Bicentenário em foco e Brasil in loco

Aline de Morais Limeira

Há dois anos, exatamente em 07 de agosto de 2020, inauguramos esta coluna no Jornal Pensar a Educação, com um texto de apresentação produzido por mim (UFPB), Cíntia Borges de Almeida (UESC), Luciano Mendes de Faria Filho (UFMG) e Priscilla Nogueira Bahiense (UFMG). Naquela ocasião dissemos que “A mobilização das memórias e das histórias se fez tendo em vista, fundamentalmente, as disputas pelo presente” e que, em razão disso, seria necessário “dar uma visibilidade pública, cada vez maior, a essas disputas para criarmos condições de pensarmos e produzirmos “tempos presentes” mais plurais e democráticos”.

De frente para esse passado e essa história com duração de 25 meses, podemos afirmar que tratamos de encarar uma tarefa previamente dotada de inacabamento. Não demos conta de pôr fim ao debate proposto. Ele, de fato, não tem fim. Utilizamos esse canal como dispositivo para dar visibilidades mais amplas (que a própria academia e o universo científico) às reflexões promissoras que tem surgido em torno da problematização das diversas faces dessa efeméride, desse acontecimento que marca o Brasil, que produz, reforça e revê projetos de nacionalidade e de existências e liberdades para todos e todas nós.

In loco é uma expressão em latim, uma locução adverbial que significa “no lugar” ou “no próprio local”. E a Coluna BICENTENÁRIO EM FOCO se apropriou deste entendimento convocando diversos brasileiros e brasileiras para falar sobre o Brasil, para o Brasil. Foram publicados 96 artigos produzidos exclusivamente para a coluna, escritos por professores, professoras, alunos, alunas, pesquisadores, pesquisadoras de diversas instituições de ensino brasileiras. Suas abordagens, exploração de temáticas, usos de fontes, recortes temporais e geográficos foram variadíssimos, tendo sido possível refletir sobre diferentes perspectivas acerca da (des)construção histórica do processo de independência nacional, seus personagens, narrativas, marcos temporais. Assim, os nossos generosos/as colaboradores e colaboradas nos mobilizaram para pensar o nosso presente (e outros presentes na história) a fim de estranhar os encaminhamentos atuais atrelados às celebrações do Bicentenário da emancipação política do nosso país, denunciando ausências, presenças, silêncios, falas, dados, modos de celebrar em evidência no contexto atual.

Mais do que pensar o acontecimento do Sete de Setembro, esse marco simbólico de nossa nacionalidade que adquire status de feriado cívico nacional apenas no final da década de 1940, nos foram apresentadas reflexões acerca dos projetos de Brasil situados em vários presentes. Com isso, podemos (re)pensar acerca dos lugares e papeis que ocuparam e ocupam mulheres, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pessoas com deficiências, pessoas LGBTQIA+, alunos/as, professores/as, trabalhadores/as, analfabetos/as, imigrantes, pretos/as no debate e na construção de uma sociedade mais democrática, mais livre, mais igualitária. Repetimos que: não demos conta de pôr fim ao debate proposto. E considerando que a nossa própria independência é inacabada, cabe a nós o esforço de empreender e fazer uma nova independência acontecer.

Aos nossos colaboradores e colaboradoras: nosso muitíssimo obrigado pela parceria na realização desse projeto!

Aos nossos leitores e leituras: nossa satisfação em partilhar com vocês os 96 artigos aqui divulgados!

Sobre a autora
Editora da Coluna Bicentenário em Foco, Professora Adjunta da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), integrante do GHENO-UFPB (Grupo de Pesquisa História da Educação do Nordeste Oitocentista), vice-líder do NEPHE-UERJ (Núcleo de Ensino e Pesquisa em História da Educação.


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