ECOLOGIA, SAÚDE E PAZ: uma breve biografia do Professor Antônio Leite Alves Radicchi

Rômulo Radicchi
Vagner Luciano de Andrade

As águas límpidas são essenciais para que tenhamos uma boa qualidade de vida. Por meio delas, encontramos uma forma de hidratação e podemos aproveitá-las nas atividades diárias básicas. Por se enquadrarem como mananciais de água doce no Brasil carecem ser conservadas, uma vez que esse bem é insuficiente e, embora seja renovável, corre o ímpeto de faltar. No entanto, muitos cursos d’água se transformam em canais poluídos, gerando conflitos socioambientais para o ecossistema de lagos ou rios. Isso ocorre em função de vazões de esgotos, sem o devido tratamento, gerados pelas mais variadas atividades humanas.

A ausência de investimentos em saneamento básico pôs o Brasil em uma conjuntura crítica com relação a essa temática, com mais da metade do esgoto originado pela população, sem tratamento. O esgoto doméstico é mesclado por água (99%) e sólidos (1%). Esses rejeitos sólidos são, em sua maior parte, compostos por matéria orgânica em decomposição, gerada por fezes e atividades humanas em chuveiros, máquinas de lavar, pias, tanques, entre outros (detergentes, sabonetes e shampoos). Quando vazado nos rios sem tratamento, ele transforma o arranjo natural daquele ecossistema, acarretando agravos para a fauna e a flora aquática e para os seres humanos que habitam no entorno.

De acordo com o Instituto Trata Brasil, 35 milhões de pessoas não têm fornecimento de água potável em seus domicílios. Em muitos desses casos, a água é coletada e consumida diretamente dos rios, estando corrompidas pelo descarte inadequado do lixo e pelo esgoto sem tratamento das urbes, por exemplo. Essa ausência de saneamento promove a proliferação de doenças, especialmente entre crianças e idosos, que apresentam uma saúde mais fragilizada. Isso acontece quando a água dos rios não passa pelo devido tratamento, expondo elevadas quantidades de poluentes e de agentes biológicos que causam doenças, compreendendo bactérias, vírus, e parasitas.

Para se ter uma ideia, conforme relatório publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), quase 1,5 milhão de crianças falecem anualmente em consequência de diarreia em todo o mundo. E 88% desses óbitos poderiam ser impedidos com coleta e tratamento de esgoto e acesso à água tratada – ou seja, os serviços de saneamento básico. Outras doenças ocasionadas pelo contágio da água por esgoto são cólera, febre tifoide, hepatite A, infecções bacterianas e leptospirose. Além do conflito na saúde e bem estar das pessoas, elas custam muitos recursos financeiros ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Sem equívoco, a carência de saneamento básico, notadamente os baixos índices de tratamento de esgoto, é um das maiores dificuldades socioambientais hoje em dia, ao lado do desmatamento. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 100 milhões de brasileiros convivem com a falta da coleta de esgoto e residem com os esgotos escoando a céu aberto, o que, além de infectar o solo, é fonte de graves patologias.

Ao desembocar nos rios, o esgoto muda toda a composição química da água, impactando inteiramente a vida aquática. Isso ocorre porque a acumulação de matéria orgânica propicia o aparecimento de micro-organismos que diminuem a abundância de oxigênio na água, danificando absolutamente a vida aquática e a qualidade dessa água. Além disso, os nutrientes existentes no esgoto, com proeminência para nitrogênio e fósforo, provocam a eutrofização, que é uma ação de proliferação de algas que se empilham na superfície do rio.

Dessa forma, a luz solar não penetra para o interior das águas e as plantas presentes no rio não realizam a fotossíntese, enfraquecendo a concentração de oxigênio. Assim, os animais expiram e o número de micro-organismos acresce, transformando todo o ecossistema.

Projeto Manuelzão: revitalização das bacias hidrográficas

Foi pensando nas águas poluídas, na saúde pública e no meio ambiente que surgiu no final da década de 1990, o Projeto Manuelzão. Dentre os cinco fundadores está o Professor Antônio Radicchi. Antônio Leite Alves Radicchi nasceu em Belo Horizonte/MG em 08 de agosto de 1954 e faleceu em 13 de novembro de 2017, vítima de violência urbana, durante um assalto à linha de ônibus 9805 (Renascença/Santa Efigênia), enquanto se dirigia para o trabalho. Médico pela Faculdade de Medicina da UFMG (julho de 1979) – FM/UFMG.  Doutor em Medicina Social e Preventiva pela Universidade de São Paulo – USP. Professor Titular do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG (DMPS/FM-UFMG) de julho de 1980 a novembro de 2017.  Atuou no ensino de graduação e de pós-graduação, especialmente no Internato em Saúde Coletiva /Internato Rural e no Programa de Mestrado Profissional em Promoção da Saúde e Prevenção da Violência do DMPS/FM-UFMG. Foi um dos fundadores do Projeto Manuelzão (1996) da UFMG, que articula ações de saúde pública, meio ambiente e cidadania na Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas. Representante da sociedade civil no Conselho Municipal de Saneamento de Belo Horizonte. Professor da disciplina Saúde e Ambiente do Curso de Gestão de Serviços de Saúde da UFMG. Coordenador do grupo de pesquisa Ar e Saúde. Cidadão honorário do município de Várzea da Palma/MG. Após sua morte, recebeu as seguintes homenagens: dá nome à sala dos professores da disciplina do Internato em Saúde Coletiva/Internato Rural; ao Núcleo de Promoção da Saúde e Prevenção da Violência do DMPS/FM-UFMG; Diploma de honra ao mérito in memoriam da Câmara Municipal de Belo Horizonte (vereador Juliano Lopes).

 

Para saber mais
https://blog.brkambiental.com.br/problemas-causados-pelo-esgoto/

http://www.enf.ufmg.br/index.php/noticias/801-homenagem-a-antonio-radicchi-reforca-necessidade-de-prevencao-da-violencia

https://ufmg.br/comunicacao/noticias/camara-de-bh-homenageia-professor-antonio-radicchi


Imagem de destaque: Foto Portal Nescom – UFMG

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