Iriana Nunes Vezzani
Para quem pesquisa o século XIX o apito do trem acelera o coração. É um portal que permite acessar outro tempo: o tempo do outro!
Neste caso a estação em que desembarquei – ou talvez tenha embarcado! – foi a Exposição João Turin – Vida, Obra, Arte, no Museu Oscar Niemeyer em Curitiba, neste século mesmo. Com curadoria do historiador e crítico de arte José Teixeira Leite, estão expostas 130 esculturas de bronze produzidas pelo artista paranaense. Pensada pelo diretor de arte e cenógrafo Daniel Marques, que já nas escadas do salão nobre do MON, nos recebe com apito do trem e uma luz especial, nos preparando para uma experiência sensorial completa ao permitir que as obras fossem tocadas, sem pressa, sem receio.
Tão sensorial que motivou uma ação conjunta entre o Projeto Ver com as Mãos do Instituto Paranaense de Cegos e o Atelier João Turin a organizar uma visita guiada à exposição com a exigência que fosse uma visita sem exclusividade, para que outros visitantes percebam que o museu é um espaço para todos. Afinal, mais de 4 bilhões de pessoas em todo o mundo possuem algum problema de visão, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde. No Brasil, mais de 35 milhões de pessoas possuem algum tipo de deficiência visual, de acordo com o Censo de 2010 realizado pelo IBGE. Este projeto criado em Curitiba em 2013 e coordenado pela professora de arte Diele Pedrozo, oferece a jovens deficientes visuais a oportunidade de conhecer, apreciar e fazer arte além de capacitar outros profissionais para trabalhar na inclusão das pessoas deficientes visuais no mundo da Arte.
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Acredito que a formação da sensibilidade é o núcleo central e a chave de toda a educação artística. É preciso perceber o mundo como uma paisagem, fazer desvios dos caminhos habituais. Na busca por estes desvios – assim como a equipe coordenada pela professora de arte Diele Pedrozo-, o professor de práticas artísticas na escola CEI Augusto Cesar Sandino, João Paulo Souza Silva (são-paulino, escorpiano, pai do Emanuel e do André) contribui para derrubar a velha e falsa ideia de que o mundo da arte é hermeticamente fechado. Seu embate é diário e direto contra a fala recorrente na sala dos professores : “Para que serve a arte? As crianças precisam aprender a ler, escrever e fazer contas”. Esta noção cristalizada de que Educação Artística é uma disciplina menor, é reflexo de um desdobramento da Lei 5692/71, que a destituí de seu caráter de disciplina e passando a “atividade”, com a redação do Parecer nº540/77: “não é uma matéria, mas uma área bastante generosa e sem contornos fixos, flutuando ao sabor das tendências e dos interesses.”
Já é passada a hora de compreender que é precisamos da educação artística, como mediadora na construção da sensibilidade, da inspiração e de uma visão ampliada, só assim será possível fazer brotar em nossos jovens uma peculiar espécie de aptidão que é a aptidão emocional, de experimentar no contato com um objeto, com uma forma ou uma obra, um tipo especial de emoção, chamado prazer estético.
Ouço o apito do trem. Quem mais embarca nesta estação?
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