Não se espante, se encante…

Jacqueline Caixeta

A adolescência é marcada por muitos desafios, e isso torna os adolescentes seres, muitas vezes, temidos por pais e professores. É bem comum ouvir de algum pai a seguinte frase: “Nossa, se eu soubesse que ter filho adolescente fosse tão difícil, não teria reclamado das noites em claro com meu bebê”, ou “Meu Deus, filho criado, trabalho dobrado”, ou, “Ter adolescente em casa é ter uma bomba relógio a explodir a qualquer momento!”. Enfim, os pais que experimentam a parentalidade de adolescentes se assustam e enlouquecem com tantos desafios, tantos medos, tantas dúvidas de até onde permitir e até onde proibir. São conflitos comuns e até necessários.

Os professores, por sua vez, pisam nas salas de aulas dos adolescentes e se sentem em um campo minado e  desconhecido. Por mais que os cursos de formação tenham lhes falado sobre a psicologia na adolescência, a prática e as diversas adolescências são extremamente desafiadoras e assustam, principalmente os que estão iniciando a jornada em sala de aula.

E os adolescentes, bem, esses são tudo que falam sobre eles. São impetuosos, desafiadores, testam pais e professores e pedem limite o tempo todo, são atrevidos, ousados, respondões, egoístas, exagerados em seus sentimentos e nas demonstrações dos mesmos, são uma máquina de provocar discussões e adoram, como bem dizem, uma “treta”.

Lidar com a adolescência, ainda mais em grupos, como o caso das salas de aula, por exemplo, exige muito conhecimento e muita, mas muita, muita paciência, além, claro, de bom humor e senso de justiça. Sim, senso de justiça, porque o adolescente que se preze não aceita injustiças, eles ficam o tempo todo medindo palavras e ações dos adultos para buscar se estão sendo lesados em seus direitos. Tá certo que muitas vezes esquecem dos seus deveres, mas se seus direitos não estão sendo respeitados, lá vem briga.

Bem, está claro que a convivência com adolescentes é extremamente delicada, no entanto, contudo, porém, todavia, tem lá seus encantos e é deles que quero falar.

Meus olhos brilham quando sinto que um grupo de adolescentes está discutindo questões sociais, ambientais, políticas, religiosas, emocionais com aquela garra, determinação e conhecimento  de quem já fez mestrado e doutorado! Quando eles partem para discussões polêmicas e difíceis com bons argumentos, me encanto. Me encanto tanto que meu espanto mediante a todas as afrontas deles desaparece num passe de mágicas.

Quando um adolescente toma a fala para representar seu grupo, pautado de conhecimento, bem fundamentado e principalmente com uma fala respeitosa e empática, me encanto. Me encanto tanto que esqueço dos seus arroubos juvenis que   resultaram em gritos e brigas.

Quando um grupo de adolescentes consegue tirar de um professor uma reflexão que ele nunca  pensou em ter ou fazer com aqueles alunos, por achar que eles não teriam a tal da maturidade, me encanto. Me encanto tanto que relevo as vezes em que eles atropelaram nossa fala  na ânsia de se fazerem ouvir.

Ah, quando esses adolescentes sabem se colocar, mesmo tendo todos os hormônios borbulhando e levando-os a extrapolarem o tom de voz, mesmo com aquela pressa em resolver do jeito deles, no tempo deles, quando eles sabem se colocar com criticidade, sensibilidade e a maturidade de quem ainda não viveu tudo, mas sabe que pode dizer tudo, me encanto. Me encanto e aprendo com eles como ser inteligente e sensível, como ser calmo, movido à necessidade do outro, como ser ousado e determinado.

O adolescente, eterno em sua bipolaridade, ora calmo e manso, ora trovão, tempestade, tem seus encantos e eles precisam ser descobertos por nós. Precisamos dar voz à adolescência, mas também precisamos dar ouvidos atentos para escutá-los. Muito reclamamos deles, e aí falo de pais e de escolas, mas quando é que realmente paramos para ouvir seus anseios? Falamos que eles não sabem escutar, não sabem falar, vão logo gritando e colocando seus desejos como uma ordem, mas alguém lhes ensinou a ser e fazer diferente? São egoístas e não têm empatia, mas somos, de fato, empáticos com eles? Será que o medo do confronto é tão grande que preferimos nos retirar das discussões e mandar que calem a boca? Ou será que, muitas vezes, nos retiramos das discussões pelo simples fato de não termos argumentos sólidos, justos e compatíveis com a sensibilidade e inteligência deles?

Esta é uma reflexão que quero trazer para todos que lidam com adolescentes. Nós, adultos, muitas vezes não percebemos o quanto eles são geniais, bem humorados, críticos, solidários, legais, divertidos. Insistimos em apontar seus defeitos e tudo que nos incomoda, mas não paramos para descobrir que podemos lhes ensinar a ser melhores, que podemos aprender com eles a sermos melhores. Todos possuem a delícia de ser o que são, simples assim.

Que o medo em lidar com a adolescência não cale em nós a coragem de ir, com eles, desvendando a vida e seus encantos com a mesma intensidade com que vivem suas emoções. Que possamos aprender a nos divertir com os adolescentes muito mais do que brigar com eles. Que tenhamos pausa para respirar e olhar o quanto é divertida e irreverente a adolescência e nos descansar de nossos medos em suas coragens.

Que possamos nos espantar menos e nos encantar mais com nossos lindos adolescentes.

Com afeto,

Jacqueline Caixeta

1 comentário em “Não se espante, se encante…”

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