CL – Nº 65 – 07/11/2014

Informativo semanal do projeto “Pensar a Educação, Pensar o Brasil – 1822/2022”

Ano II – Edição 065 / sexta-feira, 07 de novembro de 2014

Convite à Leitura

Walter Omar Kohan

É tão bom poder escrever um texto convidando a ler…é tão estimulante, gratificante, educativo, sentir que estou sendo lido para propiciar leitura, leituras… é tanta emoção que quase não sei por onde começar, tantos livros gostaria de convidar a ler…vamos ver…a filosofia não tem boa fama… os filósofos são vistos como pessoas raras, abstratas, que escrevem numa língua difícil, não facilmente acessível para a imensa maioria dos mortais, muito menos para “simples” educadores… a fama tem suas razões de ser e muitos filósofos a honram, parecem realmente fazer questão de escrever difícil…mas também há muitos outros que, longe disso, fazem um culto a uma escrita clara, aberta, acessível para qualquer um. E fazem da escrita um culto à beleza.

Dentre muitos outros, quero me deter em Platão. Platão é praticamente o primeiro filósofo que recebemos por escrito. Dos pré-socráticos só conhecemos fragmentos e Sócrates não escreveu.  De modo que, de alguma forma, Platão inventou a escrita da filosofia e o fez através de diálogos. Nunca mais, até hoje, a filosofia foi tão dialógica. Seus textos costumam ser agrupados em três períodos: os da juventude, os da maturidade e os da velhice. Os de maturidade são aqueles em que Platão mais propriamente colocou suas ideias, geralmente, na boca da personagem Sócrates, que responde às perguntas dos outros. Nos diálogos de velhice há uma volta sobre suas ideias ao colocá-las em questão. Os de juventude são os mais próximos de Sócrates, o mestre de Platão. Ali Sócrates ocupa um lugar principal e eles não são conclusivos, costumam colocar questões e maneiras alternativas de pensá-las, sem chegar a nenhuma conclusão em particular. Eles mostram o próprio movimento do pensamento, sendo gerado na interlocução entre parceiros que buscam em comum pensar questões relevantes de suas vidas. 

Há quatro desses diálogos que giram em torno da temática da morte de Sócrates: o Eutífron, onde ele vai aos tribunais para pegar a acusação contra ele; a Apologia de Sócrates, o único que é quase monológico, onde se defende das acusações; o Críto, onde conversa com seu amigo que quer convencê-lo para que fuga da prisão; e finalmente, o Fédon, onde Sócrates conversa pela última vez com seus amigos antes de beber a cicuta e cumprir a sentença que recebeu de seus concidadãos.

Quem quiser entender e pensar com Sócrates, nada melhor que ler diretamente esses diálogos. Nos outros diálogos de Platão ele conversa com diversos interlocutores e geralmente consegue que eles percebam que não sabem o que pensavam saber. Ou seja, os que conversam com Sócrates desaprendem o que sabiam: eis o movimento da filosofia magistralmente escrito por Platão.

Em muitos dos diálogos, a questão de fundo, principal, é a educação. Nisso, Platão e Sócrates concordavam: a crise política de Atenas tem por base a forma deficitária com que a cidade educa seus jovens: os problemas da cidade não serão resolvidos até mudar a forma com que ela educa as novas gerações. Por exemplo, no Laques, Sócrates conversa com Laques e Nícias sobre a forma e as condições requeridas para ser educador; no Alcibíades, Sócrates mostra ao jovem Alcibíades como alguém que não aprendeu a cuidar de si mesmo é incapaz de cuidar dos outros, ou seja, de ser um político. No Lísis, Sócrates conversa com jovens sobre a philía, palavra grega de difícil tradução, que significa algo entre a amizade e o amor.

 Enfim, não há diálogo de Platão que não mereça ser lido. É verdade, há que buscar bem as boas traduções. Na Editora da Universidade Federal do Pará há uma edição completa dos Diálogos em português. Há também edições individuais de muitos diálogos em outros editoras do Brasil e de Portugal.

 Sugiro alguns cuidados: só ler traduções diretas do grego. Um critério que pode ajudar é ver se nas margens do texto traduzido tem uma indicação de números e letras que remetem à edição canônica que seguem todas as traduções sérias.

 Devo parar por aqui. Se você, querido leitor, depois de ler estas palavras sai entusiasmado (palavra que significa “com o deus dentro”) para ler os diálogos que nasceram com a filosofia, minha alegria será infinita.

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