Ninguém estranha quando se diz que o salário do professor brasileiro é bem menor do que os de países desenvolvidos. Contudo, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) nos colocou diante de uma péssima realidade: os rendimentos dos professores, por aqui, estão abaixo de países como México, Colômbia e Costa Rica.
A questão que torna essa informação difícil de compreender é que naqueles países predominam características educacionais e socioeconômicas muito semelhantes às daqui.
O documento da OCDE intitulado Education at a Glance, por meio de estudo comparativo, mapeou os dados de 35 países, desde aqueles com economias desenvolvidas até aqueles com situação parecida com a nossa (PIB e Índice de Desenvolvimento Humano próximos ao do Brasil).
E o pior é que, em alguns casos, a diferença nem é tão pequena assim. Por aqui, o salário inicial de um professor da Educação Básica é equivalente a US$ 13 mil por ano. No país vizinho, Colômbia, um docente iniciante ganha US$14,2 mil por ano. No México, US$ 17,2 mil. Já na Costa Rica, US$ 24,2 mil, quase o dobro dos brasileiros. Tomando-se como referência os países desenvolvidos, o documento indica que o salário inicial gira em torno de US$ 30 mil anuais.
Mas não foi somente essa a desvantagem apresentada no documento. Por aqui também temos mais alunos por turma. Embora se evidencie uma redução nesse quantitativo (algo em torno de 8%), ainda vivenciamos salas muito cheias, numa média de 23 alunos nas séries iniciais do Ensino Fundamental e de 27 alunos nas séries finais. Na Costa Rica esse número é de 15 e 27, respectivamente.
Aponta também a OCDE que, nas séries iniciais, a quantidade de professores por uma turma é de um professor, enquanto que nas séries finais, a média é de dois professores por sala. Nos países da OCDE, o número é de 1,5 e 2, respectivamente.
Objetivamente temos uma situação em que estamos tendo menos tempo para dedicar às atividades de preparação de aulas e avaliações e piores condições para fazer o atendimento mais direcionado aos alunos que precisam de maior atenção.
Como se não bastassem esses fatores pesando contra a nossa condição de trabalho, ainda temos o menor salário. Ou seja, a valorização da carreira docente por aqui não tem significado muito mais que um inciso de artigo na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nem mesmo mais quem uma meta do Plano Nacional de Educação.
Contudo, finalizo a reflexão de hoje com uma informação intrigante trazida no mesmo documento. Segundo o estudo, a idade média dos professores é de 40 anos, enquanto nos países membros da OCDE esse número fica entre 44 e 45 anos. Além disso, o número de docentes perto de se aposentar é maior do que o número previsto de ingressos na carreira (Fundação Lemann). Isso significa que o Brasil precisa, com urgência, criar e aplicar mecanismos de retenção de profissionais indivíduos qualificados, levando a esses as melhores condições desenvolvimento profissional, a fim de que permaneçam na profissão.
Mais do slogans convidativos do tipo “seja você também um professor”, tão enfaticamente difundido por aqui, é preciso criar as condições objetivas de ingresso e permanência na docência. Fora disso, os relatórios vindouros não nos trarão informações mais animadoras que estas.