O amor para bell hooks

Raira Oliveira

Às vezes, para entender de fato o que é o amor nas nossas vidas, é preciso enxergar que em muitos momentos não fomos amados de verdade. Isso talvez seja uma das coisas mais dolorosas ao ler bell hooks, pois é bagunçar todo conceito que cultivamos ao longo da vida e entender que talvez o amor não era aquilo que acreditávamos ser.

Nessa perspectiva, o amor se distancia dos conceitos de catexia e de preocupação. Muitas vezes, achamos que quem se preocupa ama. Mas bell defende que o amor vai muito além da preocupação; são necessários uma atenção e um real comprometimento com o bem-estar de outra pessoa. Assim, a autora aborda a disfuncionalidade de muitas famílias. Muitas vezes, confundimos as nomenclaturas do que recebemos. É no núcleo familiar e na infância que, geralmente, conhecemos as práticas do amor (e do desamor). Nem tudo é válido em nome do amor.

Assim, bell defende que a mentira não pode estar alinhada ao amor. Aprendemos, durante a infância, que falar a verdade é, muitas vezes, motivo de repressão e que mentir pode aliviar dores e desentendimentos. Homens, em sua maioria, são criados para não se expressarem e mentirem sobre seus sentimentos. E assim, em uma sociedade patriarcal, homens são acostumados a mentir em seus relacionamentos com mulheres, não apenas para não se sentirem vulneráveis, como também para utilizar essas mentiras como um instrumento de dominação sobre as mulheres. Já as mulheres também mentem, mas como forma de manipulação e elevação da autoestima masculina.

Desse modo, apesar de a cultura da mentira estar mais relacionada aos homens, percebe-se que ela é maléfica para todos os gêneros. E, em muito, ela contribui para uma sociedade machista, em que homens mentem para dominar e as mulheres mentem para evitar o conflito. Bell defende que ser honesto é a pulsação do amor.

bell hooks assume a importância do amor próprio e que “quando vemos o amor como uma combinação de confiança, compromisso, cuidado, respeito, conhecimento e responsabilidade, podemos trabalhar para desenvolver essa qualidade ou, se elas já forem parte de quem somos, podemos aprender a estendê-las a nós mesmas”. Nós, mulheres, somos ensinadas a amar e a ocupar o papel do cuidado em todas as esferas de nossas vidas. E isso, em certa medida, faz com que nos lembremos de amar todos à nossa volta e nos esqueçamos de amar a nós mesmas. É preciso depositar em nossas próprias vidas todo o amor que depositamos em outras.

Pode parecer clichê, mas, para bell, muitos problemas sociais não existiriam se o amor estivesse presente em todas as relações. Quando aplicamos confiança, compromisso, cuidado, respeito, conhecimento e responsabilidade a pessoas de diferentes gêneros, raças, classes sociais, não reproduzimos o ódio e, consequentemente, amenizamos a desigualdade. Porém, para bell, vivemos em uma sociedade gananciosa, e tudo é válido para chegarmos ao “topo”, onde tudo que importa é a matéria e o dinheiro. O sucesso da vida é automaticamente relacionado à quantidade de bens que acumulamos e não à quantidade de conexões e amor que damos e recebemos. O crescimento emocional é deixado de lado e, cada vez mais, os nossos propósitos nos distanciam do amor.

bell hooks também discorre sobre como o medo da perda e da morte pode influenciar nas relações amorosas, na espiritualidade e outros desdobramentos da prática amorosa. Considero esse livro como um verdadeiro manual do amor. Não aqueles manuais em que aprendemos a amar, mas aquele que nos dá ferramentas para conhecermos e refletirmos sobre o que é o amor e a força do seu impacto.

“A cura é um ato de comunhão”.

Que aprendamos a comungar o amor.

Para saber mais
Confira o podcast O amor por bell hooks, no Spotify.

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