“Esses boy conhece Marx. Nós conhece a fome”: uma reflexão sobre o movimento estudantil contemporâneo

Alexandra Lima da Silva

Há 15 anos atuo como docente em instituições de Ensino Superior.  Reconheço que o movimento estudantil mudou muito em relação aos tempos em que eu era estudante em uma universidade federal. Naquele tempo, início da década de 2000, eu não me sentia pertencente àquele espaço. O “Corre” de ser estudante negra, pobre e periférica não me permitia usufruir de espaços tão fundamentais para a sociabilidade estudantil. 

Frequentei pouco o Bandejão da universidade. Eu simplesmente não tinha tempo para usufruir de 1 hora de almoço. Eu também não tinha condições de participar das inúmeras atividades do movimento estudantil. Mas eu, estudante pobre e filha de mãe solo e trabalhadora, reconhecia a importância daquela luta. Mas naquele tempo, eu também achava o movimento “branco demais”. “ Masculino demais”. “Hétero demais”. Não tinha morador do meu CEP naquele movimento também.  Ainda assim, eu reconhecia a importância daquela luta. 

Hoje, docente em uma universidade pública que forjou para si uma imagem de ser “popular” e “pioneira”  no sistema de cotas, me alegra ver que o movimento estudantil mudou. Hoje ele é composto de pessoas negras, mulheres, pessoas trans, pessoas com deficiência. São os filhos e filhas das classes trabalhadoras, as primeiras gerações de suas famílias, que lutam para permanecer na universidade e não serem as últimas. Sim, tão importante quanto ser o primeiro de uma família a entrar para uma universidade, é importante defender o direito das próximas gerações também ocupar aquele espaço, e se sentirem acolhidas e pertencentes naquela estrutura que não foi pensada para nós. 

Vejo que muitas das pautas do movimento estudantil contemporâneo partem de uma perspectiva interseccional, considerando aspectos como classe, raça e gênero no enfrentamento das desigualdades e injustiças sociais.

A luta desta geração de estudantes é assegurar o direito de serem exclusivamente estudantes, porque sim, também a universidade pública é lugar de reparação e de promoção de justiça social. Afinal, o lema dessa geração que luta para existir não é lacrar. Quando eu sento e escuto o que eles tem para me dizer, o que eu escuto é: “jamais volte pra sua quebrada de mão e mente vazias”. 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *