Jornalismo Educacional para quê?

Matheus A. de Araújo

Nos últimos 6 anos, o que se vê no Brasil é uma tentativa de desmonte da educação pública com o nome de “cortes de gastos”. Com isso, as discussões sobre educação devem estar no centro da sociedade. Então, a questão que surge é: “como refletir e fomentar essas discussões?”. Aqui, a figura do(a) jornalista especializado(a) em educação entra como uma figura central desse processo.

Nas teorias do jornalismo, existe a ideia do Agendamento, proposta por Maxwell McCombs e Donald Shaw, que parte do princípio que as pessoas consideram como mais importantes os assuntos que têm mais destaque na cobertura jornalística. Nesse sentido, a mídia não teria necessariamente o papel de ditar o que as pessoas pensam sobre um determinado assunto, mas sim sobre quais assuntos as pessoas vão falar e refletir sobre. O jornalismo é um campo cuja essência trabalha com o interesse público, dessa maneira, é papel do jornalista buscar o debate plural e expor a diversidade  de conflitos presentes na sociedade, tudo isso enriquece o debate em educação, visto que esse processo ajuda a democratizar o acesso à informação e a comunicação entre pesquisadores e sociedade deixa de ser unilateral e vertical, ajudando a desestigmatizar a visão que se tem da academia.   

Mas o que faz um Jornalista Educacional?

O(a) profissional da área tem a responsabilidade de pautar e cobrir acontecimentos dos mais diversos campos da educação, seja em eventos como, greves, manifestações de alunos ou de professores, o cotidiano das escolas e universidades. Em relação às diversas discussões que podem ser trazidas pelo(a) jornalista, talvez umas das mais importantes seja a de discutir, pesquisar e criticar as políticas públicas na área. Há diversas maneiras as quais os(as profissionais podem abordar esse assunto, em geral, o(a) jornalista no que lhe concerne, deve buscar entender os diversos agentes que podem influenciar o planejamento dessas políticas e levar para a esfera pública a discussão sobre o que está por trás da implantação de determinadas ações em detrimento de outras e como elas podem afetar o dia a dia das escolas. 

Ao entender esses diversos interesses e tensões que podem interferir na implantação dessas políticas, o(a) jornalista pode ter um distanciamento e observar essas ações a partir de perspectivas diferentes. Uma das grandes referências da área, é a Jornalista Marta Avancini, que também é editora do Jeduca (Associação dos Jornalistas de Educação), em uma mesa no congresso Bett Educa, em 2017, ela discutiu como o jornalismo e a mídia colaboram com quatro pontos essenciais para a elaboração de políticas públicas: ela pode agendar, enquadrar e construir as informações e entender o controle social possível que vem a partir disso.

Se por um lado, a educação vive um momento crise e diversos desafios sob a gestão do atual governo, os profissionais do jornalismo de educação também enfrentam uma série de desafios em sua atuação. O primeiro desafio se dá na formação, pois, não se tem um ensino específico para essa área específica, dessa maneira, o(a) próprio jornalista tem que construir sua formação durante  sua atuação. 

Outro ponto a ser destacado da cobertura é o grande teor ideológico e maneira combativa de lidar com a imprensa presentes nas últimas gestões do Ministérios da Educação (MEC), o que dificulta a apuração de informações, não existe um debate quando um dos lados não está disposto a isso. 

Um terceiro desafio seria o da relação entre jornalista e jornal, os jornais são espaços onde o interesse público pode entrar em conflito com os interesses comerciais, uma vez que essas instituições também precisam se sustentar, assim, o profissional também tem que lidar como esses interesses podem atuar sobre suas pautas, no sentido de como as editorias do Jornal são geridas, são pensadas e organizadas, tudo isso muda em quem, quando e como esses debates chegarão até a esfera pública. Muito se fala do Jornalismo educacional ligado apenas às editorias de Educação, no entanto, muito se perde em não abordar a pauta de educação ligada a outras Editorias vistas com mais prestígio dentro da profissão, como Direitos Humanos ou Economia. 

Essa integração maior enriqueceria o debate e ajudaria as pessoas a terem uma visão melhor de como o debate em Educação vai além da educação em si e facilitaria no entendimento de como essa conversa afeta todo um sistema. O(a) jornalista possui um papel fundamental em pautar e qualificar o debate público sobre educação, a cobertura e a fiscalização crítica dos órgãos públicos que pensam as leis, o conhecimento do contexto social  e do cotidiano das escolas, junto com a visão do que se produz academicamente sobre o tema, pode contribuir a implementação e cumprimento de políticas públicas mais diversas e para todos. E esse é um dos pontos em que o fazer jornalístico faz sentido.

 

1 – Membro da Equipe Pensar a Educação, Pensar o Brasil. Graduando em jornalismo pela UFMG.

 

Para Saber Mais:

McCombs, Maxwell. Shaw, Donald. Teoria da agenda: A mídia e a opinião pública. 2009.


Imagem de Destaque: Frans Van Heerden/Pexels

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