Este deveria ser um texto de despedida deste malfadado ano de 2017. Ano ruim para todos, em todos os segmentos. Sabemos que o pacote de maldades, do município à União, é grande e mesmo assim, eu esperava fazer um artigo otimista. Lutamos muito e barramos muita coisa ruim que vinha e ainda vem por aí. Essa luta cotidiana que devemos louvar como Gilberto Gil louvou em 1967, “louvando o que bem merece, deixando o que é ruim de lado”.
Eu estava indo bem, otimista, feliz com a nossa luta e pensando como 2018 tende a ser melhor, não com menos luta, mas melhor! E justo nessa semana a equipe da EJA da Secretaria Municipal de Educação resolve, em grupo, demitir-se do governo Kalil. O gerente, professor Luiz Fernando, e sua equipe colocaram as suas razões para deixar a tarefa de reorganizar a EJA em Belo Horizonte. Conheço a equipe, porém como estou em sala de aula, meu contato era esporádico, algumas reuniões e encontros, mas percebi e louvo o esforço que fizeram para ouvir os professores nessa tentativa. Um ano de esforço e tempo que nossa Secretária de Educaçao jogou fora. Ainda não sabemos as suas razões.
Mas, antes dessa surpresa – a exoneração da equipe – tivemos outra. Ouvi das diretoras que perguntaram: como fica o quadro de professores da EJA? Não fica. Praticamente foi essa a resposta. Um ofício da secretária liquidou a fatura e corremos o risco de sermos liquidados em 2018. Vai ter Educação de Jovens e Adultos em Belo Horizonte, no ano de 2018? Não sei. Se tiver não terá a magnitude nem a dignidade necessária a uma proposta educacional.
Abriu-se, com tímida propaganda e acesso pela internet, o cadastro dos jovens e adultos, maiores de 15 anos de idade que ainda não concluíram o ensino fundamental. Esqueceram-se que quem mais precisa de escola está na periferia da periferia, não tem computador, invariavelmente precisa de muita ajuda para fazer o acesso e precisa ser conduzido. Conduzido a uma escola real, ter contato com pessoas da escola, ver a escola para se deixar seduzir por ela. Essa mania de tentar resolver tudo pela internet, em geral, distancia as pessoas. Nem toda estratégia via internet significa rapidez e proximidade. O estudante da EJA precisa ser acolhido com calor, com conversa, com alegria.
Não bastasse tudo isso, vem a segunda parte. Se houver cadastro suficiente para determinada escola, ali então haverá educação de adultos. Qual escola? Não sabemos. Caso contrário, tenham certeza, os estudantes serão encaminhados para outra escola. Quererão ir para uma escola distante de seus desejos? Na outra ponta, os professores e professoras da EJA ainda não sabem se continuarão professores e professoras da EJA em suas atuais escolas. Em fevereiro de 2018 ficaremos sabendo. Se tivermos estudantes para nossas escolas continuaremos nossa tarefa de educar jovens e adultos. Caso contrário, você se torna um “excedente”.
Como “excedente” você entra numa fila de transferência que pode estar na EJA ou não. Estar à noite ou não. Signifca que ficaremos paralisados até fevereiro de 2018, esperando para ver se a estratégia de atração do público imaginada pela Secretaria de Educação dará certo. Torcendo. Em suma, “excedente” não tira férias, fica em suspenso. Aguardando. Torcendo. Sem saber para onde irá em 2018. Sem saber o que esperar da Educação de Jovens e Adultos em Belo Horizonte.