DE, PARA OU COM?

Jacqueline Caixeta

As escolas, perdidas e desesperadas em busca de mais acertos do que erros nas relações com as famílias, buscam, incansavelmente, momentos de encontros.

Muito se fala em “Escola de Pais” ou “Escola para pais”, na intenção de contribuir com uma parceria para que a educação tenha mais sucesso em suas ações cotidianas e na formação de valores que ultrapassam os conhecimentos científicos próprios da escola. 

Estender às famílias oportunidades para que busquem ajudar na educação dos filhos e comunguem dos mesmos valores, exigidos pela escola para que as relações de aprendizado e respeito aconteçam harmonicamente, é um grande desafio.

Assim sendo, surgem as Escola de Pais ou Escola para Pais e, mesmo sendo ações carregadas de boas intenções, quase sempre fracassamos. Fracassamos porque simplesmente procuramos fazer algo que não atinge nosso objetivo, pelo simples fato de que escola não é de e nem para os pais, escola é para os filhos, e ensinar pais a serem pais é tarefa subjetiva demais e longe do alcance de algum sucesso, porque cada família, cada pai e cada mãe, traz com eles valores que se diferenciam, sejam por questões políticas, religiosas, culturais ou financeiras. O desejo de acertar, quando há tanta diversidade, nos leva a cometer ainda mais erros.

Ninguém consegue ensinar um pai ou uma mãe a parentalidade, isso é algo específico que passa por desejos e emoções, além de todos os aspectos citados acima. Ter um filho e buscar uma receita pronta em reuniões de escola não funciona. É surreal querer acreditar que o que funciona em uma casa, vai funcionar em outra. Ficamos, nós, escolas, com a tentativa fracassada de fazer escola de pais ou para os pais, batendo a cabeça na parede, nadando contra a maré e reclamando das famílias a falta de presença nos encontros.

O que fazer então? Já que precisamos que estes pais consigam “falar a mesma língua” da escola em questões específicas como regras, condutas, comportamentos e decisões? Se ensinar pais a serem pais, já sabemos que falimos, não devemos continuar tentando. 

A tão sonhada e falada escola de pais esbarra, quase sempre, na nossa impossibilidade em lidar com a diversidade com tantas realidades distintas. Mas o que fazer se precisamos que estes pais nos ajudem a acertar a mão na educação de seus filhos com questões comportamentais, sociais e emocionais?

O jeito é esquecer o de e o para e pensar no com.

Pensar em momentos formais e pontuais de formação, palestras e aulas para pais sem  primeiro conhecer bem tais pais é hipocrisia. Como posso propor uma formação para alguém que desconheço? O jeito é trazer esses pais para a escola, na medida do possível, dentro da rotina, do cotidiano e estreitar laços. Partilhar nossos anseios e colocar para eles de maneira clara e direta que, sempre que convocamos, é para falar dos filhos que são deles, porque nossos eles serão apenas alunos, que terão no máximo 14 anos juntos, se entrarem no maternal e saírem na 3ª série do Ensino Médio. No entanto, deles, eles serão eternos. Os valores que tentamos construir com os filhos deles devem interessar muito mais a eles do que a nós.

Fazer isso dentro de um cotidiano em que a escola demonstra preocupação, cumplicidade e afeto, traz os pais para a responsabilidade, faz com que eles percebam que o que queremos é resolver juntos questões que envolvem seus filhos e a vida deles além dos muros da escola, porque, na maioria das vezes, a necessidade de ter pais próximos diz muito mais da formação de caráter, responsabilidade, compromisso e valores para se viver bem em sociedade, do que conteúdos pedagógicos em si. Pais que estão dentro da escola de maneira mais informal acabam por ter um sentimento de pertença, não só do espaço, mas também das infinitas situações de conflitos. Perceber-se como alguém responsável pelo que está acontecendo é algo que, se convidado a ver a situação de fora, como um mero “aluno” de uma palestra, pouco efeito surgirá. Em palestra de formação para pais, eles vão ficar ouvindo e julgando, como se tudo aquilo não fosse algo produzido por seus filhos e, lógico, espelho, reflexo da pouca educação que recebem em casa. 

Infelizmente, é muito comum nessas escolas de pais, palestras maravilhosas falando sobre limites, em que o palestrante, de maneira educada e com o vocabulário próprio, esfrega na cara dos pais situações que seus filhos estão trazendo para a escola e, ao final da palestra, aplausos e elogios e todo mundo saindo de lá achando que isso acontece só com o filho do outro, que seu filho não é ou faz assim. A fala, por mais competente que seja nestes encontros de formação para pais, é vazia de significado, pelo simples fato de colocar aquele pai que precisa ouvir e agir sobre a educação de seu filho como mero espectador. Ele precisa ser convidado para estar na escola no cotidiano de seus dias de pura adrenalina para discutir, de maneira clara e pontual, o que seu filho anda aprontando. Isso é fazer com.

Podemos ter encontros, palestras para auxiliar na reflexão de várias situações? Lógico que sim, mas daí a achar que estamos formando pais como se fosse uma escola de pais ou para pais, não vai funcionar. Não vai funcionar porque eles sempre vão sair desses encontros achando que o palestrante falou para o outro e não para ele. A proximidade, transparência e seriedade, são fundamentais se queremos parceria de verdade e, para isso, é preciso ter os pais dentro da escola como verdadeiros parceiros.

Com afeto,

Jacqueline Caixeta

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