agentes estão em ação e quais os desafios. Como a coletividade se organiza na salvaguarda do patrimônio: seus conselhos, seus movimentos sociais, suas ONGs. Como está a situação do patrimônio no campo e na cidade.
A formação pedagógica para o patrimônio cultural e natural do Brasil e do Mundo é um compromisso coletivo para com a memória social, principalmente em momentos em que ela se encontra ameaçada pelos loucos que ocuparam o poder nas últimas eleições. Se depender deles, nossos patrimônios serão todos incendiados pelo discurso da inviabilidade, da falta de recursos legitimando as ações em andamento de negligenciamento de direitos, de anulação de sujeitos. Que o incêndio no Museu Nacional e sua reconstrução seja nossa meta educativa emancipadora e nosso maior patrimônio. De apagar o incêndio que assola o Brasil nos últimos seis meses, incêndio que tenta anular, exterminar, boicotar, intimidar, destruir, violar, massacrar. O Brasil é patrimônio de todos os Brasileiros, sem exceções e não apenas de um ditador que insiste em se autoproclamar dono desta nação e de seu povo, e forçar sua insanidade a qualquer custo. #EleNão
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